A biblioteca jurídica
Na semana passada, escrevi aqui sobre a Maughan Library, a belíssima
biblioteca do King’s College London – KCL (uma das nove bibliotecas
desse “university college”), que está convenientemente localizada na
Chancery Lane, afamada rua da “Legal London”.
Hoje vou tratar da maior e mais importante biblioteca de direito do
Reino Unido: a Biblioteca do Instituto de Estudos Jurídicos Avançados
(“Institute of Advanced Legal Studies Library”, é o nome oficial) da
Universidade de Londres (http://ials.sas.ac.uk/library/library.asp), que
também se acha convenientemente situada, tanto para quem dela faz uso
constante (o pesquisador, o estudante ou o “prático” do direito) como
para o turista interessado nesse tido de “atração”, no número 17 da
Russell Square (Charles Clore House), no charmoso bairro de Bloomsbury,
no centro de Londres.
Mas, antes de tratar da biblioteca propriamente dita, vão duas
observações sobre a Universidade de Londres e o seu Instituto de Estudos
Jurídicos Avançados. Em primeiro lugar, ao contrário do que muitos
pensam, a denominada “University of London”, fundada em 1836, não é uma
universidade nos mesmos moldes das que temos no Brasil, mas, sim, uma
“federação de universidades”, composta por dezessete “colleges”
autogovernados e mais nove institutos de pesquisa especializados, que se
“uniram”, para determinados fins, no afã de melhor desempenhar seus
misteres. Dentre as “universidades/colleges” que compõem a Universidade
de Londres estão, por exemplo, gigantes do ensino acadêmico como o
University College London – UCL e o King’s College London – KCL, que são
as universidades fundadoras da “University of London”, e a
respeitadíssima London School of Economics and Political Science – LSE.
Já o Instituto de Estudos Jurídicos Avançados (“Institute of Advanced
Legal Studies”), fundado em 1947, é um dos institutos da “School of
Advanced Study” da Universidade de Londres (também, por sua vez, uma
“federação” de institutos de pesquisa fundada, dentro da Universidade,
em 1994), todos vocacionados às ciências humanas, que têm como objetivo
promover, nacional e internacionalmente, em apoio a diversas outras
instituições (por exemplo, os “colleges” da Universidade de Londres, as
demais universidades do Reino Unido e por aí vai), com fundos
especialmente designados para tanto, o estudo e a pesquisa (com
mestrados e doutorados de reconhecida qualidade) nas suas respectivas
áreas de concentração.
A Biblioteca do Instituto de Estudos Jurídicos Avançados da
Universidade de Londres é – e isso é muito importante – depósito legal
para livros jurídicos no Reino Unido. Segundo o seu próprio site
informa, ela tem em acervo bem mais de 300 mil volumes autônomos,
relacionados aos inúmeros ramos do direito e às ciências afins
(transdisciplinarmente), que se juntam a alguns milhares de títulos de
revistas e periódicos dos mais diversos tipos. Em muitos ramos do
direito, notadamente em direito internacional e em direito comparado,
suas coleções são as maiores do Reino Unido, com obras que, nas terras
da Rainha, apenas ali são encontradas. Some-se a isso o acesso (com
cursos especialmente designados para tanto) que os membros/usuários da
Biblioteca do Instituto de Estudos Jurídicos Avançados têm,
gratuitamente, às mais badaladas ferramentas de informática da
atualidade, como é o caso do Westlaw e do LexisNexis, que em regra são
pagos e bem caros, para consulta do “case law” e da legislação do Reino
Unido e de outros países, de revistas jurídicas com artigos e
comentários, de notícias do mundo jurídico, entre outras coisitas mais.
Para dar cabo dessa empresa, o prédio da Biblioteca do Instituto de
Estudos Jurídicos Avançados, de concreto aparente, mais largo do que
alto, é enorme. Se não estou enganado, além dos (andares) destinados à
administração e às demais funções do Instituto, são pelo menos cinco
andares, em forma retangular, cada qual com muitíssimos metros quadrados
de área, tomados quase exclusivamente por estantes e mais estantes, com
livros e periódicos nas mais diversas línguas, além, claro, do inglês,
ao mesmo tempo idioma oficial e língua franca por ali. E tudo é muito
amplo, funcional e agradável. Em alguns andares (os que não estão no
subsolo, evidentemente), chamam a atenção as janelas de vidro, enormes,
que dão uma sensação gostosa de liberdade e, sobretudo, de comunhão com a
vida que passa, sem nos dar muita trela, pela cidade. Auditórios,
grandes e pequenos, assim como salas de aulas, não faltam por ali.
Também há laboratórios com computadores para atividades específicas. As
salas de estudo estão espalhadas pelo prédio, assim com há, em meio às
estantes dos livros, vários nichos, alguns com computadores, para
pesquisa e elaboração imediata dos textos desenvolvidos. Os melhores
nichos, claro, são os que ficam bem próximos as janelas, já que
iluminados pela luz colorida de Londres.
Toda essa estrutura, voltada para a pesquisa de alta qualidade, tem
servido preferencialmente à comunidade acadêmica, sobretudo a do Reino
Unido e dos países de língua inglesa. Mas está aberta também a outros
setores da inteligência jurídica, incluindo aqueles que lidam com o dia a
dia do direito, como é o caso de juízes, promotores e advogados
praticantes. Que tal, caro leitor, tornar-se membro do Instituto de
Estudos Jurídicos Avançados para uma temporada de estudos? Os
formulários de aplicação estão disponíveis no sítio do Instituto. É ir
lá, preencher e pleitear.
Mas se, como turista de ocasião em Londres, não for esse o seu
objetivo, também vale a pena dar só uma espiadela na “Biblioteca
Jurídica” da Russell Square, já que aquela região londrina é
interessantíssima. Ora, a Russell Square, em si, é uma praça belíssima.
Os principais prédios da Universidade de Londres, como a Senate House e o
campus do University College London – UCL, ficam por ali. Há inúmeras
livrarias/sebos nas redondezas, como London Review of Books
(charmosíssima), a Waterstones da Gower Street (uma gigante servindo aos
professores e estudantes da Universidade de Londres) e o Scoob Books
(pelo que sei, o maior sebo de Londres). A British Library fica a
algumas quadras ao norte; o British Museum, a poucas quadras ao sul.
Então, vale ou não vale pena?
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP |
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