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30/08/2016


   
Marcelo Alves

 

A biblioteca jurídica

Na semana passada, escrevi aqui sobre a Maughan Library, a belíssima biblioteca do King’s College London – KCL (uma das nove bibliotecas desse “university college”), que está convenientemente localizada na Chancery Lane, afamada rua da “Legal London”. 

Hoje vou tratar da maior e mais importante biblioteca de direito do Reino Unido: a Biblioteca do Instituto de Estudos Jurídicos Avançados (“Institute of Advanced Legal Studies Library”, é o nome oficial) da Universidade de Londres (http://ials.sas.ac.uk/library/library.asp), que também se acha convenientemente situada, tanto para quem dela faz uso constante (o pesquisador, o estudante ou o “prático” do direito) como para o turista interessado nesse tido de “atração”, no número 17 da Russell Square (Charles Clore House), no charmoso bairro de Bloomsbury, no centro de Londres. 

Mas, antes de tratar da biblioteca propriamente dita, vão duas observações sobre a Universidade de Londres e o seu Instituto de Estudos Jurídicos Avançados. Em primeiro lugar, ao contrário do que muitos pensam, a denominada “University of London”, fundada em 1836, não é uma universidade nos mesmos moldes das que temos no Brasil, mas, sim, uma “federação de universidades”, composta por dezessete “colleges” autogovernados e mais nove institutos de pesquisa especializados, que se “uniram”, para determinados fins, no afã de melhor desempenhar seus misteres. Dentre as “universidades/colleges” que compõem a Universidade de Londres estão, por exemplo, gigantes do ensino acadêmico como o University College London – UCL e o King’s College London – KCL, que são as universidades fundadoras da “University of London”, e a respeitadíssima London School of Economics and Political Science – LSE. Já o Instituto de Estudos Jurídicos Avançados (“Institute of Advanced Legal Studies”), fundado em 1947, é um dos institutos da “School of Advanced Study” da Universidade de Londres (também, por sua vez, uma “federação” de institutos de pesquisa fundada, dentro da Universidade, em 1994), todos vocacionados às ciências humanas, que têm como objetivo promover, nacional e internacionalmente, em apoio a diversas outras instituições (por exemplo, os “colleges” da Universidade de Londres, as demais universidades do Reino Unido e por aí vai), com fundos especialmente designados para tanto, o estudo e a pesquisa (com mestrados e doutorados de reconhecida qualidade) nas suas respectivas áreas de concentração. 

A Biblioteca do Instituto de Estudos Jurídicos Avançados da Universidade de Londres é – e isso é muito importante – depósito legal para livros jurídicos no Reino Unido. Segundo o seu próprio site informa, ela tem em acervo bem mais de 300 mil volumes autônomos, relacionados aos inúmeros ramos do direito e às ciências afins (transdisciplinarmente), que se juntam a alguns milhares de títulos de revistas e periódicos dos mais diversos tipos. Em muitos ramos do direito, notadamente em direito internacional e em direito comparado, suas coleções são as maiores do Reino Unido, com obras que, nas terras da Rainha, apenas ali são encontradas. Some-se a isso o acesso (com cursos especialmente designados para tanto) que os membros/usuários da Biblioteca do Instituto de Estudos Jurídicos Avançados têm, gratuitamente, às mais badaladas ferramentas de informática da atualidade, como é o caso do Westlaw e do LexisNexis, que em regra são pagos e bem caros, para consulta do “case law” e da legislação do Reino Unido e de outros países, de revistas jurídicas com artigos e comentários, de notícias do mundo jurídico, entre outras coisitas mais. 

Para dar cabo dessa empresa, o prédio da Biblioteca do Instituto de Estudos Jurídicos Avançados, de concreto aparente, mais largo do que alto, é enorme. Se não estou enganado, além dos (andares) destinados à administração e às demais funções do Instituto, são pelo menos cinco andares, em forma retangular, cada qual com muitíssimos metros quadrados de área, tomados quase exclusivamente por estantes e mais estantes, com livros e periódicos nas mais diversas línguas, além, claro, do inglês, ao mesmo tempo idioma oficial e língua franca por ali. E tudo é muito amplo, funcional e agradável. Em alguns andares (os que não estão no subsolo, evidentemente), chamam a atenção as janelas de vidro, enormes, que dão uma sensação gostosa de liberdade e, sobretudo, de comunhão com a vida que passa, sem nos dar muita trela, pela cidade. Auditórios, grandes e pequenos, assim como salas de aulas, não faltam por ali. Também há laboratórios com computadores para atividades específicas. As salas de estudo estão espalhadas pelo prédio, assim com há, em meio às estantes dos livros, vários nichos, alguns com computadores, para pesquisa e elaboração imediata dos textos desenvolvidos. Os melhores nichos, claro, são os que ficam bem próximos as janelas, já que iluminados pela luz colorida de Londres. 

Toda essa estrutura, voltada para a pesquisa de alta qualidade, tem servido preferencialmente à comunidade acadêmica, sobretudo a do Reino Unido e dos países de língua inglesa. Mas está aberta também a outros setores da inteligência jurídica, incluindo aqueles que lidam com o dia a dia do direito, como é o caso de juízes, promotores e advogados praticantes. Que tal, caro leitor, tornar-se membro do Instituto de Estudos Jurídicos Avançados para uma temporada de estudos? Os formulários de aplicação estão disponíveis no sítio do Instituto. É ir lá, preencher e pleitear. 

Mas se, como turista de ocasião em Londres, não for esse o seu objetivo, também vale a pena dar só uma espiadela na “Biblioteca Jurídica” da Russell Square, já que aquela região londrina é interessantíssima. Ora, a Russell Square, em si, é uma praça belíssima. Os principais prédios da Universidade de Londres, como a Senate House e o campus do University College London – UCL, ficam por ali. Há inúmeras livrarias/sebos nas redondezas, como London Review of Books (charmosíssima), a Waterstones da Gower Street (uma gigante servindo aos professores e estudantes da Universidade de Londres) e o Scoob Books (pelo que sei, o maior sebo de Londres). A British Library fica a algumas quadras ao norte; o British Museum, a poucas quadras ao sul. Então, vale ou não vale pena? 

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

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