6 maio 2016CENAS DO CAMINHO - Violante Pimentel
O CAMELO
Quatro
amigos caminhavam em silêncio por uma
estrada, amargando a dor do
desemprego. Todos tinham
sido mandados embora, por terem contrariado o
soberano a quem, há anos, serviam.
Estavam completamente decepcionados,
sem saber
o rumo que iriam tomar na vida. Aproximou-se deles
um homem
muito aflito, que perguntou:
–
Os senhores viram um camelo, perdido pela estrada?
Esse animal me
pertence, e desapareceu de repente,
sem eu saber o caminho por onde
seguiu.
Um dos desempregados perguntou:
– O camelo que o senhor procura enxerga direito ou é cego de um olho?
– Ele é cego de um olho. – respondeu o dono.
– Ele é manco? É aleijado? – perguntou o segundo desempregado.
– É manco, sim! Vocês o viram?
Ele tem a cauda curta? – perguntou o terceiro.
– Sim, ele tem a cauda curta! Vocês o viram?
– Seu animal sofre do estômago? – perguntou o
quarto desempregado.
O dono do animal respondeu:
– Sim. O meu camelo sofre do estômago! Então, com
toda certeza, os senhores o viram!
– Não! Nós não o vimos! – protestaram os quatro homens.
Em seguida, todos se calaram e continuaram a caminhada.
Irritado, o dono do animal perguntava a si mesmo:
– Como é que esses homens conhecem os defeitos do
meu camelo? Tenho certeza de que eles são ladrões
e o esconderam.
E foi prestar queixa ao delegado que,
imediatamente, mandou prendê-los.
Muito nervosos, os quatro homens foram interrogados,
na frente do dono do animal:
“Este homem acusa vocês de terem roubado o seu camelo.” Disse o delegado.
Os quatro negaram o fato, mostrando-se indignados
com a injusta acusação.
O delegado, então, perguntou:
–
Como é que vocês dizem que nunca viram esse animal
e ao mesmo tempo
sabem que ele é cego de um
olho, manco, tem a cauda curta e é doente do
estômago?
Então, um deles respondeu:
– Como somente as folhas de um lado da estrada
estão comidas, tenho certeza de que o animal é cego
de um olho.
Disse o segundo homem:
– Pelas pegadas na estrada, vi logo que se trata de um animal manco.
Disse o terceiro:
– Como há algumas manchas de sangue na estrada,
entendi que o animal tem a cauda tão curta, que não
pode espantar os mosquitos.
Finalmente, o quarto desempregado falou:
–
Eu vi que as marcas das patas dianteiras do animal são
bem mais fundas
do que as marcas das patas traseiras.
Isso quer dizer que ele anda
inclinado para a frente,
como andam os animais doentes do estômago.
O
delegado ficou impressionado com as respostas
dos interrogados e viu
que estava diante de
homens decentes, cheios de sabedoria. E os quatro
foram liberados.
No
caminho, encontraram um emissário do rei,
que os mandava chamar de
voltar ao reinado, para
que continuassem a lhe dar seus conselhos.
No mesmo dia, o animal perdido foi encontrado pelo
dono.
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