A
VACA DE AGATÂNGELO
Valério Mesquita*
Abalos
sísmicos, enchentes, insegurança, fugas de presídios, narcotráfico, invasões de
terras, crime organizado, violência, saúde sucateada, menor abandonado, fome,
esse é o quadro dantesco, a imagem preta e branca do Brasil.
Em
meio a tudo isso os supermercados remarcam os preços dos gêneros alimentícios
que essa semana atingiram os picos da esperteza, da ganância e da
desonestidade. A quem reclamar? Ao PROCON? A Igreja mais próxima? A presidenta
Dilma Rousseff ao constatar a invasão de
propriedades rurais nos estados pelos sem-terras, enviou meios para garantir a
ocupação. Muitas delas com decisão judicial de desocupação mas os agropecuaristas
nunca conseguem o apoio da Polícia Militar para o cumprimento do mandado.
E
nos supermercados? Catedrais mundanas do capitalismo explorador da bolsa
popular, quem intervirá para baixar os preços? Tropas federais? A lei de Gerson
(aquela da vantagem), só protege o governo, que não sabe contabilizar prejuízos.
Lembrei-me da história da vaca de Agatângelo, emérito jogador de pif-paf das
casas de jogo de azar de Macaíba. Solteiro, mulherengo, Agá, como era mais
conhecido, só possuía uma vaca como patrimônio intransferível, inalienável mas
constantemente penhorável. Em todos os lances do carteado, empenhava a vaca irresgatável.
Perdia quase sempre, para, no dia seguinte, penhorá-la novamente como se fosse
uma logo-marca, um fundo infinito, a força de Edir Macedo, a propaganda da Coca-Cola.
Assim
como Agatângelo é o assalariado brasileiro, eterno sofredor, emérito caçador de
esperanças, de mega-sena e depositante permanente de urnas abertas e ilusórias
dos sorteios de shoppings e de secções eleitorais. Vou elegê-lo como símbolo da
resistência. Apresentá-lo ao ministro Joaquim Levi com vaca e tudo. O mistério
de Agatângelo é a vaca, animal considerado sagrado pelos indianos. Quem sabe se
Agatângelo não ensinará a Dilma o segredo de nunca equilibra o rombo do orçamento.
Tudo é possível já que avacalharam os preços de todos os produtos e subiram os juros nos bancos e cartões de
crédito. A corrupção é hoje um movimento popular vitorioso.
(*) Escritor.
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