O parlamento e seus desvios
Eu sempre tive muito respeito pelo
parlamento. Isso por duas vertentes. Primeiro por herança familiar. O
meu primo Vicente da Mota Neto foi deputado federal em duas legislaturas
(1946 e 1950) e deputado estadual também por dois mandatos, além de
prefeito em Mossoró. Seu irmão, Francisco Mota, foi vereador por várias
legislaturas consecutivas e também prefeito. Isso para não falar do meu
bisavô, o Cel. Vicente da Mota, que foi intendente do Município, e de
seus filhos Francisco Vicente Cunha da Mota e Luiz Ferreira Cunha da
Mota, o Padre Mota, o primeiro, intendente e prefeito e o segundo,
também prefeito da cidade.
Depois há a minha formação humanística,
iniciada em casa e aprendida com os ensinamentos do meu padrasto Xavier
Vieira, ex-seminarista jesuíta (quase padre), advogado, poliglota e
funcionário do Banco do Brasil, numa época em que isso diferenciava quem
ostentava essa condição. Foi ele que me levou a conhecer os filósofos
gregos, os pensadores do iluminismo, principalmente Descartes, Francis
Bacon, John Locke, Rousseau e Spinoza. As ideias eram amplas e as
apreendi esparsamente. No entanto, delas retive o conceito básico do
sentido da democracia: a organização política da sociedade que reconhece
o direito de cada cidadão de participar da gestão dos assuntos
públicos. Aprendi, ainda, que a prática desse entendimento se dá através
dos parlamentos municipais, estaduais e federal.
Teoricamente, no Brasil também é assim. Está lá na Constituição Federal: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos”.
O problema é a prática. Um povo que elege seus representantes Tiririca,
Agnaldo Timóteo, Romário e outros que tais, que ameaça eleger Luciano
Huck, Datena e outros quejandos e já elegeu o rinoceronte Cacareco,
espera o que do seu parlamento?
Todavia o problema é bem maior. Os nossos vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores são “experts”
em criar vantagens para si mesmos. Regalias impensáveis em quaisquer
órgãos que se respeitem. São verbas de gabinetes, auxilio disso e
daquilo, tratamento médico-odontológico para suas senhorias e
familiares, sem teto de gasto. Recentemente o deputado Marco Feliciano
gastou R$ 157 mil com dentista e nós é que pagamos a conta. Quando
presidente do senado, Renan Calheiros fez um implante capilar e tentou
espetar em nosso bolso as despesas com o serviço de estéticas e de
transporte em avião da FAB.
Mas são as verbas de gabinete que correm
soltas e sem fiscalização. Faz tempo que eu e muita gente só recebemos
aqueles cartões de Natal e de parabéns pelo aniversário de antigamente,
pelo correio enviados por deputado e senador. Sabem porquê? Eles têm
verba para gastar com os serviços dos Correios. Nada sai de suas contas.
As verbas de ressarcimento com o uso de gasolina não são conferidas por
ninguém; basta apresentar as Notas Fiscais. Dizem que há Excelências
cujos gastos anuais com combustível davam para ir à lua e voltar, mais
de uma vez.
Acha pouco? Então vamos falar das
viagens ao exterior, ditas a serviço. Elas acontecem o ano tudo. Levam
nossos representantes a todos os cantos do planeta. Do topo do mundo a
lugares exóticos. No entanto as viagens preferidas são aquelas que
incluem cidades do chamado circuito Elizabeth Arden: Roma, Paris,
Londres e New York. Dizendo que vão a congressos, seminários e comissão
de estudos, deputados e senadores mal aparecem nesses certames. Preferem
passear, conhecer ou rever lugares famosos, frequentar os melhores
restaurantes, assistir o cancan do Moulin Rouge, os musicais da
Broadway, visitar o Museu do Louvre, ir ver o Papa na praça do
Vaticano, andar nos ônibus de dois andares e fazer compra na Harrods de
Londres. Isso tudo fazendo selfies que depois serão entregues às
respectivas assessorias, para as divulgar no Face, no Twitter e no
Instagram.
Tudo às custas de nós, os trouxas, os otários que os elegemos.
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