ORIANO: ÚLTIMA ESTROFE
Valério Mesquita*
Direi pouco sobre Oriano de Almeida. Outros falarão melhor
porque conviveram de perto com o seu talento e a sua vida. Cláudio Galvão, Diógenes
da Cunha Lima, por exemplo, Maria Luiza Dantas, Sanderson Negreiros, Enélio
Lima Petrovich (que inaugurou o Memorial Oriano Almeida no anexo do IHGRN em
2001), já dissertaram, com brilho e propriedade. Resolvi pronunciar-me porque
gosto de pontuar atitudes e assumir gestos quando vejo algo que me desagrada.
Fui à Academia de Letras me despedir do seu corpo, na sua tarde derradeira e
melancólica. Não apenas movido pelo dever de colega acadêmico ou por
solidariedade cristã, mas porque efetivamente ele foi um compositor e
intérprete maravilhoso para a honra e orgulho do Rio Grande do Norte, cujo povo
não “está nem aí”. No recinto, durante os discursos de despedida, pouquíssimos
presentes.
Aí começou a
nascer em mim a necessidade de protestar, de me indignar, de não me calar.
Comentei com Genibaldo Barros, Armando Negreiros e o saudoso Ernani Rosado que
ali estavam: é o menor público da vida de Oriano, quando deveria ser o maior.
Ele que havia conquistado as platéias milionárias, exigentes e refinadas do
mundo inteiro não conseguia reunir para o último adeus a intelectualidade de
sua terra. Quanta ironia, quanto paradoxo a vida nos ensina. O maior intérprete
do mundo da obra de Chopin, que encantou os palcos da arte musical, gênio da
música, compositor, foi ocupante da cadeira nº 13 que pertenceu a Câmara
Cascudo, estava ali totalmente esquecido. Havia atingido a “verdadeira
imortalidade”. Já escrevi que Natal sofre de ataraxia, indiferença. É pobre de
sentimentos.
Chegou um momento,
no velório, que Diógenes preocupou-se com os circunstantes para conduzir o
esquife do salão ao veículo funerário. A maioria era mulheres entre reduzido
grupo de sexagenários em débito com o teste ergométrico. Afirmo, sem qualquer
preconceito, que talvez tenha faltado a Oriano a passagem por uma banda de
forró.
Resta a esperança
de que o nome, a importância do que fez como musicista, intérprete, compositor
e escritor não desapareça. Não tenho dúvidas de que Oriano Almeida é maior do
que os ausentes. A sua obra tem abrangência nacional e internacional. Simples,
não buscava os refletores da fama. Ela vinha até ele. Nem o elogio fácil.
Já disse que na
vida quando se passa dos 60 ou 70 anos, torna-se estatística. Diferente dos
países mais civilizados. E Oriano se foi com 83. Fica para os pesquisadores,
memorialistas e estudiosos da música e da obra que ele nos legou, a tarefa
permanente de afirmar que Oriano Almeida vive. Na frase, que não é minha e nem
sei de quem, mas que eu gosto de lembrar: “Não se acaba o homem. Constrói-se a
cada dia sua performance”.
(*)
Escritor.
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