26/09/2018

Papai,
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1932, Francisco escreve de Minas ao pai, pedindo notícias dos seus, o pai morreria em 1937 e ele nunca mais voltaria...




Há muitos meses que não tenho notícias diretas suas, apenas o Paulo, ultimamente, me tem escrito, falando-me a seu respeito. Não sei se V.Mcê recebeu uns livros que mandei escritos por mim quando estava no Rio. Tenho muito que contar e estou agora em Alto do Rio Doce, que fica perto de Piranga, em que eu estava, porém, tem melhor clima e o povo goza de muita saúde.

É impossível melhor clima do que este. V.Mcê deve ter conhecido a Serra do Martins. Pois nem o frio de lá no inverno se compara com o calor de cá. Daqui a pouco o termômetro baixará para dez até agosto ou setembro. Quando me lembro que o povo ai morre de sede pelas estradas enquanto a água aqui cascateia por todos os lados das montanhas mineiras movendo engenhos de cana, moinhos de triturar milho e usinas de luz e força elétrica, tenho a impressão que Deus esqueceu do Nordeste.

Como vai V.Mcê? Todos ai vão bem? Onde estão os meninos que Silvino e Segunda deixaram? O Manuel já casou? Paulo comunicou-me do noivado dele ficando eu satisfeito porque a moça é nossa prima do Recife, em 1925, era a mais bonita da capital.

Não sei se algum dia voltarei ai. Dalila está sofrendo de uma aneurisma no coração, proibida de qualquer viagem por terra ou por mar. Além disso, os meus interesses aqui não me deixariam ir a não ser a passeio. Já deixei a promotoria e estou advogando, por dar mais rendimento.

Espero em Deus que a minha sorte se forme de uma vez e que eu possa algum dia ser útil ao nosso país e àqueles que precisam de mim. Recomende-me a Iaiá e aos de casa. Abençoe-nos a todos, Francisco, Alto do Rio Doce, 4-5-1932.


Para ler esse e outros escritos acesse www.gustavosobral.com.br

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