O CORONEL MOTA (Meu bisavô)
Vicente Ferreira da Mota nasceu em Apodi, em 1848, em um lugar
conhecido como Córrego das Missões de São João Batista. Ele era filho de
Antonio da Mota Ferreira e Isabel Francisca da Cunha. Segundo Raimundo
Nonato (1964) “descendia de velhos troncos e de tradicional gente
daquela Ribeira, onde as famílias eram constituídas, em maior parte, de
criadores, homens do campo e rotineiros agricultores que cuidavam dos
pequenos tratos de terra”. Vicente era afilhado do padre Antonio
Joaquim Rodrigues, o vigário de Santa Luzia, que o levou para Mossoró,
onde frequentou a escola primária, se educou e dedicou-se às atividades
do comércio.
De Mossoró foi para Aracati, naquele período era o centro mais
desenvolvido. Lá, “abriu um pequeno negócio, numa ponta de rua” e se
casou com Maria Ferreira da Cunha, filha de Manoel Francisco da Cunha e
Joana Saraiva Colares da Cunha. Quando sua primeira esposa faleceu,
casou com a sua cunhada, Filomena Ferreira da Cunha. Por motivo de
saúde, mudou-se para Martins, onde viveu por muitos anos, sendo o lugar
em que nasceram quase todos os seus filhos.
De Martins, Vicente Ferreira da Mota se transferiu para Mossoró,
onde fixou residência na Rua Padre Longino (que mais tarde, passou a se
chamar de Rua Trinta de Setembro). Continuou se dedicando ao comércio.
Era o titular de uma empresa do ramo de tecidos, louça, bebidas etc. Não
se tem conhecimento, ao certo, da data em que se estabeleceu em Mossoró
como comerciante; isso porque a atividade não era de todo regulamentada
na Província. Segundo Francisco Obery Rodrigues (2001, p. 79): “Sabe-se
que os negócios de [...] Vicente Cunha da Mota e vários outros antigos
comerciantes de Mossoró tiveram início antes de 1900. Entretanto, como a
Junta Comercial do Estado do Rio Grande do Norte foi criada em
13.09.1899, só depois de decorrido algum tempo de regulamentação de suas
normas e de estas serem do conhecimento das outras cidades do Estado,
os contratos comerciais e seus aditivos das firmas mossoroenses passaram
a ser registrados naquela instituição”.
O nascimento do seu filho mais novo, Luiz Ferreira Cunha da Mota –
mais tarde o padre e monsenhor Mota –, em 1897, em Mossoró, comprova o
fato de que a ida de Vicente Ferreira da Mota para Mossoró é anterior à
passagem do século XIX para o XX.
Rapidamente se integrou à vida da cidade, onde já tinha residido e
praticado o comércio quando jovem. No dia 30 de setembro de 1904 se faz
presente na sessão solene da Intendência Municipal, convocada para
comemorar a inauguração da Estátua da Liberdade, localizada na Praça da
Redenção. Quatro anos depois, em 1908, foi eleito intendente (prefeito) e
reeleito em 1911. Em 1922, fez parte da comissão que organizou as
festividades que tiveram lugar em Mossoró, para comemorar o centenário
da independência do Brasil (Vingt-un Rosado, 1976: 154 - 165).
Em 1917 a razão social de sua empresa passou a ser Vicente da Mota
& Cia., cujos sócios eram o próprio Cel. Mota, seu filho Francisco
Vicente Cunha da Mota, Miguel Faustino do Monte, seu genro, José
Rodrigues de Lima, casado com sua filha Maria da Mota Lima, e Antonio
Epaminondas de Medeiros. Em 1925, Miguel Faustino se afastou da
sociedade, assumindo o seu lugar Henrique Maciel de Lima e Genipo de
Miranda Fernandes, este último casado com Maria Helena da Mota
Fernandes, uma das suas netas. O nome de fantasia de sua loja era Casa
Mota. Ocupava quatro prédios conjugados, dois que davam para a rua Cel.
Vicente Sabóia; e dois direcionados à Rua Idalino Oliveira. Nesse ano,
seu estabelecimento, além de comercializar com tecidos, louça e bebidas,
vendia também alimentos enlatados, calçados, farinha de trigo,
ferragens, material para trabalho na lavoura e na pecuária, querosene e
combustível em lata etc. Vendia por atacado e a varejo. (Obery
Rodrigues, 2001, p. 36).
À época do ataque de Lampião a Mossoró, em 1927, o Cel. Mota, então
com 79 anos de idade, como vice-presidente dirigia interinamente a
Associação Comercial da cidade. Antes do ataque, a entidade solicitou ao
presidente do Estado que fossem remetidos para Mossoró setenta fuzis e
respectiva munição. Quando as armas foram recebidas, estas foram
distribuídas entre as pessoas que se apresentaram para compor a força de
defesa. Após o ataque e o consequente fracasso da empreitada do
cangaceiro, o Cel. Mota, em nome da Associação Comercial de Mossoró,
encaminhou petição – assinada subsidiariamente por outras instituições –
a diversas autoridades (presidente da República, senadores e
deputados), instituições e órgãos de imprensa do Rio de Janeiro,
sugerindo que a perseguição a Lampião fosse feita pelo governo federal,
único capaz de realizar tal tarefa. Além do mais, a sua empresa, a
Vicente da Mota & Cia., contribuiu financeiramente para cobrir as
despesas com a defesa da cidade. Essa contribuição se prolongou alguns
meses, após o ataque do bando, na forma de manutenção do Esquadrão de
Cavalaria que ficou aquartelado em Mossoró, na expectativa de uma nova
ofensiva por parte de Lampião (Raimundo Nonato Silva, 1965: 47- 48 -
70).
Vicente Ferreira da Mota, coronel da Guarda Nacional, e sua esposa
Filomena Ferreira Cunha da Mota tiveram quatro filhos: Francisco Vicente
Cunha da Mota, Vicente Ferreira Filho (Ferreirinha), Maria da Cunha
Mota e Luiz Ferreira Cunha da Mota, este último, mais tarde, o padre,
prefeito e monsenhor. Dois deles, Francisco Vicente Cunha da Mota e Luiz
Ferreira Cunha da Mota, e dois netos, Vicente da Mota Neto e Francisco
Vicente de Miranda Mota (filhos de Francisco Vicente Cunha da Mota),
ocuparam o cargo de prefeito da cidade de Mossoró, enquanto que ele
mesmo foi intendente em duas legislaturas. Morreu em Mossoró, no dia 20
de janeiro de 1942.
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