POMPÍLIA: UM
DEPOIMENTO
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Marlindo Pompeu, ex-vereador, político em disponibilidade, agitador
social, é o meu intérprete, ungido e jungido das causas populares. Conheci-o em
Macaíba, lá pelos idos de 1950, quando estudava no bravo colégio agrícola, de
Jundiaí. Pompília já se revelava inquieto, mobilizador e encantador de
serpentes. Era amigo do sábio e matemático Damião Pita, também estudante e
professor das escolas de primeiro e segundo graus da rede municipal. Na
campanha popular para governador em 1960, o velho Pompa ocupou a linha de
frente do exército de Dejinha (Djalma Marinho) e transformou-se no próprio tumulto
tanto para os adversários como para as suas próprias hostes.
Encontro-o aqui e acolá sempre com pressa, passando com ruído, soltando
frases soltas e estribilhos guerreiros sobre lutas e batalhas iminentes. Jamais
foi achado em
silêncio. Ninguém melhor que ele para bastante procurador de
causas possíveis e impossíveis. Daí, nomeá-lo hoje, com toda pompa e circunstância,
o meu, o nosso advogado. Sem mandato popular, sabe melhor que os outros, os
caminhos das pedras, das residências oficiais, porque é sombra e luz, voz e
ouvido do clamor das ruas.
A sua marca registrada sempre foi a fidelidade irrepreensível ao líder e
ao ideal. Sobre esse ângulo poderia registrar dezenas de atitudes do seu
quilate. Continua sendo o homem de um partido só, sem esmorecer, sem
tergiversar, sem recuar. Em Natal, viveu sua fase de líder popular nas
comunidades, defendendo-a na Câmara Municipal e fora dela. Para ele não
importava ter o mandato para socorrer o povo e requerer a solução dos
problemas. Ele sempre o fez e até hoje porque se tornou conhecido e festejado
por todos como um homem simples, pobre, honesto e prestativo.
Conviveu com governadores, senadores, deputados, mas nunca amealhou
vantagens pessoais, pois somente lhe interessa servir. Carrega uma pasta cheia
de papeis. Nela nada tem de si e sobre si. Apenas, papeladas de pedidos dos
outros, reivindicações comunitárias, receitas, recibos inadimplentes de IPTU,
água e luz. É o carteiro do povo; o jornaleiro do líder que defende; o
pastorador de auroras das ruas e avenidas de Natal só para anunciar as
alvíssaras, as boas novas do partido e do próximo.
Sempre foi o estafeta legítimo de pleitos, porta-voz dos esquecidos e
condutor dos novos rumos e prumos de Natal. Daí sempre confiei nele para
pugnar, reivindicar, exigir, porque possui o senso comum das coisas simples e honestas.
Mas, o velho Pompeu está cansado. É chegada a hora de homenageá-lo. O
momento de todos reconhecermos o mandato que ele exerceu por nós: o exercício
da solidariedade humana por Natal e pelos seus habitantes. Ao prestar-lhe este
tributo, eu o faço com emoção pelo muito que ele fez e pelo tão pouco que
recebeu. Soou a hora de reparar esse esquecimento.
(*) Escritor.
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