DE PROFUNDIS
Ciro José Tavares da Silva.
O meu amigo e confrade José Eduardo Vilar Cunha viajou para as estrelas
deixando-me um grande e estranho vazio no espírito. Nossa amizade
embora fosse recente era sólida no campo intelectual e também vinculante
pela complexa miscigenação de famílias que povoaram e fizeram o vale do
Ceará – Mirim. Nas suas veias corria o sangue Sobral, Castro, Vilar,
Pereira, Varela. Essa mistura nos identificava e nos fizeram membros da
Academia Ceará-mirinense de Letras e Artes Pedro Simões Neto.
Nossas mães traziam no coração o amor dedicado a Nossa Senhora da
Conceição, Padroeira da cidade, a doçura do açúcar, a resplandecente
beleza do canavial, a inesquecível lembrança dos engenhos. Não bastasse
isso, o lado paterno acentuava a solidez do relacionamento. Seu pai, o
Dr. Joaquim Luz, era médico e amigo do meu pai. Ambos participaram
ativamente da história médica do nosso Estado.
Eduardo era um culto
cidadão do mundo, trazendo no olhar as belezas das cidades que conheceu e
amou e delas dizendo maravilhas. Em julho último, numa reunião da
Academia, disse-me que iria pesquisar suas origens, a partir do Vilar,
um esquecido espaço territorial nos umbrais do vale verdejante, local de
nascimento da poetisa Adelle Sobral de Oliveira, minha tia-avó.
O
Pai do Tempo, nas suas misteriosas decisões, desviou sua trajetória
chamando-o à sua presença. Certamente nesta nova dimensão reencontrará
aqueles que o antecederam e tudo descobrirá.
Ainda não me refiz do
acontecido até porque ele estava entusiasmado com as perspectivas
acadêmicas e sem dúvida seria grande colaborador nos nossos objetivos. E
pela primeira vez sinto-me sem forças para escrever um adágio
homenageando sua memória. Resta-me lembrar de Ésquilo em As Suplicantes:
“Sem dor não há desenlace possível.”
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