SAYURE TAYMO – A GUEIXa
Jansen Leiros*
Plathus e Flávia estavam retornando de
uma atividade na região astral da 4ª dimensão, quando foram abordados por
Nubiacira – a fadinha daquele sítio astralino, a qual trazia, num trenó,
improvisado, uma entidade desencarnada, possivelmente dementada, tais os sofrimentos de que fora vítima, quando de sua
última encarnação
Segundo o relatório de Nubiacira, o
espírito fora encontrado há muito tempo, ao lado de seu corpo em decomposição e
a cabeça esfacelada, dentro de um
barco de pesca japonês, encalhado e
destroçado, numa pequena ilha do Pacífico. A entidade fora resgatada por uma
turma de socorro espiritual, atuante no litoral andino
Acontecera que todos os recursos
aplicados na tentativa de reanimar aquele espírito foram esgotados sem que
lograssem nenhum êxito e o posto que o abrigara já não dispunha de meios para
recuperá-lo.
Naquela noite, a fadinha passara ali de
retorno de suas atividades socorristas, quando deparou-se com aquela questão,
para a qual os encarregados do posto não
tinham solução.
Foi então que Nubiacira ofereceu seus
préstimos e ponderou que se o espírito desencarnara em desespero, talvez vítima
de um naufrágio, ou mesmo vítima da pirataria ligada à atividade da pesca clandestina, poderia estar num
difícil estado de perturbação que somente um tratamento psicológico, através de
hipnose , poderia chegar a bom termo. Assim, resolvera ajuda-lo, no que foi
aceito, levando-o à presença de um especialista na área, que aplicaria aquele
sistema de terapia
Plathus e Flávia acercaram-se do trenó improvisado
pela fadinha e, após uma avaliação acurada, decidiram leva-lo a um posto de
socorro espiritual, existente nas proximidades de Matarani, dirigido por
espíritos amigos, com os quais o casal
se relacionava muito bem e mantinha uma amizade de longo tempo.
O posto tinha aparência de pequeno hospital e, anexo às suas
dependências, havia um singelo apartamento onde se alojavam os espíritos
trabalhadores da área médica, quando em atividade na área.
Plathus confabulou com o encarregado e
fez-lhe um relatório do ocorrido. A seguir, sugeriu que o paciente ali
permanecesse por algum tempo, enquanto seria submetido a um tratamento através
de cargas magnéticas, na tentativa de resgatá-lo à consciência.
Tudo, acertado! O paciente fora abrigado
em alojamento coletivo, tendo a fadinha se desdobrado para que tudo pudesse sair
a contento.
As primeiras providências profiláticas
foram tomadas e o espírito e o espírito colocado em leito confortável. Viam-se
duas ataduras brancas. Uma envolvendo a
parte cerebral onde recebera pancadas muito fortes e outra que lhe envolvia o
tórax. Ele gemia muito e permanecia
desacordado.
Fios estranhos, de coloração que
aparentava o cobre, ligavam-no
mentalmente ao barco onde fora encontrado. Através desses fios, pareciam
chegar as impressões de dor e de tormento, que o faziam estremecer no leito,
como que mergulhado nas ondas de alucinante pesadelo. Isso era possível ver em sua tela mental,
agitada e nebulosa.
Plathus ministrou-lhe energia à altura
da cabeça e comandou-lhe um sono reparador, até a noite seguinte, quando
retornaria para dar início ao tratamento
de que necessitava o paciente.
Antes de mergulhar no corpo, Plathus
tentou contato telepático com Mei Ping para solicitar orientação específica e,
se possível, obter dados da ficha acásica daquele ser.
Na noite seguinte, Plathus, Flávia e
Nubiacira retornaram ao posto de socorro para o início do tratamento de que
estava a precisar aquele espírito.
O grupo acercou-se do leito e Plathus
começou a ministrar-lhe passes de limpeza áurica. Após algum tempo, quando as nuvens cinzentas
aderidas ao corpo perispiritual do
doente esmaeceram até o desaparecimento completo, o mestre começou a falar,
lenta e suavemente, para induzi-lo à
necessária hipnose.
Amigo! Você foi encontrado num pequeno
barco de pesca e acolhido por algumas almas boas que o levaram a modesto posto
de socorro. Pode me escutar?
HUM..., HUM..., HUM..., dói-me a cabeça. O corpo todo. O que
aconteceu? Que horas são? Onde
estou? OH meu Deus! Preciso voltar à
embarcação para levar o produto da pesca! Se me atrasar, serei punido! Minha cabeça dói muito. Não sei como fui cair
desse jeito!...Hum...Hum...
- Como se chama, amigo?
- Kioto
Massuda – respondeu o espírito.
- Qual sua atividade, realmente?
- Quem é o senhor? É algum patrulheiro?
- Não, amigo. Sou uma pessoa que deseja
ajuda-lo. Você sofreu num acidente e é necessário que lhe ajude a sarar.
Entendeu?
- Como vou saber se você não é um
patrulheiro e quer me prender?
- É muito simples, se eu quisesse lhe prender já o teria feito!
Não o fiz e quero lhe ajudar!
- Trabalho para uma companhia de pesca
de Tóquio, mas, na verdade ela é clandestina e está em luta com outras empresas,
também fantasmas. Receio que eu esteja
sendo perseguido e que tenha sido atacado por uma delas. Preciso voltar
urgentemente para meu barco, sob pena de perder tudo. Tenho muito medo! Há outro problema. Tenho uma cota de produção a cumprir. Se não alcança-la, serei punido pela empresa
e isso resultará em que perderei tudo o que fiz durante a viagem.
Os passes magnéticos ministrados por
Plathus tinham efeito anestesiantes quanto à sensação de dor e, de certa forma,
tranquilizantes, a ponto de permitir-lhe falar sobre sua atividade, como se
nada, ainda, houvesse acontecido, segundo supunha.
Esse era o caminho. Plathus
aprofundar-se-ia mais um pouco.
- Amigo, responda-me por favor. Você tem família? Onde mora?
- Sim, tenho! Fui casado com uma prima,
durante quatorze anos. Do casamento, nasceram-me dois filhos que já estavam
crescidos, quando meu casamento desmoronou em circunstâncias muito tristes.
Nesta
altura, Plathus tornou a aplicar energia
com mais intensidade , a fim de manter o espírito fora do corpo da emotividade,
para que tivesse a condição de narrar sua história per3mitindwo-lhe direcionar o tratamento, Kioto prosseguiu:
- Eu trabalhava para a marinha mercante
do Japão e fazia muitas viagens internacionais
que me rendiam um bom soldo. Essas viagens me impunham afastamento prolongado do lar, forçando-me a uma
consequente falta de assistência
familiar, involuntária. Naquela
época o fluxo de turistas americanos em meu pais aumentou consideravelmente e
você sabe como é aquela gente. Ninguém respeita ninguém. Juntaram-se a carência
de minha mulher, e a corte insistente de um desses estrangeiros e ela se foi,
deixando o lar e descuidando da orientação dos meninos. Fiquei alucinado. Eu
amava demais à família e não me conformava. Tentei de tudo para recompor o lar.
Deixei a marinha mercante para estar mais presente, mesmo que isso
representasse uma diminuição considerável nos meus vencimentos. Além disso, não tive sucesso com novos
empregos. As tentativas de reconciliação
não lograram êxito. Minha mulher já se havia ocidentalizado demais e não
aceitava retornar aos costumes japoneses.
Cada contato que tínhamos, resultava em tortura mental que me levavam a
intensos sofrimentos. O temperamento de Tsuiako era muito forte. Bombardeava-me
a auto estima com suas colocações jocosas.
Ofendia-me com comparações
odientas quanto a meus dotes e meu desempenho
sexual, a ponto de levar-me à tentativa
de suicídio. As crianças, nesse caos,
derivavam para as drogas e tudo ficou incontrolável. Perderam a condição de
estudar e o mais velho suicidou-se aos dezesseis anos. Quase enlouqueci e, pela segunda vez, tentei
morrer, mas não tive coragem de consumar o ato.
Meu filho menor foi adotado por um parente e emigrou para o Brasil, indo
morar em São Paulo, na cidade de Osasco. Alucinado, sem emprego e passando
dificuldades, voltei ao mar, desta feita para uma atividade clandestina. Virei
bandido da pesca e estou neste barco sem saber o que fazer.
- Amigo! Você não está no seu barco.
Isto é uma enfermaria e você está sendo tratado convenientemente e vai ficar
curado. Agora, vai dormir mais um pouco.
Os remédios que tomou vão
deixá-lo mais calmo. Amanhã, retornarei para ver como você está.
- Obrigado doutor1 e adormeceu profundamente.
Explicações importantes
Plathus havia
conseguido informações valiosas. A história contada por Kioto,
superficialmente, era verdadeira, mas,
com extensões bem maiores do que parecia ter. Sua ex-esposa, de fato, já havia sido sua
parceira por mais de uma vez em vivências anteriores e ambos se deviam
situações vexatórias no campo do sexo, motivada pela disputa do poder habitual”
ou seja, pelo desequilíbrio energético que em se envolveram, face ao
desconhecimento das leis universais e, basicamente, pelo desconhecimento dos processos
de abastecimento pessoal de energia, pelas fontes universais. A disputa fora
tão acirrada que os efeitos danosos levaram KIOTO à impotência absoluta, a
ponto de desequilibrar-lhe as mais comezinhas funções do espírito, projetando
mutilações na genitália, na encarnação imediata.
Com base em
orientações superiores, Plathus tentaria condicioná-lo à nova postura, com
sugestões hipnóticas, porém, o mais prático seria trabalhar-lhe a auto estima.
Através do
correio telepático, Plathus acionou seu ciclo de amizades espirituais e
conseguiu autorização para o cometimento. Durante quase quinze dias sucessivos,
prestar-lhe-ia a terapia energética necessária à recomposição ou restauração do
tônus vital e o conduziria, sugestivamente, durante quase quinze dias
sucessivos numa euforia capaz de renová-lo nos seus mais íntimos desejos.
Na verdade,
Hioto não sabia que havia morrido, nem se lembrava do episódio que o levou ao falecimento
do corpo físico.
Para proceder-se
ao tratamento programado, êle não poderia lembrar-se de seu desencarne, sob
pena de invalidar os resultados. É que, sua ex-mulheer, Tsuiako, após o
declínio do relacionamento com o americano, que a conquistara, por mero
capricho, tentou, tardiamente reencontrar o marido, mas Kioto já se havia
imiscuído na pesca clandestina e não era facilmente encontrado. Um filho
morrera pelo suicídio, o outro havia emigrado para o Brasil e o próprio marido,
que antes vivia lhe suplicando o retorno, desaparecera como por encanto.
Desesperada, e
sob os efeitos das drogas, pelo caminho das quais enveredou, encheu-se de ódio
e partiu para a vingança, pois fora ele que,
casando-se com ela, a teria afastado de seu -
legítimo destino - assim pensava.
Depois de muitas
andanças, Tsuiako tomou conhecimento de que
Kioto estava
trabalhando num barco pirata, em clandestina atividade e formou uma gang para
fazer pirataria, porém o objetivo principal era encontrar o ex-marido e
liquidá-lo, tal era o ódio que alimentava.
Fez amizade com
dois marinheiros truculentos em troca de favores sexuais e, com eles, saiu à
caça. Sete meses depois, Tsuiako, descobriu o paradeiro de Kioto e sabia de
todos os seus passos.
Certa noite,
conseguira esconder-se no barco mãe da empresa clandestina para a qual Kioto
trabalhava. Era o barco que recolhia o produto da pescaria realizada em águas e
áreas proibidas. Tsuiako e os dois comparsas infiltraram-se entre os tripulantes
pois a noite estava muito escura e facilmente
se localizaram em pontos estratégicos. O plano era de, no momento em que
acontecesse a abordagem do barco de Kioto e ele se adentrasse no barco mãe, os
três passariam para o barco pequeno e lá esperariam por Kioto e o eliminariam.
Assim foi feito. Quando Kioto passou
para o barco mãe e começou a entrega da produção, eles se adentraram no seu
barco e ali ficaram esperando. Quando Kioto retornou, simplesmente recebeu uma
única pancada na cabeça que a esfacelou, tendo morte instantânea.
O crime acontecera fazia seis anos e Kioto
ainda estava vivendo o instante do impacto no crâneo, não podendo lembrar-se de
nada, mesmo por que não havia tido tempo, sequer, de ver coisa alguma, exceto
os sonhos e pesadelos que passara a viver após o desencarne.
Assim, Plathus
deixara bloqueada essa memória que tão somente seria trazida ao consciente no
momento oportuno, isto é, quando tivesse condições psicológicas de saber e
reagir equilibradamente, sem ódios, sem mágoas, sem ressentimentos, sem
rancores.
Ao final de duas
semanas de tratamento intensivo, Kioto já se punha de pé e sentia-se
recuperado, desconhecendo, ainda, sua
condição de desencarnado.. Imaginava que se encontrava num hospital .para
recuperar-se de algum acidente marítimo ou simplesmente de um naufrágio sem importância.
Plathus lhe
comunicara que fariam uma pequena excursão a
bucólica região
No momento
aprazado, o médico o tomou pelo braço, conduzindo-o a caminhar pela campina, em
torno do posto. Chegando a um belo recanto ajardinado, via-se um magnífico
quiosque, erguido sobre um tapete verde,
Na verdade, aquele recanto fora improvisado pela fadinha e sua equipe,
com o objetivo de ajudar Plathus a recuperar, definitivamente, aquele espírito
tão sofrido. Terminada a tarefa, o quiosque sereia desintegrado, exceto se a
direção do posto lhe desse outra destinação.
Plathus e Flávia
entraram no prédio. Era um ambiente belo e aconchegante! A decoração oriental deixou Kioto
inteiramente à vontade.
Sentou-se à moda
japonesa e ficou olhando as paredes em seus mínimos detalhes.
Aquela
construção fazia lembrar as dependências requintadas dos palácios das antigas dinastias. O
ambiente transpirava bem estar. Kioto
estava entrando em ritmo de felicidade.
Minutos depois,
que sentara, duas gueixas entraram por uma porta lateral e lhe trouxeram dois
biscoitos afrodisíacos. Kioto remoçara!
Plathus
aproximou-se dele e falou:
Kioto! HOJE,
Você vai passar o dia neste quiosque!”
Depois de muito tempo no mar, você merece um repouso! Um descanso feliz! Reparador,
calmo, refazedor, energizante e cheio de euforia. Faça o que você achar melhor.
Na verdade,
Plathus tinha outros pacientes para cuidar e deixou a Doutora Sayure Taymo para cuidar dele.
De fato,
especialista no problema de distúrbios da impotência sexual, nossa doutora fora
convidada para prepará-lo, objetivando uma nova experiência no corpo,
colocando-a na condição de futura companheira de vivência física, razão pela
qual os encaminhou para uma colônia especializada na preparação de novos reencarnes,
programando a escolha das famílias que os receberia, programando, também, o
direcionamento da vida profissional, no campo médico. Enfim, programando um
amanhã feliz para aquele velho marinheiro, agora cheio de esperanças.
[ensaio]
Jansen Leiros*
Da Academia Macaibense de Letras;
Da Academia Norte Rio Grandense de
Trovas;
Da União Brasileira de Escritores;
Do Instituto Norte Rio Grandense de
Genealogia;
Do Instituto Histórico e Geográfico do
RN.
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