AMIGO EXISTE, SIM
SENHOR!
* Adalberto Targino
A solidão tem sido a fera voraz a espreitar o homem
contemporâneo, que, mesmo cercado de uma multidão, se sente cada vez mais
sozinho e isolado...
O egoísmo, o
narcisismo, a inveja, o individualismo e a egolatria fazem de certos indivíduos
espantalhos humanos, os quais, mesmo frequentando clubes, templos e partidos
políticos, continuam prisioneiros de si mesmos, pelo simples fato de buscarem
receber sempre e nada retribuírem.
Alguns,
lamentam: “não existe amigo”. Porque, no seu egocentrismo, esquecem que o único
método de ter um amigo leal é ser um. Como São Francisco de Assis, é dando que
se recebe. Doando-se com humildade e simplicidade, sem esperar nada, é que se
recebe a dádiva do sentimento do querer bem sincero e até incondicional.
A Bíblia
preconiza “ter um amigo é possuir um tesouro” e o dito popular ensina: “mais
vale amigo na praça que dinheiro no caixa...”.
Ainda, o
populacho assevera: “quem planta colhe”, significando que o solidário colhe
solidariedade, especialmente quando faz sem esperar retribuição.
Jesus, o
salvador-filósofo-avatar-guru-iniciado-mestre-Deus/Homem, recomendava que não
haveria salvação, santidade ou nirvana sem amarmos os seres humanos como a nós
mesmos. Aliás, somos partículas que se completam quando integradas a outras
partículas semelhantes e ao Todo, Cosmo, Inteligência Suprema, Grande Arquiteto
ou Deus.
Entendo,
inclusive com apoio científico e metafísico, que o egoísta, invejoso e odiento
é autofágico, sofre mais com a felicidade alheia que com a sua própria dor,
fogo que se autoconsome, vítima do efeito bumerangue, da lei do retorno e
subproduto ou cinza de sua própria fogueira.
Por tudo isso,
concluo que a amizade é a mão estendida sem perguntas; é crença e confiança na
palavra e nos atos do outro, sem julgamentos precipitados e injustos.
Nas
agruras do universo, os viajores errantes tornam menos penosa a caminhada
quando encontram almas irmãs, assim como “aves da mesma espécie que sempre voam
juntas...”, independentemente de sexo, raça, idade ou condição social ou
intelectual.
O
bom caráter censura o amigo reservadamente, enquanto, em público, rasga elogios
às suas qualidades... Nesse sentido, São Tomás de Aquino prelecionava: “o bom
amigo os meus defeitos aponta para que eu os corrija; o falso amigo exalta-me
indevidamente para que persista no erro e caia no lodaçal da vaidade.”
Ser
bom amigo não precisa dar a vida pelo outro, mas basta estender a mão ao
companheiro que resvala no abismo ou simplesmente com ele compartilha, sem
competir, com desinteresse e alegria de suas vitórias e ascensões.
O
lamentável é que muitos preferem a destruição pelo elogio fácil do que
receberem críticas salvadoras e construtivas.
Miguel
de Cervantes afirmava que “é melhor perder todos os bens materiais que um
amigo”. Tudo, contudo, depende do dom sagrado do perdão e da tolerância com as
diferenças...
Ademais,
se a gratidão é a memória do coração, ao ingrato compete sepultá-la, já que
para este tipo tudo é descartável e transitório, inclusive a amizade.
Afinal,
amigo é uma escolha personalíssima, meditada, inteligente, enquanto a família é
uma imposição do destino, da sorte, de forças alheias à nossa vontade.
Pessoa
grata e sensível, gosta pela simples razão de aglutinar, de servir, de somar e convergir,
mesmo sem necessidade de ninguém para o seus fins pessoais. Nesse diapasão,
entendo como Confúcio que “a melhor maneira de ser feliz é contribuir com a
felicidade dos outros”.
Ainda, faço minhas as palavras do
inexcedível Ministro e Escritor José Américo de Almeida, que prelecionava: “com
glórias, riquezas e sucessos todos se manifestam como amigos porque, ocultando
a mesquinharia da inveja, prostram-se ao poder. No entanto, o amigo verdadeiro
se revela na tristeza, desacertos e pobreza”.
Este
é o caminho indeclinável da amizade pura e sincera, cuja conquista jamais
pertencerá aos ressentidos, magoados e egocêntricos, que jamais “amarão o
próximo como a si mesmo”.
Nesse
ritmo, é que perguntaram certa vez a Epitácio Pessoa, único brasileiro que
presidiu os três poderes da Nação (Presidente da República, Presidente do
Congresso Nacional e Presidente do Supremo Tribunal Federal), qual o segredo do
seu imenso sucesso, e ele respondeu que “tudo se devia a 50% de incansáveis
dias e noites de estudo e trabalho e 50% a generosidade de amigos verdadeiros”.
Em
síntese, faço minhas as palavras do inefável Benjamim Franklin: “um irmão pode
não ser um amigo, mas um amigo será sempre um irmão”.
Amigo,
porquanto, para quem primeiro sabe sê-lo, existe, sim senhor.
* O autor é Procurador
do Estado
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