DESENHO DE CARLOS VICTOR ROSSO GOMES CALDAS
AIGUMAS CUNSIDERAÇÃO SÔBRE O CANGAÇO... Literatura de Cordel Autor: Bob Motta
Nem todo filho de pobre, nasceu prá ser cafajeste. Vou dar trabalho ao Governo, matando coronéis da peste. Fazer o que tenho dito, e deixar meu nome escrito, nos paredões do Nordeste...
Juazeiro-CE, 06 de março de 1926 Virgulino Ferreira da Silva. Vulgo – Lampião.
N A T A L – R N 2 0 1 4 Cangaço era, vô dizê, a vida duis bandulêro, andaríi duis sertão, de janêro a janêro. E p’ru donde êles passava, de sangue, o rasto, dêxava, no Nordeste brasilêro.
Lampião deu inspiração, p’ru cordel, sem imbaraço. Mêrmo assim, digo ao leitô, nêsses verso qui aqui faço; qui num é de Virgulino, a oríge, seu minino, dessa palavra, “cangaço”.
Bandulêros nordestino, p’ru custume, se dispôis, carregá o rife nuis ombro, qui nem a canga de um boi. Assim, no Nordeste intêro, se chamaro cangacêro, p’ru mode a canga; e apôis ?!
Taí, intonce a oríge, registrada no meu traço. O pruquê da criação, dessa palavra, “cangaço”. A canga, deu, na verdade, nome a essa atividade, criminosa do pedaço.
Pernambuco registrô, lhe juro, sem brincadêra, o premêro cangacêro, dessa região intêra. E no século dezôito, nasceu êsse cabra afôito, de apilido “Cabilêra”.
Êsse morreu infóicado; dispôi; vêi “Luca da Fêra”. No século dizenove, o infiliz deu bobêra. Mostrô qui num tinha mêdo, foi ao Ríi cunhincê Dom Pêdo, foi morto, sem brincadêra.
José Briante Alencá, foi ôto sujeito forte. Iscramuçô no Ceará, e no Ríi Grande do Norte. E seu subríin, Jesuíno, se distacô, seu minino; num tinha mêdo da morte
O cangacêro “Meia Noite”, vêio adispôi, meu irmão. Dispôi, vêi Antôin Silvino, qui paimiô nosso chão; e qui eu juro, seu fulano, durante dezôito ano, dominô nosso sertão.
Bastião, o “Sinhô Perêra”, cum uis Porcino; Antôin e João, instruíro Virgulino, o famoso Lampião; o quá, siguindo seu traço, se tornô reis do cangaço, terrô do nosso Sertão.
Nasceu a quato de julho, no século dizenove. No ano de noventa e seis, há documento qui prove. E êle nasceu, camarada, onde hoje é Serra Taiáda, cujo fato lhe promove.
Virgulino era artezão, in côro, era o premêro. Tombém na lida do campo, foi distimido vaquêro. Quando chegava o momento, de um bom divirtimento, tombém era sanfonêro.
Foi êle, um bom custurêro, um verdadêro artista. Dais rôpa da “cabruêra”, era êle, o desenhista. Êle era, pode apostá, o qui é, nuis tempo atuá; um inselente istilista.
Suais ação era tida, no iníço, cumo vingança. Transfôimô-se in imbição, lôcura e disisperança. Era terrô p’ru intêro, no Nordeste brasilêro, prá véio, jove e criança.
Duzento e setenta mil, quilômetro dêsse chão, era imperadô do mêdo, Virgulino, o Lampião. Tanto o peste aprontô, qui a si mêrmo se chamô, Gunvernadô do Sertão.
No Império da “caatinga”, qui qué dizê, “mata branca”, o imperadô, Lampião, era a mais forte alavanca; de norte a sul, leste a oeste, aquêle cabra da peste, era quem butava banca.
Nuis leito duis ríi sêco, uis sertanêjo cavava, ais cacimba, in procura, de água, qui inda restava. Era um trabáio penôso, atráis do líquido priciôso, qui no subissolo, tava.
Inda hoje, in muntos lugá, essa fóima é realidade. Mode se cunsiguí água, mêrmo de má qualidade; prumode a sêde, matá, dessa fóima, saciá, a sua necessidade.
No cangaço, a farta d’água, tombém era um intrevêro. Prumode matá a sêde, uis peste duis cangacêro; no mato, ía se fazendo, tirando água, ispremendo, ais raíz duis imbuzêro.
E o Sertão nordestino, cum a sua triste fama, mêrmo cum muntos oásis, sertanêjo chora e crama; pois seu Sertão, purintêro, inda é palco, cumpanhêro, da tristêza dêsse drama.
A nossa mãe naturêza, é teimosa in risistí, leste a oeste, norte a sul, do Oiapoque ao Chuí; ela é teimosa in vivê, e uis home, pode crê, é teimôso in distruí.
A Juazêro do Norte, foi chamado Lampião. Prá contra a Coluna Prestes, integrá o Bataião; Patriótico, sim sinhô. Tem mais; quem lhe cunvidô, foi Pade Ciço Rumão.
A oríge do apilído, foi pruquê numa ocasião, de tanto atirá ligêro, o rife queimô suas mão. Ficô vrêmêi, fumegante, e um cabra, naquêle instante, gritô: Êita, qui lampião!
Nêsse tempo, Virgulino, andava mais Sinhô Perêra. Qui infrentava quaiqué um, num era de brincadêra. Perêra, quando quiria, num instante, êle fazia, corrê a puliça intêra.
Daquêle dia in vante, cumo se fôsse um truvão, o nome de Virgulino, ecuô puro Sertão. Fundô o seu próprio bando, fêiz tudo o qui é de dirmando, cum o nome de Lampião!...
Fonte das informações: D. Expedita, filha de Lampião e Maria Bonita, na casa do poeta Zé Saldanha, no Bairro de Candelária, em Natal-RN.
Autor do cordel: Roberto Coutinho da Motta. Pseudônimo Literário: Bob Motta. Da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte. Da União Brás. de Trovadores-UBT-RN. Do Inst. Hist. e Geog. do RN. Da Com. Norte-Riograndense de Folclore. Da União dos Cordelistas do RN-UNICODERN. Da Associação dos Poetas Populares do RN-AEPP. Do Inst. Hist. e Geog. do Cariry-PB. E-mail: bobmottapoeta@yahoo.com.br Busca no Google: Bob Motta Poeta Matuto. |
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