DONA
NAIR
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Peço licença aos conterrâneos
para neste dia trinta, homenagear a memória de minha mãe que se viva fosse, completaria
115 anos. Anjo tutelar dos meus dias, heroína simples, exemplo de renúncia,
colecionadora de alegrias e tristezas, risos e lágrimas, realidades e sonhos.
Nair de Andrade Mesquita, nasceu em Macaíba. Bem cedo perdeu o pai: Dário
Jordão de Andrade. Sua mãe, Sofia Cúrcio de Andrade, filha de imigrantes
italianos, mulher espartana e lutadora, criou sozinha os filho do casamento:
Clóvis, Dario, Nair, Sofia, Nilda e Floriano. Pobre, Sofia possuía uma bodega
onde também fabricava fogos. Os filhos estudaram no tradicional Grupo Escolar
Auta de Souza que tinha como professores Bartolomeu Fagundes, Paulo Nobre,
Arcelina Fernandes, entre tantos mestres seculares. Terminado os seus estudos
preparatórios, ela foi trabalhar nos Correios e Telégrafos, ao qual dedicou 37
anos de sua vida ao aposentar-se. Casou com Alfredo Mesquita Filho, o líder
político, combativo, firme, resoluto e humano. A ternura de Nair, a calma e a
compreensão, vestimentas do amor, atenuaram muitas vezes os momentos de
angústia e sofrimento do meu pai, na lide política. Nídia e eu, somos os frutos
do seu amor, ao qual procuramos dar em afeto e carinho toda a dimensão do nosso
sentimento. Compreendemos que ela na idade bíblica alcançada, mesmo assim, viveu
o transitório neste mundo, mas nos legou, a cada instante, lições e marcas de
iniludível eternidade. Foi adepta do espiritismo kardecista desde a mocidade,
por influência de dois apóstolos de candura e bondade: Elen e Olímpio Jorge
Maciel. Mas, Nair de Andrade Mesquita, não se dedicou apenas aos afazeres do
lar e de sua vida funcional. Como coadjuvante das atividades políticas do marido,
chegou a exercer o mandato de deputado estadual entre 1959 e 1962. Várias
vezes, eu a acompanhei às sessões legislativas no antigo prédio da Assembleia
situado à rua Getúlio Vargas, em Petrópolis. Política ao velho estilo, visitava
os eleitores de casa em casa, fazendo o que chamava de “recenseamento
eleitoral” nas campanhas de seu Mesquita. Minha mãe sempre gostou de conversar.
Nas prosas políticas
sempre tinha engatilhado um provérbio, que liberava conforme a situação:
“Depois da tempestade vem a bonança”. “Nem todo mal é mal, nem todo bem é bem,
não há mal que não traga um bem”. “Quando os males de alguém forem velhos, os
de outrem serão novos”. Enfim, é a sabedoria milenar, a reflexão espiritualista
de um ser simples, sombra e luz, palmilhando afanosos instantes de profundidade
vital. Acariciei muito os seus cabelos brancos. Contemplo na memória a sua
fisionomia calma, serena, que parece reunir todas as preces, todas as dores
humanas, no testemunho de sua própria longevidade, graça especial de Deus. Na
casa grande da Rua da Cruz em Macaíba, ela residiu com o seu jardim de
margaridas, dálias, jasmins, beneditas, lafranças e a mais sublime recordação
na foto do seu Mesquita, ao lado, com o oferecimento eterno: “A Nair, expressão
lídima de bondade”.
(*) Escritor.
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