Mais um casarão da Ribeira
Elísio
Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
Era uma construção antiga
de tetos altos. Tudo no prédio nos remetia a glória passada da Ribeira. Nas
paredes exteriores, descascadas, dava para ver os enormes tijolos vermelhos à
mostra. De aspecto envelhecido, aquele velho casarão sempre nos atraíra.
Segundo alguns antigos
moradores ribeirinhos ali funcionara, nos finais do século XIX, o escritório de
uma importante firma inglesa, que se dedicava ao comércio de importação de algodão.
Com ordem dos atuais
proprietários do imóvel, chegamos para uma visita ao local – à procura de
objetos marcados pelo tempo.
Segundo John Chadwick: “A vontade de descobrir segredos está
profundamente enraizada na alma humana; até o menos curioso dos espíritos se
inflama diante da ideia de deter uma informação proibida a outros”. E, no
nosso caso, essas incursões históricas nos fascinavam!
Depois de atravessarmos um
pequeno jardim, tentamos girar a lingueta do cadeado da porta de entrada. Em
vão, nem se buliu, devido às ferrugens acumuladas pelo tempo sem uso. Cortamos
o cadeado.
Em seguida, forçamos a
porta emperrada e, finalmente, ela se abriu com estrondo. O mau cheiro do
interior do prédio chegou até nós. Aguardamos uns instantes, para nos
aventurarmos a entrar.
Através das vidraças
sujas, os raios de sol penetravam em jorros na sala principal e dali se
espalhavam pelos cômodos adjacentes. Muitas teias de aranhas nos deixaram em
alertas.
Algumas paredes
apresentavam rachaduras, sinal claro que as fundações do antigo sobrado estavam
abaladas. Muita poeira caía do teto, carcomido de cupins.
Fotos antigas de pessoas
estavam expostas em molduras ovais nas paredes das salas – deveriam ser os
antigos moradores. Da sala percebemos um imenso pátio interno, em que o mato
predominava. Giramos os calcanhares e caminhamos sobre o piso de ladrilhos
hidráulicos, através das paredes seculares, invadindo os demais recantos do
casarão.
A aceleração da pressão
sanguínea irradiava nossos cérebros e corações. Entramos em um dos vários
quartos – um forte cheiro de mofo estava no local. Vários móveis ainda se
encontravam ali. Mas, nada que sugerisse ter sido um escritório comercial.
Pelos reflexos de luz, que
vinham através das janelas, percebemos uma velha cômoda, ao lado de uma cama. Sobre
o tampo do móvel, um par de alianças de ouro, com iniciais gravadas e legíveis,
que resistira à ação do tempo.
Apesar da pouca luz do
ambiente, conseguimos ler as iniciais da parte interna das alianças: “L. & C. 1887”. A quem teriam
pertencido?! Não sabemos, mas, com certeza, terão pertencido a um casal cujo
amor já se dissolveu nas areias do tempo.
Do quarto seguimos até um
recanto amplo, atulhado de livros, revistas e maços de jornais amarelecidos e
mofados. Com certeza, era o que tanto procurávamos – a biblioteca do casarão.
O primeiro livro que vimos
foi uma antiga Bíblia – velha e bastante manuseada, com as pontas empenadas e
as folhas mofadas pela umidade do local. As bordas das suas páginas eram
douradas e começavam a clarear após os anos de uso. Folheamos as suas páginas e
ao soltarmos as folhas reluzentes cintilavam como uma cascata de ouro.
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