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15/10/2014


Mais um casarão da Ribeira

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
Era uma construção antiga de tetos altos. Tudo no prédio nos remetia a glória passada da Ribeira. Nas paredes exteriores, descascadas, dava para ver os enormes tijolos vermelhos à mostra. De aspecto envelhecido, aquele velho casarão sempre nos atraíra.
Segundo alguns antigos moradores ribeirinhos ali funcionara, nos finais do século XIX, o escritório de uma importante firma inglesa, que se dedicava ao comércio de importação de algodão.
Com ordem dos atuais proprietários do imóvel, chegamos para uma visita ao local – à procura de objetos marcados pelo tempo.
Segundo John Chadwick: “A vontade de descobrir segredos está profundamente enraizada na alma humana; até o menos curioso dos espíritos se inflama diante da ideia de deter uma informação proibida a outros”. E, no nosso caso, essas incursões históricas nos fascinavam!
Depois de atravessarmos um pequeno jardim, tentamos girar a lingueta do cadeado da porta de entrada. Em vão, nem se buliu, devido às ferrugens acumuladas pelo tempo sem uso. Cortamos o cadeado.
Em seguida, forçamos a porta emperrada e, finalmente, ela se abriu com estrondo. O mau cheiro do interior do prédio chegou até nós. Aguardamos uns instantes, para nos aventurarmos a entrar.
Através das vidraças sujas, os raios de sol penetravam em jorros na sala principal e dali se espalhavam pelos cômodos adjacentes. Muitas teias de aranhas nos deixaram em alertas.
Algumas paredes apresentavam rachaduras, sinal claro que as fundações do antigo sobrado estavam abaladas. Muita poeira caía do teto, carcomido de cupins.
Fotos antigas de pessoas estavam expostas em molduras ovais nas paredes das salas – deveriam ser os antigos moradores. Da sala percebemos um imenso pátio interno, em que o mato predominava. Giramos os calcanhares e caminhamos sobre o piso de ladrilhos hidráulicos, através das paredes seculares, invadindo os demais recantos do casarão.
A aceleração da pressão sanguínea irradiava nossos cérebros e corações. Entramos em um dos vários quartos – um forte cheiro de mofo estava no local. Vários móveis ainda se encontravam ali. Mas, nada que sugerisse ter sido um escritório comercial.
Pelos reflexos de luz, que vinham através das janelas, percebemos uma velha cômoda, ao lado de uma cama. Sobre o tampo do móvel, um par de alianças de ouro, com iniciais gravadas e legíveis, que resistira à ação do tempo.
Apesar da pouca luz do ambiente, conseguimos ler as iniciais da parte interna das alianças: “L. & C. 1887”. A quem teriam pertencido?! Não sabemos, mas, com certeza, terão pertencido a um casal cujo amor já se dissolveu nas areias do tempo.
Do quarto seguimos até um recanto amplo, atulhado de livros, revistas e maços de jornais amarelecidos e mofados. Com certeza, era o que tanto procurávamos – a biblioteca do casarão.
O primeiro livro que vimos foi uma antiga Bíblia – velha e bastante manuseada, com as pontas empenadas e as folhas mofadas pela umidade do local. As bordas das suas páginas eram douradas e começavam a clarear após os anos de uso. Folheamos as suas páginas e ao soltarmos as folhas reluzentes cintilavam como uma cascata de ouro.

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