Elísio
Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJelisio@mercomix.com.br
Neste
último domingo cheguei cedo à Ribeira, indo ao encontro de coisas que tinha
visto no passado e não queria esquecer. Ainda do alto da “Ladeira de Marpas”
observo os telhados dos antigos prédios, o rio, e o céu. O sol dá seu espetáculo
costumeiro ao surgir, como por encanto, sobre as águas do Potengi que banha o
bairro.
Pelo
horário, as ruas estão bem calmas. Uma ótima ocasião para rever os velhos
prédios onde funcionaram casas comerciais e repartições públicas, hoje
extintas. A história do bairro ribeirinho desaparece dia a dia, em meio às
ruínas e desamparo.
Porém,
com devoção, encaminho-me vez ou outra para andar por ali, na esperança de
avistar novamente as luzes do progresso e a revitalização tão prometida.
Caminho
na esperança de encontrar no chão ou diante de algum prédio antigo alguma velha
lembrança, como, por exemplo: um daqueles envelopes azuis da marca Elco, com bordas
enfeitadas por bandeirinhas em azul-marinho e vermelhas, com os dizeres “Luftpost”
e “Par Avion” impressos, tão comuns em Natal por ocasião da II Grande Guerra.
O
sol começa a esquentar e afugentar das ruas os últimos bêbados e desocupados,
que fazem do bairro o seu refúgio noturno. Continuo andando, como se fosse
possível trazer de volta as passagens do passado.
Alguns
passarinhos deixam os seus abrigos e com trinados alegres desfrutam da
liberdade e cantam, talvez, anunciando o novo dia que chega. Os pássaros
alegram-se com o sol, caçando frutinhas e vermes para levar aos filhotes que os
aguardam nos ninhos.
Prossigo
a caminhada solitária, pois a nostalgia dos tempos que se foram não me abala. Continuo
o passeio pelas ruas antigas e mal cuidadas, impregnadas dos perfumes da manhã
e da brisa suave que vem do rio. Noto, com pesar, que a fuligem persistente
enegrece as fachadas seculares de alguns prédios mal cuidados.
Chegam-me
lembranças de outros tempos – os quais, com certeza, não voltarão mais. Continuo
a observar, em muda desaprovação, as ruínas dos prédios antigos, que tinham
sido utilizados em atividades produtivas e agora declinam pelo abandono. Parece-me
que estou a folhear um velho álbum de fotografias, com folhas amareladas pelo
tempo.
Da
esquina da Rua Chile avisto um velho conhecido – o Rio Potengi que corre, sem
pressa, de encontro a bela ponte estaiada da Redinha.
À
minha direita, a Rua Dr. Barata, lembro-me que, em 1942, aquela rua foi o
centro da elegância de Natal, com belas lojas, cafés, e casais tranquilos que
passeavam durante as tardes. Era o “footing natalense”. Surpreendo-me com suas
condições atuais. Parece-me que está entregue ao mofo do esquecimento coletivo.
Detenho-me
frente a um antigo prédio abandonado e entregue a voracidade das ervas
daninhas. Pelo visto, não demora a ruir.
Prossigo
pela Rua Frei Miguelinho e deparo-me com o Beco da Quarentena transformado em
uma cloaca pública, criadora de insetos. De longe, observo o “cajá das
raparigas”, cheio de frutos. Porém é impossível me aproximar.
Volto
para Av. Tavares de Lira e detenho-me onde funcionou “Zé das Canetas”, ao lado
da barbearia de Chico Gororoba; a Agência Pernambucana, frente à Livraria
Internacional de João Rodrigues, nada disso existe mais.
Até
quando a Ribeira continuará o seu declínio?!
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