Elísio
Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
Ao
lado da Praça Augusto Severo, arborizada e deserta àquela hora da noite, o
relógio da estação de passageiros Great Western está em sua atividade
constante. Na parede frontal do prédio, os ponteiros do relógio correm,
marcando os minutos, e as horas avançam na noite.
O
silêncio favorece a propagação de qualquer som, mesmo distante. Na
tranquilidade da cidade adormecida, três badaladas atravessam a praça, em
direção ao Teatro Carlos Gomes.
Naquelas
horas noturnas, as lâmpadas sozinhas iluminavam as ruas com sua claridade
tênue. As moitas das vegetações baixas produzem sombras que, às vezes, assustam
os notívagos.
O
relógio da estação é o vigilante do tempo, na sua tarefa solitária e constante,
enquanto a maioria dos homens dormem, esperando por mais um dia em que o sol os
despertará.
No
centro da praça, a estátua de bronze de Augusto Severo. No lado oriental, o
Teatro Carlos Gomes, o Grupo Escolar Augusto Severo e a Escola Doméstica de
Natal.
Atrás
dos trilhos luzidios, o Rio Potengi, que parece não ter pressa em sua jornada
de encontro ao mar. As estrelas vagam no céu, enquanto o vento proveniente da
Redinha se atreve a chegar até a praça e ruas próximas. No ar, o perfume da
noite na Cidade Baixa é inebriante.
O
silêncio é total – nenhum barulho de máquina ou de voz humana. Apenas o latido
ocasional de um cão vadio quebra aquele silêncio. Vez por outra, os apitos estridentes
dos guardas-noturnos se fazem ouvir.
Nem
sinal do “Lobisomem” ou do “Batatão” que, segundo a tradição oral, corriam pela
Ladeira da Cruz, assustando as pessoas nas quintas-feiras. De vez em quando,
uma lufada mais forte de vento traz até Rodolfo o cheiro do mangue, ali
próximo, depois da Rua Chile.
Em
meio às árvores altas, o coreto permanece em silêncio, talvez, recordando a
última retreta ali realizada pela Orquestra Militar. Os morcegos que fizeram
das árvores a sua morada diurna começam a retornar.
De
repente, uma algazarra chama atenção de Rodolfo. É um grupo de marinheiros
barulhentos, que quebram o silêncio da praça, com seus gritos e prosas em voz
alta. Provavelmente, dirigem-se ao Porto, no final da Rua Chile, onde um navio
argentino se prepara para partir.
A
lua, no alto, clareia as águas do rio que se tornam pratas. Rodolfo apressa-se,
logo mais os vendedores ambulantes, leiteiros, entregadores de pão,
jornaleiros, estarão nas ruas do centro comercial e portuário apregoando seus
produtos. Então, senta-se no Tabuleiro da Baiana e pede uma cerveja “Teutonia”
gelada, antes de voltar ao Grande Hotel. Tabuleiro da Baiana homônimo do ponto
circular de bondes, que existiu no encontro da Rua Senador Dantas com o Largo
da Carioca, no Rio de Janeiro.
Na
época, a Praça Augusto Severo era o elo que ligava fisicamente os dois mais
antigos bairros da Cidade, separados por uma “campina alagada”.
Gostei do conto
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