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20/09/2013



Um passeio matinal pela Ribeira 

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br

Neste último domingo cheguei cedo à Ribeira, indo ao encontro de coisas que tinha visto no passado e não queria esquecer. Ainda do alto da “Ladeira de Marpas” observo os telhados dos antigos prédios, o rio, e o céu. O sol dá seu espetáculo costumeiro ao surgir, como por encanto, sobre as águas do Potengi que banha o bairro.

Pelo horário, as ruas estão bem calmas. Uma ótima ocasião para rever os velhos prédios onde funcionaram casas comerciais e repartições públicas, hoje extintas. A história do bairro ribeirinho desaparece dia a dia, em meio às ruínas e desamparo.

Porém, com devoção, encaminho-me vez ou outra para andar por ali, na esperança de avistar novamente as luzes do progresso e a revitalização tão prometida.

Caminho na esperança de encontrar no chão ou diante de algum prédio antigo alguma velha lembrança, como, por exemplo: um daqueles envelopes azuis da marca Elco, com bordas enfeitadas por bandeirinhas em azul-marinho e vermelhas, com os dizeres “Luftpost” e “Par Avion” impressos, tão comuns em Natal por ocasião da II Grande Guerra.

O sol começa a esquentar e afugentar das ruas os últimos bêbados e desocupados, que fazem do bairro o seu refúgio noturno. Continuo andando, como se fosse possível trazer de volta as passagens do passado.

Alguns passarinhos deixam os seus abrigos e com trinados alegres desfrutam da liberdade e cantam, talvez, anunciando o novo dia que chega. Os pássaros alegram-se com o sol, caçando frutinhas e vermes para levar aos filhotes que os aguardam nos ninhos.

Prossigo a caminhada solitária, pois a nostalgia dos tempos que se foram não me abala. Continuo o passeio pelas ruas antigas e mal cuidadas, impregnadas dos perfumes da manhã e da brisa suave que vem do rio. Noto, com pesar, que a fuligem persistente enegrece as fachadas seculares de alguns prédios mal cuidados.

Chegam-me lembranças de outros tempos – os quais, com certeza, não voltarão mais. Continuo a observar, em muda desaprovação, as ruínas dos prédios antigos, que tinham sido utilizados em atividades produtivas e agora declinam pelo abandono. Parece-me que estou a folhear um velho álbum de fotografias, com folhas amareladas pelo tempo.

Da esquina da Rua Chile avisto um velho conhecido – o Rio Potengi que corre, sem pressa, de encontro a bela ponte estaiada da Redinha.

À minha direita, a Rua Dr. Barata, lembro-me que, em 1942, aquela rua foi o centro da elegância de Natal, com belas lojas, cafés, e casais tranquilos que passeavam durante as tardes. Era o “footing natalense”. Surpreendo-me com suas condições atuais. Parece-me que está entregue ao mofo do esquecimento coletivo.

Detenho-me frente a um antigo prédio abandonado e entregue a voracidade das ervas daninhas. Pelo visto, não demora a ruir.

Prossigo pela Rua Frei Miguelinho e deparo-me com o Beco da Quarentena transformado em uma cloaca pública, criadora de insetos. De longe, observo o “cajá das raparigas”, cheio de frutos. Porém é impossível me aproximar.

Volto para Av. Tavares de Lira e detenho-me onde funcionou “Zé das Canetas”, ao lado da barbearia de Chico Gororoba; a Agência Pernambucana, frente à Livraria Internacional de João Rodrigues, nada disso existe mais.

Até quando a Ribeira continuará o seu declínio?!

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