IHGRN: NOVO
RUMO, NOVO PRUMO
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
O tempo é a dimensão da
mudança. O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte é o único
bem que ficará após tudo o mais passar.
O prédio foi construído
por Augusto Tavares de Lyra, entre 1905 e 1906, na área nobre e histórica da
cidade, vizinho à antiga catedral metropolitana e ao palácio do governo erguido
por outro conterrâneo, Alberto Maranhão. Tem frentes tanto para a rua da
Conceição como para a praça André de Albuquerque. É um chão sagrado de
antepassados. Bem próximo, está a praça Padre João Maria, hoje transformada num
lastimável camelódromo. Ainda ali perto, o museu Café Filho, a primeira
construção assobradada, ainda do período colonial. E um pouco mais adiante, o
sobradão clássico onde funcionou o Tesouro Provincial, hoje Memorial Câmara
Cascudo e o Convento Santo Antonio, todos monumentos tombados pelo Patrimônio
Histórico. E com importância político-administrativa estão cravados também
nesse quadrilátero de ocorrências históricas as sedes dos Poderes Legislativo e
Judiciário.
Venho encarecer a
atenção das excelentíssimas autoridades para os cuidados que essa contextura
patrimonial, histórica, turística, representa para Natal nos dias de hoje. Os
prédios, as praças, a iluminação pública ao derredor, necessitam de paisagismo
compatível como berço da cidade dos Reis Magos. Nesse território emocional e
dominó de reminiscências inapagáveis imperam o lixo, a predação, a escuridão, o
abandono e a insegurança. Urge, para essa área, um tratamento diferencial e
seletivo de ressurreição de ambiente.
E o Instituto
Histórico, pobre mas altivo, é o capataz dos mistérios circundantes, há 117
anos – a completar no dia 29 de março. Ele permanece como guardião do mais
importante acervo histórico do estado. Agora, eu indago, deve continuar
abandonado? Ele detém a guarda de todas as leis e decretos de governo de 1835 a
1952, documentos de demarcação de terras de 1615 a 1807, sesmarias de 1702 a
1716 e de 1748 a 1754. O livro de Barleus, no qual Gaspar Van Barle descreve os
oito anos do governo holandês de Maurício de Nassau, de 1647, bíblias antigas,
bibliotecas, mapas geográficos, objetos de museus, versos, manuscritos e
registros eclesiásticos, fotografias de personagens da história política,
social, cultural, jurídica e religiosa do Rio Grande do Norte de cem a
trezentos anos passados desde os períodos: colonial, imperial e republicano.
No Rio Grande do Norte, por
exemplo, está na hora do governo atual reunir os órgãos de cultura do estado:
Academia Norte-Riograndense de Letras, Conselho de Cultura, Instituto Histórico
e mais ensaístas, poetas, historiadores, sociólogos e críticos literários para
ouvir sugestões dessa atividade tão pluralista e significativa da sociedade,
porem, totalmente esquecida e somente lembrada para eventos passageiros.
A beleza plástica dos
casarões, o teor emotivo e sentimental que retratam a abordagem lírica de
épocas imemoriais, em qualquer país civilizado, nunca foram substituídos por
folguedos e fanfarras. A preservação do patrimônio histórico e artístico do Rio
Grande do Norte precisa de maior atenção e acuidade perceptiva dos governos.
Como na Trindade Santa, o passado, o presente e o futuro se entrelaçam na mesma
realidade temporal. São três tempos distintos numa só integridade temporal;
amalgamados de idéias e inteiriços. Que esse cabedal seja intenção e
deliberação permanentes dos órgãos de cultura do estado.
Não existe outra
maneira de salvar tudo sem o apoio resoluto dos órgãos governamentais, das
instituições privadas e da sociedade de modo geral. Esse patrimônio que estamos
guardando, protegendo, é público, é da história, é do povo do Rio Grande do
Norte. Parabéns ao presidente Ormuz Barbalho Simonetti e aos diretores do
IHGRN.
(*) Escritor
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