N
A T A L – História e estórias
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, da
ANRL, ALEJURN, AML, UBE-RN e IHGRN
1.
Fundação
A cidade de Natal ou do Natal, dos
Reis, dos Três Reis Magos, Nova Amsterdan - já surgiu polêmica pela forma de
sua denominação. Também assim o foi para se ter a certeza da data de sua
fundação – 1) ao tempo da presença francesa no território potiguar, aconteceu a
expedição comandada por Manuel Mascarenhas Homem chegada aqui em 25 de dezembro
de 1597, com o fim de expulsar os invasores, construir um forte e fundar uma
cidade, tendo designado Jerônimo de Albuquerque para demarcar o sítio onde
seria fundada a cidade; 2) Segundo o Padre Serafim Leite S.J. – “chamou-se
Natal por ter sido o tempo em que a armada entrou na barra do Rio Grande do
Norte; 3) Francisco Adolpho Varnhagen escreve que a cidade se chamou Natal, em
virtude de haver inaugurado o seu pelourinho, símbolo de poder e celebrado
missa em sua igreja matriz no dia 25 de dezembro de 1599; 4) Frei Salvador, por
sua vez, indica que após as pazes com os potiguares, fez-se uma povoação no Rio
Grande uma légua do forte, a que chamaram cidade dos Reis; 5) com a nomeação de
João Rodrigues Colaço em 9 de janeiro de 1600, este passou a governar a
Capitania e assim deveria ser considerado o fundador da cidade.
Afinal Quem fundou Natal? Nas
inúmeras pesquisas o assunto vai ficando mais confuso, inclusive atribuindo-se
conclusões, nem sempre – que Luís da Câmara Cascudo, Hélio Galvão e Olavo
Medeiros atribuíram a fundação a Mascarenhas Homem. Contudo, somente para os
dois últimos há peremptória indicação: Natal foi criada em 25 de dezembro de
1599, cumprindo missão e sob a regência do capitão-mor de Pernambuco Manuel
Mascarenhas Homem, que vinha erguer uma fortaleza e fundar uma cidade, trazendo
aparelhamento para tanto, sendo uma das capitais mais antigas do Brasil. Em
verdade. Não vislumbramos precisão na indicação de Cascudo, tanto que em sua
História da Cidade do Natal, ao final do livro apresenta o capítulo XLIV,
denominado “De Rebus Pluribus”, onde no calendário das efemérides da cidade do
Natal registra: “25 de dezembro – 1599 – Jerônimo d’Albuquerque funda a Cidade
do Natal”. Também Manoel Ferreira Nobre (1877), nosso primeiro pesquisador do
assunto e Tavares de Lira (1921) apenas relatam os fatos, mas o primeiro chega
a argumentar que Jerônimo e João Rodrigues Colaço eram simples prepostos. E
agora? Quem fundou Natal?
Em nosso ver, deve ser
atribuída a Manuel Mascarenhas Homem, porque era ele a autoridade
possuidora dos poderes outorgados pela Coroa para a fundação da cidade, embora
a execução tenha ocorrido pelo seu subordinado Jerônimo d’Albuquerque. Ora, não
é o executor de ordens a quem deva ser considerado fundador, mas aquele que
ostentava o poder de declarar a existência da cidade fundada.
Afinal, tudo só foi possível com o desempenho e autoridade de
Mascarenhas Homem.
O assunto continua indefinido e não se
queira o milagre de que possamos definir a questão no estreito espaço de
simples artigo. Com a palavra os pesquisadores!
2. Desenvolvimento
Natal pode ser dividida em épocas do
seu desenvolvimento: no período de sua fundação em 1599, até o advento do
século XVI tivemos a busca das primeiras atividades urbanas, evidentes a partir
do século XVII e seu desenvolvimento cultural nos anos 1800, com um crescimento
acelerado no século XIX e definição do seu perfil no Século XX, notadamente em
suas duas primeiras décadas, resultado de acontecimentos inesperados, que deram
rumos novos no caminhar manso de uma província nordestina.
A certo ponto de sua existência, Natal
foi avaliada como propensa ao comodismo provinciano, como registram renomados
estudiosos da nossa história:
Polycarpo Feitosa (Antônio José de Melo
e Souza – 1867 – 1955), na sua longevidade e experiência de ex-Governador do
Estado, por dois mandatos, confirma nossa índole preguiçosa, subalterna e
desinteressada para o porvir:
... dividida em dois
pequenos bairros de ruas impossíveis, ou sem calçamento ou grosseiramente
calçadas de pedra bruta, sem edifícios, sem jardins, com pequeno comércio e
nenhuma indústria, parecerá mais uma vila pacata de interior do que uma capital
marítima.
Segundo ele, pelo que parecia, o
potiguar sempre viveu na sombra de o Governo melhorar a qualidade de vida dos
cidadãos, sem considerar a necessidade de uma participação ativa dos seus
munícipes, sem o comodismo de ser apenas cidade dos negociantes, militares e
servidores públicos, sem a participação substancial dos construtores e
produtores do progresso, exagerada valoração ao estrangeiro, submetida ao
domínio de oligarquias, iniciada com a dos Albuquerque Maranhão.
Embora prevalente a falta de solidariedade,
remanesce evidente o individualismo, o egoísmo, com exagero na ostentação do
luxo, ainda que para isso fosse apertado o cinto da subsistência, como parecia
insinuar Rocha Pombo, em sua História do Rio Grande do Norte
(1922): “Continuou Natal a sua vida mofina até além dos meados do século”.
Os remanescentes das exceções, como Henrique Castriciano e Manoel Dantas
permitiram, com outras inteligências da época, nos anos que se seguiram,
principalmente no século XX, apregoar uma mudança de filosofia de vida e
chegaram esses visionários intelectuais, a apontar um lugar ao sol para a
sequência natural do engrandecimento da cidade.
3. Uma mudança de rumo
O registro de maior importância, em
nosso sentir, nasce com a Conferência de Manoel Dantas em 1909, que traçou o
novo perfil para a cidade com seu discurso Natal Daqui a 50 anos.
Para a nossa sorte surgem os
profissionais liberais formados nos estados vizinhos, os governantes
progressistas como Alberto Maranhão, José Augusto e Juvenal Lamartine
(ex-governadores) e Omar O’Grady (ex-prefeito de Natal), juntamente
com jornalistas, literatos e pesquisadores, que deram nova roupagem à vida
social, com influência da Belle Époque, no surgimento dos cafés como centros
culturais, a teor do Cova da Onça, Café Potiguarânia, depois denominado de
Magestic[1], Grande Ponto, o Natal Clube[2]. Em sequência aos costumes de cafés fomentadores de
confrarias - registramos o famoso Café São Luiz, fundado em 1937, que resistiu a
2ª Guerra Mundial, vivenciou a ditadura militar e repercutiu a ida do homem à
lua. Também presenciou o retorno da democracia por meio da abertura política no
início dos anos 80 e se rendeu aos caprichos da tecnologia da virada do
milênio, mas rendeu-se à conjuntura econômica e fechou em 2017.
Também releva registrar a criação de
associações (Grêmio Polymathico, Grêmios Literários “Castro Alves”, “Carlos
Gomes”, “Euclydes da Cunha” e “Le Monde Marche”, este possuidor de um veículo
mensal de divulgação – a Revista “Oasis”), ainda, o Ginásio Dramático, o
Congresso Literário, a Diocésia, dentre outros, das Revistas A Tribuna,
Oásis e Bando, jornais A República, O Parafuso e dos Teatros (inicialmente
cobertos de palhas - Cascudo chegou a escrever que em 1840 foi construído
o primeiro e precário teatro de palha da cidade). Aliás, tudo leva a crer que o
Teatro foi o primeiro veículo de exteriorização da cultura, com um grupo de
artistas que formavam a Sociedade do Teatro Natalense, presidida por Matias Carlos
de Vasconcelos Monteiro, além dos estudantes do Atheneu que criaram a Sociedade
Recreativa Estudantil, em 1850, onde já despontava o grande poeta Lourival
Açucena e ainda a Sociedade Dramática Natalense. Depois outros foram erguidos
em alvenaria com destaque para o Carlos Gomes, hoje Alberto Maranhão em
1903-1904, alimentando novos grupos, como o Recreio Juvenil Dramático ao qual
pertenceram Nestor dos Santos Lima e Francisco Ivo Cavalcanti (Ivo Filho).
Por ironia, Natal, hoje, está com seus
Teatros fechados – o Alberto Maranhão em obras indefinidas; o Sandoval
Wanderley extinto; o Riachuelo deve ser retirado desse rol, por ser um recanto
eclético e particular, sem guardar a atmosfera natural do teatro tradicional.
Resta-nos o modesto Teatro de Cultura Popular, da FJA, quebrando o galho.
O Atheneu Norte-rio-grandense merece
uma capítulo especial – celeiro de grandes figuras, considerado verdadeira
universidade do saber. E o Colégio Santo Antônio (Marista), fundado pelos
padres da Diocese de Natal em 1903, fonte de inteligências que engrandeceram a
cidade presépio.
Esses espaços de cultura logo
influenciaram o natalense, com maior localização no bairro da Ribeira, berço da
boemia, da política, do comércio em geral, lugar onde a infraestrutura
portuária e ferroviária mais se desenvolveu.
A iluminação pública, o bonde, a
urbanização muito contribuíram para o novo perfil de Natal. O surgimento de
associações e agremiações desportivas como os clubes
de remo, o Centro Náutico Potengi e o Sport (Esporte) Club de Natal, depois o
dissidente, de duração efêmera - Clube de Regatas União do RN, com
o surgimento da “bola”, artefato aqui trazido por
marinheiros do navio Criméia em 1872, foram criados os clubes de futebol como o
Sport Club Natalense (ou Natal Sport Club) em 1907 e, em 1915 em plena Primeira
Guerra, os clubes ABC, América e Alecrim. Em 1918 foi criada a Liga.
Daí por diante a previsão de Manoel
Dantas se realizou e a cidade cresceu vertiginosamente, tem economia definida,
em especial no turismo, com cerca de 167 km² com aprazíveis praias e população
estimada de 885.180 pessoas (2017), é bela e acolhedora, embora ainda resistam
alguns costumes pouco lisonjeiros, como a soberba, a prevalência da
individualidade de uma minoria intelectual e o uso de uma linguagem rançosa e
desnecessariamente empolada!
Este trabalho tem o condão, apenas, de
acender a luz do conhecimento da nossa história. Para tanto indicamos obras que
efetivamente poderão iluminar o caminho e separar a história das estórias.
Referências bibliográficas consultadas:
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Sebo Vermelho – Edições, 2017.
_______ (Org.) Crônicas de Origem – Luís da Câmara Cascudo. Natal:
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independente, 1903 e 1904.
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independente, 1951, 1955 e 1959.
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da Ágora Soberana Potiguar – MÚLTIPLAS MEMÓRIAS. Natal: Edições
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CASCUDO, Luís da Câmara. O Tempo E Eu. Natal: Imprensa
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__________ Crônicas de Origem. 2ª Ed. Natal: EDUFRN,
2011.
__________ História da Cidade do Natal. Natal: Edufrn, 2010.
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do Criatório Norte-Rio-Grandense. Natal: nº 500 - Sebo Vermelho –
Edições, 2017.
FERREIRA, Angela Lucia & DANTAS, George
(organizadores). Surge et Ambula – A construção de uma cidade moderna –
Natal 1890-1940. Natal, EDUFRN, 2006.
GALVÃO, Hélio Mamede de Freitas. História da Fortaleza da Barra do Rio
Grande. Natal: 2ed. Fundação Hélio Galvão - Scriptorin Candinha
Bezerra, 1999.
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GURGEL, Tarcísio. Belle Époque na esquina. Natal: Ed. Do Autor,
2009.
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SOARES JÚNIOR, José. Ontem, Hoje e Sempre. 70 anos rumo à
luz. (Volumes I e II). Natal: ANRL. 2007.
[1] O
Café Magestic, localizado na Cidade Alta, dividia as preferências com o Salão
Rio Branco, que regurgitava de gente, num movimento ensurdecedor. No mesmo
perímetro a Diocésia (a ‘Roda Literária’) esgueirava-se pela escada acima e ia
alojar-se no sótão e lá ficava, na alegria das palestras literárias ou
difundindo histórias humorísticas.
[2] Natal
Club, associação para jogos, artes, cultura e também de festas e danças, criado
no ano de 1906, e, por incentivo do Governador Alberto Maranhão, tomou novos
rumos, com a cessão de prédio estadual, reformado pelos associados e em lugar
privilegiado no centro da cidade (local que hoje corresponde à Praça Kennedy.
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