Seu Joca
Por Gustavo Sobral
O vale dividia distâncias que só ali se mediam. O verde da cana
imperava absoluto, confundia propriedades. Coisas de herança,
inventários, posses, limites, registros, carimbos e até desavenças. Seu
Joca, tinha por herança. Do partido popular do governador José Augusto,
os jornais lia todos e preferia A República. Paletó sem gravata, relógio
na algibeira e uma pistola de dois tiros, uma bengala e puxava uma
perna. E montava. Barba branca e comprida, escovada todo santo dia.
Feito o imperador Pedro II, nunca aparou. Olhos bem azuis e miúdos,
passados para Manuel, Jacob e Adelaide.
Do tipo calado atravessava uma légua rumando do engenho a
Ceará-Mirim. Não perdia missa de domingo, o cavalo alazão baixeiro todo
não concedia atraso. Levantava quatro horas da madrugada para tratar do
canavial e do gado. Viajou ao Norte para resgatar a irmã, de lá trouxe
manga Mariti para plantar. Lia a Bíblia e aplicava sermão invocando as
parábolas lá escritas. O pai português teve as terras que vão de Ilha
Bela a Timbó. Joca fez engenho e rua de casas que pôs o nome Guarani. No
começo, moagem da cana por obra de umas bestas na almajarra, animais
que criava lá por Baixa Verde junto a um gadinho pouco. Começava a moer
em agosto o açúcar entregue a Tiburtino Bezerra que negociava para a
Inglaterra. O transporte em lombo de animal até Igapó, ali de canoa pelo
Potengi até os armazéns da Ribeira.
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