Casa na floresta
18/03/2018
Casa Thiago de Mello, projeto de Lúcio Costa
Barreirinha/AM. 331 km de Manaus. 1978. Thiago de Mello volta do
exílio para a sua cidade, depositada num dos afluentes do rio Amazonas.
Obra acompanhada por Severiano Porto, com trabalho de pedreiros locais.
Uma residência para um poeta. Estrutura de madeira, construção de taipa e
cobertura de palha, foi a proposta de Lúcio, o amigo arquiteto. Lúcio
Costa, o projetista da cidade de Brasília, o amigo de Niemeyer, o
defensor e estudioso do patrimônio histórico brasileiro.
A casa, Lúcio fez um cubo, e Thiago, o poeta, empreiteiro e mestre de
obras e sua equipe de trabalhadores locais construíram em tijolo, telha
e tela como janela. É que tem muito mosquito. Sobre pilotis de 2,25
metros que a cheia do rio cobre metade. A casa toma banho em parte do
ano. Sua janela é o verde da mata, o sol que entra pelas folhas, as
nuvens que passam lá longe, uma trilha de canto de pássaros. Lúcio nunca
esteve em Barreirinha. Mas desenhou a casa com tudo que era preciso,
como o poeta lhe contou.
Pensou numa casa agradável para o clima quente, e assim a casa é bem
arejada e com cento e vinte metros quadrados. No térreo, sala, lavabo,
cozinha e quarto de hóspedes. No segundo pavimento, quarto, banheiro e
escritório com vista para a paisagem. A casa é um cubo bem orquestrado,
síntese de um arquiteto que desenhara toda uma vida, e o poeta dele
disse que, além de inventor de cidades, desenhou a casa como uma rosa,
talvez uma azaleia que flutua nos rios e igarapés.
Só acessível de barco. Ao lado, foram feitos, também encomendados a
Lúcio, uma biblioteca e outro espaço para trabalho. Tudo com status
construído, sempre na antevisão do sonho e aquecido pelo calor da
emoção, quando o poeta, terminada a casa, escreveu o poema Canção para
Lúcio Costa –, ao erguer a cumeeira da casa, o poeta só pode chorar, era
orgulho de sentir e saber a casa própria realizada, orgulho de ser
capaz, ele mesmo, um poeta, de construir o próprio refúgio.
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