SETE ELEGIAS DE UM ANO FINDO
1
Vestida de azul levaram a infanta
e a sua casa ficou vazia
2
A Luiz Maranhão Filho, mártir do povo:
Sob o peso da noite
e do vinho amargo
bati à porta da treva
e gritei o teu
nome
mas nada ouvi senão ecos
a fulminar
a
memória
3
Dois olhos vazios
bebem sonolentos
as águas do rio
entre eles a ponte
recolhe o choro inútil
da argila molhada
4
Noite
noite fria
o vento traz a lembrança
da poeira pisada
e do estrume dos currais
a lua e o vento
brincam na rua deserta
e o som do
chocalho
desmaia
nas cinzas do
passado
5
Alguém chora
mas não há
lágrimas
exceto vagalumes
náufragos aéreos
que à deriva espalham
luzes
do
éden perdido
6
Há um abismo doce
nesses beirais que
falam
da chuva que veio do mar
e que esqueceu
a velha paixão do sal
abandonado
no leito secreto
dos amores
soterrados
7
essas águas que
passaram
levando no asfalto
folhas caídas
das sete colinas de Lisboa
no último dia do
ano findo
mas a passar vejo-as ainda
pois na eternidade nada finda
(Horácio Paiva)
FIM DE ANO
convém a um velho
jovem
celebrar
o fim e o começo
convém
preparar o banquete
(e sobretudo o vinho)
do último
e do primeiro
instante
convém
celebrar com alegria
a partida
e a chegada
a antiga
e a nova aliança
e no ocaso celebrar
o triunfo da vida
afinal
o velho foi
necessário
ao advento do novo
(HORÁCIO PAIVA)
PAN Y LUZ
con lápiz invisible
describo en la oscuridad
lo que no veo
y puesto sobre la mesa
creo haber un pan
a la espera de la luz
PÃO E LUZ
com lápis invisível
descrevo na escuridão
o que não vejo
e posto sobre a mesa
creio haver um pão
à espera da luz
(Horácio Paiva)
Lisboa, 31/12/2013)
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