PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO
Estão previstas para o segundo semestre de 2018 eleições em nível
federal e estadual. Serão escolhidos deputados, senadores, governadores e
presidente da república. Para muitos, época de corrida em busca do
poder. A bem-aventurada Irmã Dulce dizia que “ninguém administra digna e
eficazmente, se não cultivar a virtude da humildade”. Eis uma das raras
definições de Cristo a seu respeito: “Aprendei de mim que sou manso e
humilde” (Mt 11, 29). A humildade torna-nos mais humanos, mostrando
nossas limitações e fragilidades, que dificultam ou impossibilitam
mudanças de atitude. É preciso que ela exista, tanto no cidadão comum
quanto nos que exercem cargos elevados. “Sem ela, não haverá líderes
autênticos”, declarou recentemente o papa Francisco, em audiência a um
chefe de estado. É o primeiro passo para a sabedoria, que permite
encontrar saídas para as crises e expressar sensibilidade para definir o
que realmente é certo e prioritário.
O Brasil necessita urgentemente de verdadeiras lideranças, pessoas
abertas a novas percepções e posturas políticas, dispostas a avançar sob
o impulso do diálogo e da ética. Estes são antídotos contra a
mediocridade de desempenhos e a pobreza de propostas daqueles que, em
vez de pensar no bem comum, são orientados por partidarismos deletérios.
Um tempo novo, um Estado reconstruído, uma sociedade equilibrada,
capaz de superar tristes cenários, serão edificados, a partir dos
pilares da humildade, da crítica e da ética. Deste modo, é mais fácil
chegar à superação da nefasta cultura, que caminha na contramão da
transparência e da honestidade. Assim é possível orientar condutas e
neutralizar o famoso “jeitinho brasileiro”. Este consiste especialmente
na falta de seriedade, no costume de burlar normas e procedimentos, com o
objetivo de alcançar vantagens pessoais e para aqueles que lhes são
próximos ou correligionários.
Somente os éticos e humildes conseguirão transformar a sociedade.
Infelizmente para tantos, o poder é a suprema ambição, a maneira de se
comparar a Deus. Segundo alguns teólogos, a megalomania de Adão e Eva,
na metáfora bíblica do Livro do Gênesis, mostra o primeiro pecado da
humanidade. “Queriam ser iguais a Deus” (Gn 3, 5). Há políticos que
gastam somas milionárias (dinheiro talvez subtraído das necessidades do
povo) em campanhas eleitorais. Mesmo derrotados, voltam à cena. A sede
hegemônica parece proporcional à fortuna que dilapidam. Sentem-se
frustrados, expulsos do Olimpo dos deuses, quando ficam fora dos postos
de mando. Caem em depressão e, passada a ressaca, voltam à disputa com
menos escrúpulos.
O exercício do poder modifica, em muitos, o modo de pensar, viver e
agir, operando em certas pessoas uma transformação psicológica, social e
cultural. Quantos se realizam e são felizes, cercados de bajuladores,
convites e homenagens, rodeados de assessores e desfrutando de uma
infraestrutura que os reveste de uma aura especial. Chegam a trocar de
carro, casa, amigos e até de cônjuge. Jactam-se em aprovar projetos,
liberar recursos, autorizar e inaugurar obras, permitir viagens,
distribuir cargos, promover pessoas e conceder benesses.
Não raro, quem galga e se apega a postos de alto escalão só admite
elogios. As críticas minam sua autoimagem e exibem suas contradições.
Daí, os poderosos formarem um círculo hermético, acessível apenas aos
que seguem suas ideias e cumprem suas ordens. Por que o poder encanta
tanto? Em geral, alimenta os medíocres, que gostam de ser incensados.
Seu ego necessita de uma máscara ou cortina de fumaça. Ele já está
latente na alma de muitos e revela o seu caráter. Isso acontece desde os
dignitários do país aos que exercem funções mais simples. São poucos os
que agem como Cristo ensinou, a serviço do bem, da justiça, da
solidariedade e da paz. “Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser ser
o maior, seja aquele que vos serve. Quem quiser ser o primeiro, seja
vosso servidor. Pois, o Filho do Homem veio não para ser servido, mas
para servir e dar a sua vida para o bem de muitos” (Mt 20, 26). Há
governantes, políticos, religiosos e autoridades que se servem do povo e
não servem ao povo. Convém lembrar bem disso nas próximas eleições.
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