Casa de todos,
15/01/2018
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra
Camping do Amor
Seu alicerce é uma falésia vermelha, formada pelo tempo e talhada
pelo vento. Seus sulcos são desenhos que a natureza construiu na
perenidade da vida. Forma um grande terraço em que pequenos desníveis
constroem um mirante privilegiado. Quadro permanente de mar e céu,
pinta-se a cada passagem do dia por uma cor e um sentimento. Céu e mar
formam a grande janela dessa casa, cujo piso que se assenta é um gramado
infinito.
A casa tem seus compartimentos ao ar livre. Recebe todos sem
distinção e entrega a cada um o encontro com si mesmo. Ali, o homem é a
natureza. É capaz de se integrar, de recuperar a simplicidade da vida.
Sua matéria é o que lhe cerca. A casa é de todos. O nome da casa vem da
praia, aquela que se vê lá embaixo, a Praia do Amor.
Está em Pipa/RN, uma casa que acolhe casas temporárias, barracas de
acampamento de viajantes, gente de todo canto. É o mundo de Salma e de
sua família, do marido Roberto, da filha Ananda e de seus visitantes.
Acolhida para todos, casa temporária, para quem passa é permanência, é
mundo, é terra. Uma casa que se esparrama por dez mil metros quadrados,
cajueiros, árvores, gramado, horta, a casa também se faz do que se
planta.
A arborização é a roupa da casa, conforme revela a proprietária. Tudo
aprendido aos poucos com o convívio com as pessoas do lugar, na lida
diária, na lavagem de roupa no rio, na produção do artesanato. A casa é
uma casa de passagem onde vidas se cruzam na sua permanente
transitoriedade, em que a brisa que do mar sopra e a Brisa, a cadelinha
que corre e late, não deixam de contar que o tempo é hoje.
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