16/01/2018

Casa de todos,

15/01/2018



texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra

Camping do Amor
Seu alicerce é uma falésia vermelha, formada pelo tempo e talhada pelo vento. Seus sulcos são desenhos que a natureza construiu na perenidade da vida. Forma um grande terraço em que pequenos desníveis constroem um mirante privilegiado. Quadro permanente de mar e céu,  pinta-se a cada passagem do dia por uma cor e um sentimento. Céu e mar formam a grande janela dessa casa, cujo piso que se assenta é um gramado infinito.

A casa tem seus compartimentos ao ar livre. Recebe todos sem distinção e entrega a cada um o encontro com si mesmo. Ali, o homem é a natureza. É capaz de se integrar, de recuperar a simplicidade da vida. Sua matéria é o que lhe cerca. A casa é de todos. O nome da casa vem da praia, aquela que se vê lá embaixo, a Praia do Amor.

Está em Pipa/RN, uma casa que acolhe casas temporárias, barracas de acampamento de viajantes, gente de todo canto. É o mundo de Salma e de sua família, do marido Roberto, da filha Ananda e de seus visitantes. Acolhida para todos, casa temporária, para quem passa é permanência, é mundo, é terra. Uma casa que se esparrama por dez mil metros quadrados, cajueiros, árvores, gramado, horta, a casa também se faz do que se planta.


A arborização é a roupa da casa, conforme revela a proprietária. Tudo aprendido aos poucos com o convívio com as pessoas do lugar, na lida diária, na lavagem de roupa no rio, na produção do artesanato. A casa é uma casa de passagem onde vidas se cruzam na sua permanente transitoriedade, em que a brisa que do mar sopra e a Brisa, a cadelinha que corre e late, não deixam de contar que o tempo é hoje.

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