MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO
Durante muito
tempo tivemos em nossa cidade cinco emissoras de rádio AM. Todas elas tinham
programação local, com locutores, programadores e técnicos que divulgavam nosso
cotidiano, nossa música, cultura, costumes, sempre com nosso sotaque e interesses.
Com a passagem do tempo, vieram inovações tecnológicas, novas emissoras FM e
programações retransmitidas de grandes emissoras de outros Estados, sobretudo
do eixo Rio-São Paulo.
Algumas rádios
AM foram retiradas do AR (Rádio Poti, Tropical), outras tiveram suas
programações direcionadas a religiões (Rádio Nordeste, Emissora Rural) ficando
apenas a Radio Globo (Antiga Cabugi), como retransmissora da Radio Globo (Rio
ou São Paulo), e programação local apenas em horários específicos (esporte) e
um programa de variedades, (Manhã da Globo), que era comandado por um
radialista local, Duarte Júnior, com mais de trinta anos de rádio, e que
através de suas informações, conversas com o público, noticiário, opiniões e
notas de utilidade pública, se constituía como o único programa que falava dos
nossos problemas, de cultura e falava a nossa linguagem, com sotaque local, sem
tentativas de imitação de outros sotaques.
Como aficionado
por rádio, sempre que podia mantinha o rádio sintonizado na emissora Globo
Natal, no horário do Radialista Duarte Junior. Entretanto, para surpresa minha
e de seus inúmeros ouvintes, o programa foi retirado do ar, entrando no horário
programas da Radio Globo (Rio/São Paulo). Posteriormente tomei conhecimento que
o radialista havia sido dispensado da emissora (Contrato de Trabalho
rescindido). Não houve qualquer comunicação ou aviso aos seus ouvintes.
É evidente
que, como empresa, a Rádio Globo Natal, tem todo o direito de contratar,
rescindir ou mudar sua programação, até aí, nada a contestar contra a decisão
da emissora. Entretanto, como ouvinte, como defensor da nossa cultura e da
nossa cidade, lamentei tal atitude, pois o “Manhã da Globo” era o último ou o
único programa legitimamente potiguar/natalense, como porta voz da nossa
cultura, problemas costumes e interesses locais, que utilizava e cultuava o
nosso sotaque e dava vez e voz ao público.
Lamento o ocorrido, pois perdemos todos, um programa local e ficamos
escravos de uma imposição cultural diversa do nosso cotidiano, com noticiário nacional,
com informações que não interessam a maioria da população que ansiava por ouvir
o Duarte Junior, suas notícias, conselhos, opiniões e promover debates
populares.
Somos
conscientes de que a evolução tecnológica é sempre acompanhada pela evolução
cultural e que, normalmente a sociedade maior vai, pouco a pouco “consumindo”
os costumes locais e sua cultura. Isso é inevitável. Entretanto, temos
obrigação de preservar nossa cultura, nossos costumes. Uma emissora de rádio
como concessionária de um serviço público, poderia manter acesa essa chama da
nordestinidade, do nosso linguajar sem as grosseiras, na maioria das vezes,
imitações de sotaques de outras regiões, sem nenhum compromisso com o nosso
dia-a-dia. É comum hoje, sabermos muito mais o que ocorre no eixo Rio/São
Paulo, do que acontece em nossa cidade e é nostálgico ouvir nossos locutores
(uns poucos que ainda aqui trabalham, sobretudo nas emissoras FM), tentando
imitar sotaques diferentes do nosso, falando de problemas que não são nossos, carregando
a voz nos “esss” e outros estrangeirismos.
É lamentável e
nos consola que temos ainda algumas organizações que lutam, a muito custo de
alguns poucos homens e mulheres, em preservar a nossa cultura, como o Instituto
Histórico e Geográfico do RN, a Academia de Letras, Associação de Danças
antigas e Semidesaparecidas, alguns defensores de danças folclóricas e uns
poucos estudiosos que tentam de todo modo, manter acesa a chama da nossa
cultura, como foi o nosso Câmara Cascudo, o saudoso Prefeito Djalma Maranhão,
de Deífilo Gurgel, Veríssimo de Melo, e
uma plêiade de estudiosos, cronistas, jornalistas teatrólogos, e escritores que
lutaram e lutam para que nossa história e nossa cultura não seja de todo
absorvida pela devorador processo de imitação, sobretudo numa sociedade como a
nossa onde os valores culturais não são prioridade, onde a cultura não é
prioridade, haja vista que temos uma biblioteca pública fechada e abandonada há
anos, um belo teatro fechado há anos, um teatro popular idem, um histórico
forte abandonado, acervos históricos às moscas, jornais fechados, museus sem
conservação adequada uns poucos, fechados à visitação pública.
Não quero ser
nostálgico, apenas penso que a nossa cultura e história carece ser preservada e
tratada com mais carinho, com mais cuidado, em prol do nosso futuro.
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