O
ÚLTIMO ALCAIDE
Valério
Mesquita
Quando
assisti a reprise do programa “Memória Viva” da TV Universitária que nos
devolveu o estadista Dix-Huit Rosado, entrevistado por Carlos Lyra e Dorian
Jorge Freire, não contive a emoção ao revê-lo e ouvi-lo. Procurei uma crônica
que escrevera logo após o seu encantamento e decidi republicá-la. Só para
relembra-lo e constatar a falta que faz ao mundo político de hoje um homem do
seu nível e preparo intelectual.
Dix-Huit, da saga política dos
Rosado foi um samurai que edificou o país de Mossoró ao lado de outros
obreiros, irmãos na argila e no sangue. De longe sempre acompanhei a trajetória
da família Rosado emblemática, carismática, atávica, mágica. Quando faziam
política juntos representaram o santo mistério da unidade. O tempo implacável
com as suas angústias, dividiu a família, plantando-lhe as sementes da
discórdia. Sofridos, abatidos por tragédias, os irmãos se dividiram e sucumbiram
ao peso medonho do insensato jogo do Poder e da política perversa -
amor e perdição.
Mossoró,
hoje é um país confederado. Um país de sobrinhos e primos beligerantes que
desbotaram o rosado para a cor rubra e negra do próprio ofício desagregador.
Fragilizou-se igualmente a Roma, quando dividiu o império para ser destruído
depois pelos bárbaros. E o destino quase sempre trágico das oligarquias
benéficas. Desde Dix-Sept, Mossoró teve tempos idos e vividos, consumados com
tanta generosidade e autenticidade de espírito, com tanta sensação de perfazer
a ventura da vida com grandeza e respeito interior, que hoje, morto Dix-Huit,
não tenho como deixar de proclamar que os Rosado eram felizes e não sabiam.
Dix-Huit era o perfil do
burgo-mestre com raízes telúricas e emocionais, daqueles que tem a cara do seu
município e de sua gente. Dispunha de iniludível capacidade
de reinventar o fluxo virtual da sua atividade, assumindo os contornos de um
lirismo político inaugural que contrastava com a politicagem dominante na cidade.
Evidentemente, que outros fatores
também contribuíram para a queda desse mundo político semi-desaparecido. E
preciso que se devolva a Mossoró o sentido e o rumor do humano, da civilidade,
da paisagem e do tempo. A recomposição dos gestos e dos exemplos do passado,
voltando-se a resgatar a Mossoró libertária, lutando, resistindo sempre, com
paz e amor, portanto, ao som das mesmas canções eternas. Dix-Huit, mas do que
um estadista: Um alcaide. Um exemplo.
(*)
Escritor.
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