RELEMBRANDO O PAX CLUB I
Valério Mesquita*
Macaíba, nas décadas de
vinte, trinta e quarenta foi uma das cidades de intensa vida social no Rio
Grande do Norte. Viveu sua fase áurea da sociedade elitizada, organizada
tradicionalmente em um clube, onde a chamada nata se divertia ao som das
valsas, boleros, tangos, fox, sambas, etc., como hoje não se vê mais.
Em julho de 1950,
surgiu o Pax Club, construído pelo então prefeito Luiz Cúrcio Marinho,
localizado no parque governador José Varela, às margens do rio Jundiaí. Ao
longo de vinte anos esse tipo de aglutinação social subsistiu. Em Natal, por
exemplo, se acabaram antes o ABC, o Aeroclube, e o América como sodalícios. Algum
tempo depois, o Pax Club também sucumbiu à desagregação dos hábitos sociais que
começaram na década de setenta, pela modificação dos costumes, da música, do
comportamento humano, etc.
Fui presidente do Pax
Club durante um bom tempo de minha juventude. Com uma plêiade de companheiros,
realizamos festas memoráveis nos anos sessenta, que marcaram época e ainda hoje
são lembradas pelos daquela geração. Não poderia narrar nenhum fato pitoresco
desse tempo maravilhoso, sem mencionar Francilaide Campos, Tarso Cordeiro, José
Almeida, Eudivar Farias, Francisco Ribeiro, Edílson Bezerra, Adelfo Oliveira,
Emídio Pereira, Raimundo Onofre, Bridenor Costa Júnior, Chagas Souza, José
Amâncio, Walter Ferreira, Jorge Jonas, entre tantos outros.
O Pax Club, para
veicular as suas promoções e eventos, possuía um serviço de amplificadora cujo
locutor, com voz empostada, assim proclamava o seu inefável prefixo: “Serviço
de divulgação da Associação Pax Club, falando do sodalício tradicional e
elegante da cidade, diretamente do aprazível recanto do parque governador José
Varela”. Eram duas bocas de ferro presas a um imenso pé de eucalipto, perto da
ponte.
Aqui vai uma de suas
primeiras estórias pitorescas.
O prefalado serviço de
som mantinha em sua programação o quadro musical, intitulado “Data Querida”,
que objetivava parabenizar os aniversariantes e diversas músicas oferecidas
pelos namorados.
Às vezes, a turma
gostava de “gozar” algumas figuras interessantes da cidade e dessa feita foi o
motorista de praça Zé Cearense, asmático, marido de uma mulher hiper ciumenta,
que residia à rua professor Caetano, bem embaixo dos altofalantes.
Com o “motorista” na
praça e sua terrível mulher na calçada, saiu a seguinte “oferta musical”,
pronunciada pela voz pausada e cheia de Durval Lima: “Alô, alô, Zé Cearense,
escute essa página musical que um alguém das iniciais M.D.O., que ainda lhe ama
e quer, oferece na voz de Orlando Dias, “Tenho ciúme de tudo””. Nem precisa
dizer, ao ouvir a oferenda, o que aconteceu. Nos seus cem quilos bem pesados, a
mulher de Cearense dirigiu-se à praça, sob os olhares de todos, aplicou-lhe uma
chave de braço e o botou pra dormir, não sem antes, é claro, dá-lhe uns
safanões. Depois, a irada mulher foi ao Pax Club tomar satisfações com Durval
Lima, o locutor de plantão. Por via das dúvidas, o nosso Durval já havia
retirado do ar apressadamente o serviço de som e se mandado pra casa com o
pedido pronto de demissão da amplificadora. Constatou que era uma atividade de
alto risco...
De outra feita, na
missa do domingo na igreja matriz, o padre Alcides, irritadíssimo pelo
comportamento dos diretores, desfechava adjetivos mil contra o Pax Club para um
público silente e hipnotizado. Uma conhecida noiva de um diretor, revoltada com
o que ouvia, quando se retirava em protesto, pelo meio da igreja, o sacerdote,
sentindo a reação e flagrando o curto decote do vestido da mulher, fuzilou sem
apelação pelo microfone; “E para onde vai essa barata descascada?”. Foi o fim.
(*) Escritor.
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