OS OITOCENTOS
ANOS DE ASSIS
Valério Mesquita
Mesquita.valerio@gmail.com
Foi
o momento mais terno e denso do senado da república. Nunca, lá, havia
presenciado cenário semelhante. O senador Pedro Simon, tal qual um anjo da
noite, discorreu da tribuna sobre a vida e o exemplo do santo e cidadão
Francisco de Assis, que celebra oitocentos anos de existência. O notável
parlamentar gaúcho, elaborou um texto que emocionou a todos. O fundador da
Ordem Franciscana, segundo ele, reeditou no tempo, através da caridade e do
sofrimento, a vida do próprio Jesus Cristo, somente tendo lhe faltado as chagas
da crucificação e a eugenia do Criador que
somente o Filho Unigênito recebeu.
Num
plenário calcinado por gestos menores, por retaliações pessoais, viu-se uma
luz, um momento santificado, como se Deus ali tivesse permitido uma trégua.
Como o Congresso Nacional se ergueria se recitasse e fizesse da oração de São
Francisco o instrumento de sua paz e o encontro com a verdadeira missão de
legislar em favor dos mais pobres? Na primeira década de 1.200, Francisco de
Assis elaborou a sua carta a todas as nações da época, suplicando ajuda para
estancar a fome e curar as doenças. Hoje, como ontem, Pedro Simon relembra o
fato no sentido desse documento ser revivido entre as autoridades do país, em
favor dos pobres, enfermos e oprimidos.
O
santo italiano era de origem burguesa. Seu pai, rico comerciante, não entendeu
quando o filho abandonou toda a riqueza para criar no mundo a mais completa
situação de humildade e caridade cristã: a “pobreza franciscana”. Ao final, num
verdadeiro toque mágico e sobrenatural, a palavra de Simon se alçou ao patamar
superior do seu grande mérito. Enquanto no mundo hodierno, os mais poderosos
países do mundo sacam verdadeiras e colossais fortunas de bilhões de dólares
para socorrer os papeis podres do mercado financeiro e bancos gananciosos – a
humanidade pasma e estarrece ao concluir quanta fortuna as nações ricas
armazenam em detrimento de milhões de seres humanos que passam privações e
morrem de fome.
Esta
é a grande reflexão a ser feita nesses oitocentos anos da vida de Francisco de
Assis. A sovinez, a avareza, a indiferença dos governantes de hoje pelo
sofrimento humano são de causar revolta, asco, choro e genuflexão contrita de
perdão ao Pai Eterno pelo equívoco da raça humana. O senado brasileiro, naquela
tarde/noite, pela voz gaúcha de pregador do senador Pedro Simon lembrando
versículos, capítulos, salmos e epístolas, como se fosse de um novíssimo
testamento, tornou-se, por instante, num templo de santidade e de denuncia
contra o mundo moderno de perversidade e contradições. Vi a minha paz cósmica
satisfeita.
(*) Escritor
Os 800 anos de Francisco de Assis não foi celebrado em 2016, mas sim em 1982, há 32 anos.
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