CRÔNICA DAS VELHAS FIGURAS I
Valério Mesquita*
Um escriba oficial da prefeitura com a
consciência presa no cofre municipal, escreveu que “Macaíba de antigamente, era
uma cidade sem rosto e sem voz”. Com esse título, ele se exibe como um
vitorioso mas de alma deserta e de artista sem memória. A sabedoria do papagaio
é a imitação. Ele é o papagaio pendurado no ombro do pirata só para falar
aquilo que o dono manda. Não aprenderam que “o povo que não tem passado não tem
futuro”.
Escrevi dois artigos, intitulados
“Crônicas das Velhas Figuras I e II”, para mostrar ao desmemoriado
“historiador” do “Informativo Atitude” que antigamente Macaíba tinha rosto,
voz, vergonha e honestidade.
“Agrada-me
discorrer sobre as pessoas que conheci, estimei e admirei ao longo de minha
vida. Figuras marcantes que, mesmo simples e humildes, enchiam de humanidade o
cotidiano de Macaíba. As paginas do
livro imaginário da historia estão repletas dos seus exemplos, de suas fotos,
dos seus gestos e até dos seus sofrimentos. Hoje, na cidade, vultos dessa
estirpe vão se rarificando, como se Macaíba tivesse se despovoando de sua
dignidade, do seu glamour, de sua inteireza ou de sua própria fisionomia. O
aspecto urbano descaracterizou-se. Macaíba é uma legião estrangeira onde os
seus reduzidos remanescentes são apenas sombras, nada mais.
Deixando de lado a
negra pintura das vestes da cidadela, restituo nessa correspondência
sentimental parte dos nomes que fizeram Macaíba nos seus múltiplos aspectos,
correndo o risco da omissão, mas o leitor haverá de me perdoar. No comércio, os
olhos da minha memória revêem Alfredo de Almeida, Antônio Assis e Severino
Aleixo no grande ponto das Cinco Bocas; José Ribeiro em frente ao enchimento de
Diógenes Correia de Almeida, na plácida Rua Pedro Velho; no mercado público
Pedro Gomes de Souza e Odilon Benício, além de Nil, Nivaldo Lima e Zuleide
Azedo; na Rua da Conceição, a minha juventude não pode olvidar os armazéns de
Oscar Pinheiro de Souza, Carlos Marinho de Carvalho, Pedro Álvares (Pedoca), de
Romão Bezerra, o bar de Zé Distinto, a loja de Cícero Luís e Silva, a loja de Agripino Bandeira e a Casa Gomes, onde Edmilson Dias
negociava.
Antes
de descer a rua João Pessoa registro a loja de Seu Estevam Alves, gerenciada
por Ranilson Costa; as farmácias de Bridenor Trigueiro Costa e Antônio Lucas de
Lima, a mercearia de Dedinho (José Leite da Costa), José Mafra, o bar de Jorge
Leite da Costa, a sorveteria e a torrefação de Alcides Lucena, além do armazém
de Seu Azevedo, a bomba
de gasolina de
João Antônio de Lima e as lojas
de D. Áurea Pinheiro e José Lucas, pai de Nobre Pinheiro. E por fim, o bar de
Seu Emídio Pereira, sem esquecer, contudo, a casa de jogo de Samuel Araújo e a
loja de peças de Cornélio Leite Filho e sua cigarreira. Seu José Benevides
Campos, Zé Deca, Antônio Natalense, Né Macena, Adelfo Oliveira, Francisco
Canindé de Moura, Tácito Rocha Pegado, Chico de Aprígio, Antônio Aureliano,
José Paulo do Nascimento, Venâncio Alves, Waldemar Peixoto, Chico Bento, José
Amâncio, Eustáquio Alves de Farias, Benedito Pinheiro Borges, Manoel Firmino de
Medeiros, Edgar Dantas, Francisco Saraiva Maia, Augusto Duarte, José Campina,
Severino Tavares, José Solon, Anfrisio motorista, Manoel Alves da Costa (Neco
Alves), D. Beleza, D. Nazaré Madruga e seu filho Vinicius Madruga Pereira, Luís
Tomaz e Carmelita, Paulo Baltazar, todos, como numa procissão de relembranças
restituem a minha infância e adolescência e tiveram o privilegio de terem
vivido num universo diferente, mais limpo e mais nobre. Evoco, ainda, nas
páginas do livro da saudade: Francisco Falcão Freire, Enock Garcia, José
Maciel, Alcides Varela, Manoel Guedes da Fonseca Filho, Leonel Mesquita,
Gutenberg Marinho de Carvalho, Geraldo Cavalcanti, Olimpio Maciel, Iolanda
Lucena, Alice de Lima e Melo, José e João Muniz, Luís Curcio Marinho, Raimundo
e Francisquinha Gomes, Lupiscinio Araújo, Lúcia Araújo (Pitôco), Constância
Freire, Padre Chacon, Tota Pessoa e Cícero, seu irmão, Adelino Moreira
(sacristão), Avelino Pinheiro, Isbelo Vieira, Ieda Mesquita, Cícero Almeida,
José Almeida e tantos outros que poderia citar mas o espaço não me faculta. Os
esquecidos hoje serão lembrados na próxima crônica das velhas figuras, pois
todos ajudaram a fazer a verdadeira e autêntica Macaíba.
(*) Escritor”
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