08/06/2015

GAZETA DO OESTE (07.6.2015)

 

Tarcísio Gurgel lança o livro ‘Inventário do possível’

O lançamento acontece dia 11 de junho, às 19h, na Biblioteca Ney Pontes Duarte e tem o selo da editora Sarau das Letras. Neste livro, o autor agora mergulha na própria história familiar para rever pessoas, personagens, casos e momentos.
Tarcisio-Gurgel Escritor - Foto Wilson Moreno
Tarcisio-Gurgel Escritor – Foto Wilson Moreno
O professor e escritor Tarcísio Gurgel está em Mossoró para o lançamento de um livro de memórias. Trata-se do livro Inventário do possível. O lançamento acontece dia 11 de junho, às 19h, na Biblioteca Ney Pontes Duarte e tem o selo da editora Sarau das Letras.
Conhecido no mundo literário, principalmente por uma obra em que resume, de forma coerente e prazerosa, boa parte da produção literária do Estado – Informação da Literatura Potiguar – o autor agora mergulha na própria história familiar para rever pessoas, personagens, casos, momentos e, além disso, ser, como outros tantos escritores, o protagonista de sua vida. “Escrevi este livro com pitadas de ficção. O grande Pedro Nava dizia que a memória é extremamente corruptível. Às vezes, imaginamos que estamos seguros de uma narrativa e não estamos. No livro, no entanto, existem fotografias de minha família, casos envolvendo pessoas conhecidas, momentos importantes, como as escolas onde estudei e outros relatos. Na verdade, mais que uma memória é um testemunho sobre a minha família. Isso pude ir descobrindo aos poucos, enquanto escrevia o material. Demorei praticamente um ano produzindo, resgatando”, destaca o escritor, empolgado com a nova edição.
Segundo ele, tudo foi sendo escrito com muita alma e dedicação. “Muitas coisas de material fotográfico eu tinha no arquivo pessoal, mas alguns familiares me ajudaram, cedendo outras fotografias”, frisa Tarcísio Gurgel, reforçando que a obra recebeu um grande “suporte do editor e do diagramador, que encarnou o espírito da coisa”, e produziu um livro, realmente, belo. A diagramação e a estrutura da obra seguem o caminho da memória familiar.
A MEMÓRIA
Aos poucos, muitas famílias vão perdendo a própria história, engolidas pelo tempo. “O Rio Grande do Norte tem vários memorialistas importantes, como Francisco Fausto de Medeiros, por exemplo. Esses autores representam um importante papel para a história da literatura e para a memória, em si, dos acontecimentos de suas localidades. Há espaço para trabalhos de memórias e biografias. O tempo e eu, por exemplo, de Câmara Cascudo, e Província submersa, de Otacílio Alecrim, são dois exemplos disso”, explica.
No livro, os registros vão “dos timotes”, fala, sorrindo, o escritor, até a momentos bastante difíceis, como o incidente que aconteceu com seu pai, na padaria da família. “Quando Kiko Santos fazia o papel de Barrabás, numa peça, um gaiato gritou: Kiko doido! E minha mãe, olhou pra trás e disse: é por isso que Mossoró não vai pra frente!”. “Na crucificação de Jesus Cristo, Vavá estava na cruz e a cortina se fechou. Com os aplausos, o menino da cortina se empolgou e abriu de novo. Daí Vavá, que estava fazendo o papel de Jesus, havia descido da cruz para tomar uma, enquanto o pessoal aplaudia. Vavá se apavora e corre pra cruz de novo! Foi uma cena e tanto! Uma maravilha! Isso não é ficção, é a vida!”, destaca.
Um dos fatos que mais marcaram Tarcísio, no momento da escrita deste novo livro, foi a cena em que seu pai, na padaria, tem parte dos dedos danificada por uma máquina. “Um padeiro chegou e tomou a iniciativa de socorrê-lo. Parece que o vejo, com a mão suspensa no ar, suportando aquela dor imensa. A decadência dele, a partir daí, é sentida. A família conspira para ele se aposentar, pois naquela época se envelhecia muito cedo, aos 50, por exemplo”, diz.
CRÍTICA
Infinitas as possibilidades deste Inventário do possível, de Tarcísio Gurgel dos Santos. Surpreende a riqueza do que foi inventariado e, mais ainda, a forma generosa com que ele disponibiliza os bens herdados, essencialmente humanos, partilhando, além de códigos familiares, alegrias, tristezas, benquerer e boa literatura. Assim, nos leva ao mundo particular de lembranças recolhidas da memória sem esquecer as referências universais que vai relacionando em cada capítulo e a cada personagem apresentado, numa narrativa que comove o leitor. (Geraldo dos Santos Queiroz)

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