ANTÔNIO SOARES FILHO,
O HUMANISTA
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
“Morreu o caçador de estrelas Antônio Soares Filho!”, exclamei. Em que
observatório lunar ficou perdida no espelho a outra face da lua? Ele via o
rosto oculto dos astros na planície aérea das noites natalenses de pastoreio.
Conhecedor do sol e do vento atravessou o seu tempo pela mão das estações.
Professor, Diretor da Faculdade, fui seu aluno de Direito Processual Penal.
Membro da Academia Norte-Riograndense de Letras, por longo tempo pertenceu ao
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e ao Conselho Estadual
de Cultura, onde compartilhei de sua amável companhia. Mas, o sensível e o
imaginário em
Antônio Soares Filho não estavam somente na Astronomia mas na
Política. Nela descobriu a vocação pública de servir através do PSD, o
histórico partido dos dinossauros da política do Estado.
Foi deputado estadual constituinte ao lado do meu pai em 1947. No
exercício do mandato revelou-se diligente, regimentalista e constitucionalista.
Era o estilo e a marca do bacharel. Exerceu, em seguida, a chefia do Gabinete
Civil do governo Dinarte Mariz. Foi ai que Toinho, carinhosamente chamado pelos
mais íntimos, demonstrou possuir a consciência da fugacidade do homem e do
tempo. Domou o ritmo das aspirais de súplica e oferenda ao redor, pela
depuração dos assuntos e das paisagens interiores dos processos: os que devem
ser resolvidos hoje, os que podem ficar para manhã e aqueles que só o tempo vai
dizer. Eram os mistérios gozosos da política e da administração que Antônio
Soares Filho filosoficamente distinguia, adestrando e afinando os sentidos e
fazendo do mundo matéria de puro aprendizado, mercê de sua inexorável mutação.
Mas o seu lado encantatório era a proverbial fidalguia. Tinha a magia de
cerimonalizar os gestos e solenizar os ditos. Na mecânica do mundo dos
cumprimentos ele possuía o dom de sensibilizar as pessoas pelo cavalheirismo
sem precisar torcer a coluna vertebral. A sua acuidade perceptiva na análise
pictória e pitoresca dos fatos, fazia Diógenes da Cunha Lima acoima-lo de guru.
No Conselho de Cultura, ao lado de Américo de Oliveira Costa e Oto Guerra
formava o nosso gurulato. Nessa homenagem pelo seu passamento tenho dele a
lembrança nítida, leve e delicadamente nítida que o tempo não vai desfazer.
(*) Escritor.
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