13/08/2014


A   R E V O L U Ç Ã O   L I B E R A L   M I N E I R A
Por: GILENO GUANABARA, sócio efetivo do IHGRN

                        Os anos que sucedem a década de 1840, superado o decênio conturbado da Regência, já durante o Segundo Reinado, foi época de intensa agitação política, no Brasil. Enquanto na província do Sul os planos de paz não vingavam, a dissolução do primeiro ministério da maioridade apartou o campo entre liberais e conservadores. De um lado, que se denominou liberal, apeado do poder, com Limpo Abreu, Martim Francisco, os irmãos Holanda Cavalcanti, Diogo Feijó, para quem o rei reina, mas não governa. De outro lado, os conservadores Itaborary, Vasconcelos, Paraná, Abaeté, Paulo Souza, o marquês de Olinda e Paulino de Souza, dentre outros, que opunham: o rei reina, governa e administra. Para os últimos, era de maior valia o papel do Poder Moderador, encartado na Constituição de 1824, apostado acima dos demais poderes. Época liberal, apesar da virulência dos embates. Com mais veemência do que Antônio Carlos: - Quem for brasileiro, siga-me para o Senado -, Limpo de Abreu conclamava o povo à rebeldia, à mão armada, justificando o direito do cidadão reagir pelas armas, pela revolução. Criara um clube liberal, através do qual projetava sua fala nas províncias, aclamando não serem acatadas as leis aprovadas pelos conservadores no Senado.

                        O que acirrou tamanha agitação no Senado foram três projetos oriundos do ministério conservador, a serem convertido em lei, questões fechadas para o governo, desde 1841. Primeiro, o que transferia para o governo o direito de nomear os vice-presidentes das províncias e não mais eleitos pelas assembleias; segundo, o que alterava o código de processo criminal; por fim, o que criara o Conselho de Estado.

            Com a nova legislatura, exatamente no ano de 1842, os presidentes provinciais liberais, após serem exonerados, foram substituídos pelos conservadores. Os liberais, no entanto, articulados e com maioria, na primeira sessão legislativa, elegeram Martim Francisco presidente da Câmara. Em represália, o imperador dissolveu a Câmara, convocou outra, a ser eleita no prazo de seis meses. Intensificaram-se os preparativos sediciosos. Em maio, rebentou a revolução liberal em São Paulo e, um mês depois, eclodiu em Barbacena a revolução liberal mineira.

             Pela madrugada do dia 10 de junho, ao repicarem os sinos, o movimento aclamou presidente da província o revolucionário José Feliciano Pinto Coelho, futuro barão de Cocaes, o qual conclamou o povo a aderir. Theophilo Ottoni se fez presente e, diante da tropa, com a sua autoridade, prestou solidariedade aos revoltosos. Caíram sucessivamente, à força de bala, as cidades de S. João d’El Rey, Queluz, Sabará e Santa Luzia. Restava Ouro Preto. Então, todos a Ouro Preto, a capital das Minas, foi a ordem dada, onde o presidente Bernardo Jacyntho da Veiga organizara a resistência. A vitória sobre Ouro Preto corresponderia à vitória completa e final.

                        Mas o líder revolucionário recém aclamado ponderou suas responsabilidades, as consequências que teriam os seus atos, e amarelou. Propôs secretamente acordo de paz, através de emissários, ao futuro barão de Caxias, chefe das tropas legalistas. Em vez de, pela vantagem que lhe era favorável, avançar suas tropas contra Ouro Preto, ao contrário, liberou os soldados, desencorajando-os.

 Numa noite, Theophilo Ottoni recebeu a visita de líderes da revolta, incomodados com as vacilações do chefe: - O senhor vae ser aclamado vice-presidente e tem de dirigir o movimento. Ottoni percebeu o imbróglio que, caso aceitasse, poderia resultar na divisão dos revolucionários. Decidiu forçar José Feliciano a assumir seu posto.

                        Acampados em Santa Luzia, os revoltosos, sob a chefia do vacilante José Feliciano, formularam a estratégia para os combates que não tardariam a ocorrer, haja vista as tropas de Caxias terem acampado na cidade de Sabará que lhe era próxima. Um fato abateu ainda mais o ânimo da revolução: Após planejar os ataques, José Feliciano desapareceu na madrugada, fugira, sem deixar notícia. Ao saber, furioso, Ottoni ameaçou: Ninguém deve saber que Feliciano nos deixou. Metto uma bala na cabeça de quem der curso à notícia.

                        Entretanto, a notícia correra de boquirroto, desestimulando ainda mais a tropa. No dia 20 de agosto, Luiz Alves de Lima e Silva, vencedor quando da revolução liberal em São Paulo, chefiada por Diogo Antônio Feijó, se deslocou de Sabará em direção à Santa Luzia. Dividiu sua tropa em duas colunas, uma sob seu comando, outra que confiou ao irmão, coronel José Joaquim de Lima, depois conde de Tocantins, a quem foi ordenado aquartelar suas tropas na Lapa.

                        Apesar do abalo sentido na moral das hostes revolucionárias, o comandante Antônio Nunes Galvão resolveu encarar o adversário, iniciando os combates. Seus soldados se lançaram sobre os legalistas com alvoroço, tal como fizeram os fanáticos de Canudos, na Bahia, meio século depois, acuando as forças do Exército republicano. Tamanha fora a insurgência que a sorte vacilou em se inclinar para o seu lado. José Joaquim, ao sentir a gravidade dos fatos, atiçou sua coluna em socorro a do irmão. Os revoltosos não esperavam a iniciativa do reforço. Surpreendendo as tropas insurretas, sob o fogo cerrado das duas colunas, com facilidade as tropas de Caxias destruíram Santa Luzia, abateram os sediciosos e fizeram prisioneiro Theophilo Ottoni.

                        De regresso ao Rio de Janeiro, abafada a revolução liberal mineira, ao passar por Ouro Preto, rumo ao Rio de Janeiro, Caxias foi convidado a assistir a te-deum, oficiado pelo bispo local, em ação de graça pela vitória. Surpreso com o convite, sem ser grosseiro, Caxias respondeu: O officio do clero é rezar pelos mortos. Não é congratular-se pelos resultados de uma luta fraticida que dividiu irmãos e devia entristecer todos os corações brasileiros. Caxias não compareceu ao ato.   

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