A viagem de Leão Veloso (III)
João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,
membro do IHGRN e do INRG
Nem todas as edições do jornal “O Recreio” foram
digitalizadas pela Biblioteca Nacional e, por isso, faltam algumas edições que
falam da viagem do Presidente Leão Veloso. Conta Câmara Cascudo, que escreveu
“A Jornada Presidencial de 1861” (Velhas Figuras, Vol. 2), que um dos membros
da comitiva presidencial era o Ajudante de Ordens do Presidente, Manuel
Ferreira Nobre, autor de “Breve Notícia sobre a Província do Rio Grande do
Norte”. Segundo Cascudo, Leão Veloso embarcou no “Jaguaribe” a 9 de julho
chegando à Macau a 10.
Mas continuando nosso relato anterior, vejamos mais alguns
lugares por onde passou a comitiva do Presidente.
Ás 3 horas da tarde selaram-se os cavalos e partimos,
acompanhando-nos o mesmo capitão Severino e mais algumas pessoas; e às 7 da
noite chegamos ao Boqueirão, fazenda do capitão Miguel Esteves de Queiroz, 4
léguas distantes da serra.
É com razão que muitas vezes se diz que o diabo não é tão
feio como o pintam; este chistoso ditado é bem aplicado ao que me disseram da
ladeira do Martins, a qual nada tem que faça arrepiar, e ao contrário é
maravilhosamente acessível.
Eram 7 da manhã. Eis-me pois, amados leitores, na Serra de
Martins, ou Cidade da Imperatriz, um dos pontos de tanta nomeada da Província.
Falando-vos porém com franqueza e verdade dir-vos-ei que bastante me
surpreendeu a sua perspectiva, não quanto ao local sobre que se acha plantada,
por ser uma vasta e bela planície, mas em vista da sua péssima edificação, que
revela o regresso espantoso em que vai aquela cidade. O seu solo, porém, é
fertilíssimo e o clima puro e salutar.
Além de uma pequena capela que se acha desde muito
abandonada pelo seu estado de ruína, tem a Matriz onde se celebram os atos
religiosos. Em consequência do desabamento há bem pouco tempo de duas torres
que tem dos lados, precisa a mesma Matriz de um grande conserto, o qual suponho
que tão cedo se não fará porque as pessoas mais abastadas do lugar, que podiam
concorrer com suas esmolas para esse fim, conservam o grande prejuízo de não
quererem cooperar para o asseio de uma Matriz cujo vigário diverge de suas
opiniões! É bem censurável esse extravagante pensar de almas tão mesquinhas.
A casa em que nos aboletamos foi ministrada pelo Reverendo
Vigário Antonio de Souza Martins, com quem muito simpatizei, e que nos tratou
com a melhor franqueza e boa vontade.
Seriam 4 da tarde quando encetamos a marca pra a Vila de
Paus dos Ferros 8 léguas ao norte da Cidade de Imperatriz.
Ás 7 da manhã do dia 4 deixamos Currais Velhos, onde
chegamos às 7 horas e meia da noite, de que não tive saudades,
acompanhado-nos os padres Bernardino
José de Queiroz e Joaquim Manoel de Oliveira, que haviam chegados àquela fazenda em a noite antecedentes, e encontrado
em caminho outras muitas pessoas que iam ao nosso encontro.
Eram 8 e meia hora.
Como me acho na Vila de Pau dos Ferros, darei dela uma pequena amostra
aos leitores. Aquela Vila acha-se situada ao norte do rio denominado Apodi; seu
local é alguma coisa pedregoso, e pouco plano; e demasiadamente árido o seu
solo. Além da Matriz, que não é lá das mais asseadas, e que se acha ainda por
acabar, não há um só edifício que chame a atenção de quem quer que por ali
tenha de passar: a edificação, em geral, de má construção, não excede a
quarenta casas, algumas das quais são de tamanho, ou talvez menores que os
“belixes de Iguarassú”.
A casa onde nos hospedaram foi a em que funciona a Câmara
Municipal (uma das melhores) mandada preparar antecedentemente pelo Reverendo
Bernardino José Queiroz que tratou-nos belissimamente, bem como os Srs. majores
Gurjão e Epifanio, pessoas mais notáveis daquela Vila.
Somente dois dias nos demoramos naquele lugar, inclusive o
da chegada, e por isso na tarde de 5 estávamos de volta para Portalegre,
pernoitando-se na fazenda Tesoura, propriedade da mãe do padre Joaquim Manoel,
a quem já conhecem os leitores. Ali chegamos com o ar do dia, cavalgando em um
excelente animal; o melhor que montei durante toda a minha viagem.
Por falta de uma das edições do Jornal “O Recreio”,
complemento o relato de Othílio com informações de Câmara Cascudo que escreveu:
Em Portalegre ficam com Manuel Antonio Pinto, deixando a Vila, indo dormir em
Cajuais, de Antonio Gomes Pinto. No dia 7, descansam em Monte Alegre, de
Antonio da Silva Lisbôa, almoçando-se curimatãs e linguiças, alcançando Apodi,
onde a recepção era dirigida Pelo Juiz de Direito da Maioridade (Martins), Dr.
Delfino Augusto Cavalcanti de Albuquerque, que presidira o Rio Grande do Norte
em 1871. A 9 recomeçam a peregrinação, indo a povoação de S. Sebastião, onde
Othílio cita o Cruzeiro de Pedra que não chegou a ver. Dia10, às 10 da manhã, estão em Mossoró.
Para concluir esta parte, algumas observações: Miguel
Esteves de Queiroz foi membro do Conselho de Intendência Municipal de Patú. O
Padre Antonio de Souza Martins foi outro que deixou descendência no nosso Rio
Grande do Norte, como fizeram Padre Thomaz Pereira de Araújo e Padre Francisco
de Brito Guerra.
Falecimento de Pedro Leão Veloso |
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