Tecnologias
Dalton Mello de Andrade
Há poucos dias um
dos meus netos, que me vê constantemente no computador, ao piano, lendo, vendo
TV, me perguntou como usava meu tempo quando era menino, adolescente. Quando
não haviam todas essas tecnologias que me apaixonam. E sempre me apaixonaram;
há 56 anos sou radioamador. E há mais de vinte uso computador.
Por falar em
tecnologias, um comentário. Há poucos dias, li em algum lugar que os novos
instrumentos de comunicação unem pessoas que estão longe e distanciam as que
estão perto. Um dos meus netos chegou aqui em casa, beijou a avó e a mim,
sentou-se, pegou o celular e não deu mais uma palavra. Não tive dúvida. Liguei
para ele e assustou-se quando atendeu. Vô, estou aqui ao seu lado. Minha
resposta, não parece. Para falar com você, só ao telefone.
Mas, voltando ao
assunto. Tentei explicar-lhe. Depois das aulas, quando chegava em casa, das
primeiras coisas que fazia, junto com os colegas da rua, era jogar futebol.
Depois, surgiu o vôlei, muito depois o tênis. E isso tomava uma boa parte do
dia.
Como estávamos em
plena guerra, e morava na Rua Açu,
pertinho da Hermes da Fonseca, também ficava um bocado de tempo vendo o
movimento intenso, inclusive a construção da pista que ligou Natal à Parnamirim.
Muitas vezes, ia com meu pai, cuja empresa fez a maioria dos quartéis do
Exército e alojamentos na base americana, para ver essas construções. No PX
(Post Exchange, espécie de supermercado)
da base americana, tomei minha primeira Coca-Cola e comi meu primeiro
hambúrguer. E comprava livros e revistas em inglês, pois começava a aprender a
língua.
Outro passatempo
que adorava era ler. Ficava horas agarrado com um livro – de qualquer assunto.
As revistas em quadrinhos também me atraiam. A revista X-9, histórias de
detetives, que comprava na loja de Luís Romão, na Tavares de Lira. Dick Tracy,
O Fantasma, Capitão Marvel, Homem Submarino, Homem Tocha, Superman, Flash
Gordon, e outros, enchiam parte do meu tempo. Como a família era grande, me
escondia em algum lugar da casa, que também era grande, para não ser
incomodado. Também gostava de ler “Tesouros da Juventude”, uma espécie de
enciclopédia, e “Viagens pelo Brasil” (acho que o autor era Viriato Correia),
que talvez nem sejam mais encontrados.
Na nossa casa
tínhamos um potente rádio de ondas curtas, que permitia a gente escutar o mundo
inteiro. Para minha sorte, depois de ouvir o noticiário da Rádio Nacional, meu
pai desligava o rádio, ia ler os jornais, ou outra coisa qualquer. E aí o rádio
ficava só para mim. E eu passeava pelo mundo inteiro – BBC, Voz da America, que
começava a aparecer, a Rádio de Berlim, com as suas mentiras sobre a guerra,
contrastando com a BBC de Aimberê, e as estações brasileiras, especialmente a
Rádio Nacional – com “O Sombra, O Justiceiro, Edifício Balança mas não cai”, em
que Paulo Gracindo fazia o Primo Rico e Brandão Filho o Primo Pobre. Foi de
tanto ouvir rádio que surgiu o meu interesse pelo radioamadorismo.
Das nacionais, a
mais fácil de escutar era a PRA-8, de Recife. Tinham alguns programas
interessantes. Ainda me lembro de uma propaganda que ficou na memória. Uns
versinhos que diziam: “Todo magro quer engordar, todo gordo quer emagrecer;
para o gordo não tem que fazer, para o magro biscoito Pilar”. Biscoitos que
ainda existem, e devem agora ser “light”, já que ninguém quer engordar.
Depois de toda
essa conversa fiada, convidei-o a assistir um concerto no “YouTube”, por
intermédio do “Apple TV”. Para explicar-lhe e mostrar as diferenças entre o meu
tempo e o dele, frisando: no meu tempo era muito bom, mas hoje, com todas essas
novas possibilidades, é muito melhor. Como eu não imaginei, lhe disse, você
também não imagina o que tem pela frente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário