23/07/2014



Tecnologias


Dalton Mello de Andrade

            Há poucos dias um dos meus netos, que me vê constantemente no computador, ao piano, lendo, vendo TV, me perguntou como usava meu tempo quando era menino, adolescente. Quando não haviam todas essas tecnologias que me apaixonam. E sempre me apaixonaram; há 56 anos sou radioamador. E há mais de vinte uso computador.
            Por falar em tecnologias, um comentário. Há poucos dias, li em algum lugar que os novos instrumentos de comunicação unem pessoas que estão longe e distanciam as que estão perto. Um dos meus netos chegou aqui em casa, beijou a avó e a mim, sentou-se, pegou o celular e não deu mais uma palavra. Não tive dúvida. Liguei para ele e assustou-se quando atendeu. Vô, estou aqui ao seu lado. Minha resposta, não parece. Para falar com você, só ao telefone.
            Mas, voltando ao assunto. Tentei explicar-lhe. Depois das aulas, quando chegava em casa, das primeiras coisas que fazia, junto com os colegas da rua, era jogar futebol. Depois, surgiu o vôlei, muito depois o tênis. E isso tomava uma boa parte do dia.
            Como estávamos em plena guerra, e  morava na Rua Açu, pertinho da Hermes da Fonseca, também ficava um bocado de tempo vendo o movimento intenso, inclusive a construção da pista que ligou Natal à Parnamirim. Muitas vezes, ia com meu pai, cuja empresa fez a maioria dos quartéis do Exército e alojamentos na base americana, para ver essas construções. No PX (Post Exchange, espécie de  supermercado) da base americana, tomei minha primeira Coca-Cola e comi meu primeiro hambúrguer. E comprava livros e revistas em inglês, pois começava a aprender a língua.
            Outro passatempo que adorava era ler. Ficava horas agarrado com um livro – de qualquer assunto. As revistas em quadrinhos também me atraiam. A revista X-9, histórias de detetives, que comprava na loja de Luís Romão, na Tavares de Lira. Dick Tracy, O Fantasma, Capitão Marvel, Homem Submarino, Homem Tocha, Superman, Flash Gordon, e outros, enchiam parte do meu tempo. Como a família era grande, me escondia em algum lugar da casa, que também era grande, para não ser incomodado. Também gostava de ler “Tesouros da Juventude”, uma espécie de enciclopédia, e “Viagens pelo Brasil” (acho que o autor era Viriato Correia), que talvez nem sejam mais encontrados.
            Na nossa casa tínhamos um potente rádio de ondas curtas, que permitia a gente escutar o mundo inteiro. Para minha sorte, depois de ouvir o noticiário da Rádio Nacional, meu pai desligava o rádio, ia ler os jornais, ou outra coisa qualquer. E aí o rádio ficava só para mim. E eu passeava pelo mundo inteiro – BBC, Voz da America, que começava a aparecer, a Rádio de Berlim, com as suas mentiras sobre a guerra, contrastando com a BBC de Aimberê, e as estações brasileiras, especialmente a Rádio Nacional – com “O Sombra, O Justiceiro, Edifício Balança mas não cai”, em que Paulo Gracindo fazia o Primo Rico e Brandão Filho o Primo Pobre. Foi de tanto ouvir rádio que surgiu o meu interesse pelo radioamadorismo.
            Das nacionais, a mais fácil de escutar era a PRA-8, de Recife. Tinham alguns programas interessantes. Ainda me lembro de uma propaganda que ficou na memória. Uns versinhos que diziam: “Todo magro quer engordar, todo gordo quer emagrecer; para o gordo não tem que fazer, para o magro biscoito Pilar”. Biscoitos que ainda existem, e devem agora ser “light”, já que ninguém quer engordar.
            Depois de toda essa conversa fiada, convidei-o a assistir um concerto no “YouTube”, por intermédio do “Apple TV”. Para explicar-lhe e mostrar as diferenças entre o meu tempo e o dele, frisando: no meu tempo era muito bom, mas hoje, com todas essas novas possibilidades, é muito melhor. Como eu não imaginei, lhe disse, você também não imagina o que tem pela frente.


  

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