São Francisco de Assis converteu-se, ao ouvir o Crucifixo da capela de São Damião lhe dizer: “Francisco, vai e restaura a minha casa. Ela está em ruínas” (cf. Legenda Maior II, 1). No inicio, não entendeu a revelação e tomou ao pé da letra as palavras, reconstruindo a igreja da Porciúncula. Após meditar e rezar, compreendeu que se tratava de algo espiritual: reconstruir a “Igreja que Cristo resgatou com seu sangue” (op.cit). Foi então que começou um movimento de renovação da Igreja. Morou com os hansenianos e de braço com um deles percorria as ruas e estradas, anunciando o Evangelho. Não era sacerdote, mas simples leigo. Os papas de sua época proibiam aqueles que não eram ordenados de pregar. Por isso, quase no final de sua vida, aceitou ser diácono para se tornar ministro da Palavra de Deus.
O Cardeal Bergoglio inspirou-se na vida do Santo de Assis. Percebeu uma Igreja mergulhada em ataques, críticas e escândalos. Então, sentiu que tinha como missão restaurá-la. Por isso, Francisco não é apenas um nome, escolhido pelo Papa. É muito mais. Representa uma visão de Igreja simples, pobre, humilde e maternal, que trata a todos indistintamente como filhos.
São Francisco foi obediente à Igreja, mas, seguiu seu próprio caminho, ensinando um evangelho de pobreza, caridade e simplicidade. Bento XVI, ainda quando era simples padre, escreveu que a vida do “Poverello de Assis” é um “protesto profético”. Não fez discursos, pronunciamentos eloquentes, simplesmente mostrou uma nova face da Igreja, voltada para os que sofrem, despojada, preocupada com o Evangelho e não com a honra e a glória.
Na sua primeira aparição em público, Francisco mostrou que tem em mente uma Igreja fora dos palácios e dos símbolos do poder. Não usou a mozeta, bordada e com brocados de ouro. Chegou simplesmente vestido de branco e com a cruz de bispo. Pediu humildemente que rezassem por ele. Somente após orar com o Povo de Deus, abençoou os fiéis reunidos na Praça de São Pedro. Aparece como servidor, “servo dos servos de Deus”, como se escreve nos documentos oficiais da Igreja. Evitou a pompa e a exaltação. Passou uma imagem de serenidade, ternura, bondade e amor. Irradiava paz e confiança Não usou da retórica vaticana. Falou como um pastor ao seu rebanho.
Recentemente, alguns jornais italianos publicaram uma foto do Papa preparando-se para celebrar uma missa, cujos convidados eram os jardineiros e o pessoal de limpeza do Vaticano. No início da celebração, pede a todos que rezem em silêncio por ele e por todos. Levanta-se da cadeira presidencial e vai sentar-se no final da capela para fazer sua oração. Prefere que contemplem a verdadeira razão da sua existência: o Cristo Eucarístico. Na foto, vê-se a diferença entre o lider e o chefe. Este sempre se coloca em evidência, pondo-se à frente para que todos o vejam e lhe obedeçam. O líder sabe quando sentar atrás. É capaz de desaparecer no momento oportuno, para que outros cresçam e se voltem para quem é verdadeiramente importante. Na fotografia, o admirável Francisco está de costas. Talvez muitos desejassem vê-lo de frente, mas quis ficar naquela posição e volver a face para Cristo, o irmão de todos.
Quantos chefes, até mesmo eclesiásticos, terão a postura de ir sentar-se numa cadeira, no fundo da sala? Terão coragem e humildade de voltar às costas aos aplausos, aos cliques dos fotógrafos, aos microfones, às câmeras, aos elogios, às palmas e mostrar um coração despido de vaidade e ostentação?
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