Gileno Guanabara
A “Rua Nova” passou a ser chamada de
Avenida Rio Branco, apelido que antes fora “Visconde do Rio Branco”, na
Ribeira. Com a mudança, vieram os postes de ferro, iluminação, pavimentação, canteiros,
calçadas de mosaico e filas de mugubeiras e ficus benjamin. As famílias prosavam
nas calçadas, antes da ceia e se recolhiam para dormir. Os bondes e automóveis trafegavam
em mão dupla. Os bondes deixavam de circular às 22,00 horas. Eram recolhidos nas
oficinas, final da “Rua do Fogo”, na parte do Baldo que se chamou de
“Oitizeiro”.
O comércio migrou da Ribeira para a
Cidade Alta. A cidade e o comércio foram tomados por turcos, libaneses e italianos
que praticavam o comércio e amealharam riqueza. Os ambulantes andavam pelas
ruas a pé, de paletó, gravata e chapéu. Portavam malas de couro. Batiam palmas
nas portas e vendiam a prestação tecidos, capas e guarda-chuva, galocha, pentes
e leques. Os “turcos” anotavam as contas e os pagamentos em fichas.
Do Mercado Público saiam os
verdureiros encorcudados com o peso das arupembas empilhadas num eixo sobre o
ombro. Vendiam verduras, legumes e peixes. Os triângulos sonoros repicavam o “cavaco
chinês”. Outros vendiam tapioca. Os tabuleiros do “Cucus da Mata” madrugavam. Os
tropeiros traziam no lombo dos burros em fila os caçuás com caranguejo, verduras
e frutas. Cortavam a madrugada, despertavam o “Beco da Lama”, com o estalar dos
seus chicotes. Cedinho, se estabeleciam na pedra. A Avenida Rio Branco ganhava
novas lojas, refletindo a origem de seus donos: “A Formosa Syria” (de Hassan
Amin & Filhos); “Casa Duas Américas” (Nagib Salla e irmãos); “Casa
Vesúvio”(Francisco Maiorana); “Granada Bar – Confeitaria” (Nemésio Morquecho
Morina); “Casas Tic-tac” (Habib Chalita); “Armazem Natal” (família Lettieri),
dentre outras.
A Escola de Artífices (ex-Escola
Industrial de Natal, e Instituto Federal de Educação), construção imponente, esquina
com a atual Rua Professor Zuza, ocupava a quadra da Avenida Rio Branco. Abrigou
gerações que, em horário integral, estudaram os ofícios de sapataria,
alfaiataria, mecânica e outros misteres. Na outra esquina da Rua Professor
Zuza, “Seu Josino” dos “mistos” de cabine dupla que faziam a linha Natal/São
Tomé. Seus filhos, Juvanklim e João Gilfranklim, exímios violonistas compunham
com Zé Erivan e vocalizavam boleros de amor. O “Educandário Natal”, do
professor Severino Bezerra, na esquina com da atual Rua General Ozório e depois,
defronte o Mercado Público, se chamou “Ginásio Natal”. A sede benemérita da
“Associação dos Professores”. O mistério do consultório do Dr. Demétrio
Viveiros. O Dr. Paulo Luz e o primeiro aparelho de Raio X de Natal. A Liga
Operária Norte-riograndense. A Escola Normal já na descida em direção à
Ribeira. Casarios foram construídos na ladeira
do Baldo.
O castelo da viúva Chiquinha Freire, esquina
da Rua João Pessoa com a Avenida Rio Branco. Conta-se que na lateral do castelo
foi afixado o reclame de um fortificante. A mensagem ilustrava: “o peito de
aço”. O povo vinculou o epíteto à imagem da proprietária: “A viúva do peito de
aço”.
Poucos automóveis passeavam nas ruas e
desfilavam na alegria dos carnavais. As marcas “Chevrolet”, “Hudson”; “Dodge”;
“Plimothy”; “Ford” e “Mercury”, eram importadas. As “sopas” foram os primeiros
auto-coletivos de transporte movidos à gasolina, no trajeto Alecrim/Ribeira. Foi-se
o tempo das festas natalinas. Enquanto a “missa do galo” não vinha, moças e
rapazes passeavam e se enamoravam nas calçadas, enquanto espiavam as vitrines das
lojas.
O primeiro semáforo de trânsito foi edificado
no cruzamento da Avenida Rio Branco com a Rua João Pessoa. O tráfego vinha da
Ribeira e descia pela Avenida Rio Branco, rumo ao Alecrim. De volta à Ribeira, retornavam
pelo canal do Baldo e atravessavam aquele mesmo cruzamento. O semáforo se
assentava na base de alvenaria e tinha cobertura de metal. Ao final do mastro se
apoiavam os sinais coloridos. O guarda postado sobre a base orientava o tráfego.
Ao apito referente ao sinal verde, a multidão aglomerada evoluía em bloco, numa
gritaria uníssona. Caminhava até atingir a outra calçada. Do jeito que ia,
voltava com o mesmo alvoroço, durante várias vezes, movida apenas pelo apito do
guarda.
Nos anos de 1950, na Avenida caminhou
Getúlio Vargas. Nela Juscelino e Jango discursaram. Por ela, o féretro de
Dix-sept Rosado foi conduzido em romaria. Anos depois, uma peste de piolhos
chamados de “Lacerdinha” justificou a poda dos fícus Benjamin. Os bondes deixaram
de circular. Um incêndio devorou o Mercado Público. Em seu lugar foi erigido o
Banco do Brasil. As famílias se transferiram. Mesmo assim, o encantamento do
comércio e o charme político da “Rua Nova” perduram até hoje.
Sugiro que as postagens venham sempre acompanhadas de fotos antigas. Torna o texto mais rico e belo. Parabéns!
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