15/01/2014

Moacy Cirne: um nome essencialíssimo ao Brasil

(Lívio Oliveira)
   
O meu querido amigo Moacy Cirne, escritor e poeta de elevado renome, que não se situava somente nos limites do nosso Rio Grande do Norte, concluiu sua obra terrena na tarde quente do verão natalense desse último sábado que passou. Acompanhava notícias sobre o seu complexo quadro de saúde já havia um bom tempo. Mas, mesmo assim, fui tomado por um certo impacto, um choque, ao ler a notícia numa das redes ditas sociais. Havia ali uma foto de Moacy e alguns vagos dizeres sobre a sua passagem para um outro plano. Logo após, surgiu em mim uma tristeza calma e reflexiva que compartilhei com a minha esposa.
Intelectual múltiplo, Moacy detinha um olhar circular e atento que poucos possuíam neste país. Não é à toa que o mestre Tarcísio Gurgel costuma dizer que Moacy Cirne era o intelectual mais completo de sua geração. Além de toda a obra que deixou em livros e que também firmou na criação e liderança do histórico e emblemático movimento do Poema-Processo, lecionou com afinco e amor em universidade carioca, foi um dos maiores amantes e estudiosos do cinema e dos quadrinhos e exerceu outras muitas tarefas de cultivo do intelecto no seu envolvimento visceral e apaixonado pelo mundo das realizações artísticas e culturais. Firmou, ainda, dignas posições político-ideológicas avançadas e preocupações sociais que manteve até o final dos seus dias.
Moacy também era um grande fazedor de amizades, sabendo alimentá-las com atenção e generosidade, doando a cada um dos seus próximos um pequeno quinhão de sua sabedoria calma, serena. Seu sorriso suave e doce cativava fortemente quem dispunha das saborosas oportunidades de uma conversa mansa, tranquila, ou mesmo com a paixão e os argumentos sólidos e cortantes e até irreverentes por ele levantados. Um aspecto lhe era intrínseco e se fazia indissociável da figura do grande amigo que partiu: Moacy era um sábio, era um sábio, era um sábio! (lembro que ele gostava de brincar com os famosos versos de Gertrude Stein: “uma rosa é uma rosa é uma rosa”). Bastava ouvi-lo e olhar para ele e perceber isso estampado nos seus olhos perspicazes e nas suas barbas brancas que lembravam as de um profeta bíblico. Por sinal, a Bíblia foi um forte objeto de estudos de Moacy nos últimos anos – salientando-se que era ateu (ou agnóstico), reconhecidamente. O livro póstumo terá, certamente, o nome que Moacy já havia escolhido, segundo me afirmou um dia: “A Bíblia: travessia, travessias”, numa alusão direta a Guimarães Rosa.
Os momentos de desfrute intelectual e da amizade com Moacy foram muitos para mim: Encontros fortuitos por Natal, participação mútua em lançamentos de livros, algumas visitas que lhe fiz em casa (nunca encontrei Moacy no Rio, infelizmente. Seria ótimo ver um Fla-Flu no Maracanã e sentir a vibração de Moacy pelo seu Fluminense, mesmo que eu seja sempre Flamengo), um texto introdutório que ele fez para um dos meus livros, uma entrevista que me concedeu em 2008, debates culturais diversos (inclusive através do seu blog “Balaio Porreta, que manteve por muitos anos), dentre outras boas situações que tive de encontrar Moacy e sua inteligência viva e dinâmica.
Ao grande Moa dedico a minha pequena homenagem e agradecimento. Moacy Cirne se fez e se faz essencial à cultura potiguar e brasileira e a todos os seus amigos saudosos. Todos, certamente, dedicarão parte de suas memórias a Moacy, estando em processo de amadurecimento, inclusive, a ideia de um livro coletivo de depoimentos acerca de suas vida e obra, o que é algo que lhe é devido, mas simples diante de tudo que fez por estas bandas de cá. Moacy Cirne é, sim, um nome que se inscreve como essencialíssimo ao Seridó, ao Rio Grande do Norte e ao Brasil. Sempre será lembrado e deverá ser homenageado fortemente (autoridades potiguares que nos ouçam e, se possível, leiam), por seus grandes méritos e valores. Não custa repetir: Moacy vive e nos orgulha a todos!

erça-feira, 14 de janeiro de 2014

UM MUNDO LOBATEANO, SÓ MEU, REPARTO EM PENSAMENTO COM AS MINHAS AMIGUINHAS DE INFÂNCIA - CHIQUINHA E BILILIU.



MEUS PAES QUE SÓ ME DERAM AMOR


CHIQUINHA E BILILIU

 Lúcia Helena Pereira 

 Eu tinha cerca de três anos, quando iniciei, por exigência de mamãe, aulas de alfabetização com Valdinha (Valdecir Vilar de Queiroz Soares). Que doce e suave presença humana em minha vida! Sua casa cheirava a flores. De longe sentíamos os aromas do seu jardim -um verdadeiro éden- espargindo dos cravos, dálias, jasmins, rosas, bogaris, jasmim-vapor, resedás, margaridas e outros espécimes vegetais que me enchiam de encantamento. Na casa branca havia um terraço adornado com um conjunto de cadeiras de ferro e o balanço; jarros com beijos de várias cores; a cisterna (provocando-me uma sensação indizível) cortejada pela poética sombra de um caramanchão, cuja trepadeira exibia em seus galhos, pequeninas e mimosas rosas. Relembro as árvores do quintal: os pés de carambolas, laranjas da terra, pitangas, maracujás (imiscuindo-se nesse reino e acasalando-se com a exuberante trepadeira). Ouço, como se fosse hoje, a cantiga das cigarras envaidecidas seduzindo aquele cenário! Ao sair da aula, diariamente, lá estavam as minhas companheiras dos meus dias de infância: Chiquinha e Bibiliu (filhas de Inês, a ama-de-leite das crianças da nossa família). Suadas e esbaforidas, com os cabelos arrepiados, logo anunciavam (pareciam anjos com suas trombetas): “Luça, tu nim sabe qui vimo um sapo seco e isturricado. Tava virado de papo pra riba, pertim da arvre da isquina do berro (a esquina da minha casa, onde um carneirinho apartado da cabra, berrava com dilacerante mágoa). O danado do sapo tá é dando siná de coisa rim, vombora logo interrá o bicho nojento, mode num pegá rindade im nós...” Elas deveriam ter cinco e seis anos (pareciam gêmeas). Eram alegres, criativas, sempre satisfeitas, irradiando felicidade (de onde viria a felicidade dessas humildes criaturas, que amanheciam e anoiteciam em nossa casa?). Astuciosas (longe dos olhos de mamãe e de Babá), certa vez apareceram com massa crua de pão e fomos para o quintal da casa. Lá, elas fizeram bonecos e bichinhos, utilizando caroços de frutas para fazerem os olhos. Estavam “com a mão na massa” quando surgiu o dono da padaria (“c´as venta inguá os bueiros do ingenho baforando fumaça”)- segundo Bililiu. “São essas duas espevitadas, senhor Abel e dona Áurea, mal tive tempo de impedir que me levassem boa porção de massa, logo deram no pé. São umas pestes, não deviam deixá-las com a filha de vocês...” (desabafou irritado). E papai, com a sua peculiar bondade, lhe disse: “Ora meu caro, são apenas crianças, pagarei os prejuízos...” Infelismente mamãe proibiu - me de brincar com as meninas durante uns dias, restringindo-me ao lazer com a mana Iara e algumas primas. Depois, pedi - lhe, encarecidamente, que mandasse buscar minhas amiguinhas. No dia seguinte, ao sair da aula, as minhas tristezas foram recompensadas com a chegada barulhenta das diletas companheiras, que, alheias às humilhações sofridas anteriormente, traziam uma euforia contagiante: “Si Luça subesse, conto a gente brincô! Cumemo bolo de fubá na casa de dona Rosinha, a moça véia da Ingreja, que deu retaios mode nóis fazê vistidim pras bunecas. Fizemo de chita, de fustam, de bolinha e preguemos inté butão de ôro. Fumo vê armá o circo qui tinha girafa, lião, trigue, macaco e vimo os povo si pindurando n´aquelas corda cum tárbuas in tempo de cairim” (eram os trapezistas Mascotinha e Mascarenhas ensaiando para se apresentarem no circo). Impregnada das emoções daquelas novidades, essas “cenas” me pereceriam, hoje, ilustrações de um livro, do escritor Louis Carrol, deixando-me penetrar, a cada instante, no reino encantado das maravilhas de alguma Alice. Eu tinha esse mundo em minha cabeça e em meu coração. Vivia-o com intensidade, sempre distante dos rigores de minha sábia mãe e dos olhares de Babá (Regina Dias). Num desses dias de chuva forte (o vale ficava carregado de nuvens choronas), elas chegaram como presenças ensoloradas, sorrindo, pinotando, cantarolando e alegrando o ambiente. Traziam, com orgulho ímpar, um cachinho de flores “fisgado” dos jardins espalhados pelos caminhos. Bililiu, bem mais falante, fez uma leve vênia e disse: “Florinha mode Luça infeitá seu artá” (um oratório que mamãe colocara em meu quarto e de Iara, onde a imagem de Nossa Senhora da Conceição se destacava). Depois, da mochila de pano que sempre traziam com elas, foram tirando papel prateado (que revestia as carteiras de cigarros). Esses papelotes eram colados uns nos outros (cola artesanal, feita em casa). Ao secarem, davam um acabamento nas bordas brancas, com anilina de cores variadas (da caixa de trabalho de mamãe) e estavam prontos os colares. Dias depois, quando as chuvas saíam de férias, ficávamos no calçadão da minha casa, sentadas em tamboretes da cozinha para vendermos os colares. Elas imploravam: “Compre um colá que é do Rio de Janeiro; esse roxim e esse azuzim custa um tustão, o de prata é doistões. Cheque, se avexe, compre ó meno um...” No final da tarde, os colares estavam amassados e desbotados e o humilde comércio, logo falido! Eram brincadeiras inocentes, sem nenhuma malícia. Falando nisso, um dia fomos à casa de dona Amélia Barroca, perto da linha do trem, do outro lado da nossa rua. Dona Amélia vendia as mangas rosas mais belas e perfumadas, enfurnadas num baú de madeira, com folhas de bananeiras. Logo na entrada viam-se vários pés de malícia que Chiquinha e Bililiu cantavam: “Sai malícia, teu nome é priguiça, vai drumi n´outo pasto qui aqui ocê num tem vez!” E dona Amélia abria um sorriso largo e nos abraçava dizendo palavras carinhosas e presenteando-nos suas lindas mangas. Que terna lembrança dessa boa senhora! Creio que Chiquinha e Bililiu continuam brincando, em algum lugar, trepadas em mangueiras, goiabeiras, assobiando como os passarinhos, olhando os circos e fazendo figurinhas com massa crua de pão. Onde estarão? Como reencontrar esses “mitos” da infância? Essas vozes que ouço em meus momentos de contemplação e de poesia? “Arre, Luça, tás pirigando pegá catapora de nóis. Ramo vê cumo vai ficá se coçando, cum a cabeça duendo e os óios pegando fogo cumo brasa. Mai tem que ficá na cama e tumá bain cum fôia de sarsa isquentada, mode muxá as boinhas (bolhinhas)...” (Bililiu) “Eu num digo nadim e só vô alertá uma veiz, pra num dizerim qui sô rim: o tá de Zeca qui mora pertim do cimitero anda vendo arma de tudo que é gente. Ele viu arma inté do finado Suares qui morreu im Sum Paulo. E cumo é qui uma aima doutro canto vem isbarrar pur essas banda? Vumboro usá figa mode afastá essas arma. Tô inté tremendo cumo vara verde e num duvidio qui esse cundenado vem pegá in n´eu hoje de noite!” (Chiquinha). Essas palavras ressoam em meus ouvidos, até hoje, como sinfonias diletas.
A Coluna Preste no Rio Grande do Norte - VI
Tomislav R. FemenickMembro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do RN

            A cidade de São Miguel, situada na região do Alto Oeste potiguar, quase fronteira com o Ceará e relativamente perto da Paraíba, foi, sem sombra de dúvida, a localidade que mais sofreu com os ataques da Coluna Prestes no Rio Grande do Norte, ocorridos em fevereiro de 1926. Esse contingente de revoltosos veio do Ceará, onde tinha atacado as cidades de Ipu, Crateús e Arneiroz.
            Nos dias logo anteriores ao ataque propriamente dito, as noticias davam conta que a Coluna já deixara a região do Jaguaribe e se dirigia ao Rio Grande do Norte pelo caminho conhecido como Ladeira do Engenho. Estimava-se que seu contingente era apenas “70 combatentes”. Para combatê-los, esperava-se um batalhão de Exército que estaria vindo de Fortaleza; que nunca chegou. O reforço da Polícia Militar do Estado foi direcionado para o Seridó, Mossoró e (em menor número) para Pau dos Ferros.
            Pelas péssimas condições de tráfego das estradas de rodagem e mesmo da precariedade das vias de transporte em geral, a população de São Miguel (que na época contava com cerca de mil e trezentos habitantes) teve se organizar para a defesa quase que somente por conta própria. O historiador Rostand Medeiros (2010) diz que a ata da sessão ordinária da Intendência Municipal de São Miguel, com data de 03.05.1926, lista nominalmente vinte “patriotas”, mas informa haver “alguns outros”. Raimundo Nonato (1966) afirma que naquela cidade o “Núcleo de Patriotas” foi composto por 20 cidadãos, quatro praças da polícia militar, além do prefeito de Pereiro-Ce, este acompanhado de mais três homens, o que daria um total de 28 defensores – embora que “a tradição oral dava notícia de que a defesa da vila fora feita por 25 homens”. Itamar de Souza (1989) confirma que a defesa teria contado com 28 homens armados. Por delegação do governo do Estado, à frente da resistência estava o presidente da Intendência Municipal (cargo equivalente ao de prefeito atualmente), João Pessoa de Albuquerque (também conhecido por João Leite e Coronel do Baixio de Nazaré), coronel da Guarda Nacional, deputado estadual e que presidiu a Intendência Municipal de São Miguel por um período de 18 anos, de 1910 a 1928.
            Antes de a cidade cair em poder da Coluna Prestes, houve dois embates entre os revoltosos e os defensores de São Miguel. O primeiro deles deu-se no dia três de fevereiro, no já citado lugar conhecido como “Ladeira do Engenho”, em terras da cidade de Pereiro-CE. De onde estavam entrincheirados, os legalistas avistaram não os esperados “70 combatente”, mas “um verdadeiro exército em marcha”, de uniformes cáquis e lenços vermelhos em volta do pescoço. Mesmo assim, atiraram e conseguiram matar um dos integrantes da Coluna. Os rebeldes fizeram um recuo tático e, logo em seguida, revidaram o ataque utilizando tudo o seu treinamento militar. Então os defensores se entrincheiram em uma casa, quando acontecendo um tiroteio que teria durado cerca de duas horas, até que os defensores fugiram para outro local. Segundo Neill Macaulay (1977), dois dos legalistas foram feridos, sendo que um deles “um jagunço cearense, caiu nas mãos dos rebeldes e foi degolado”.
            O outro confronto entre defensores (um grupo comandados por Manoel Vicente Tenório) e rebeldes aconteceu no dia seguinte, quatro de fevereiro, no “Sítio Crioulas”, localizado perto da cidade de São Miguel. Houve uma rápida troca de tiros, que resultou na prisão de um revoltoso, Policarpo Gomes do Nascimento, e no ferimento a bala do comandante da resistência, que foi atingido na coxa esquerda por dois tiros de fuzil.
            No entanto não havia como menos de trinta homens, embora voluntariosos e destemidos, vencer um verdadeiro exército. Segundo Rostand Medeiros, o “documento elaborado pela municipalidade de São Miguel aponta que a Coluna de Revoltosos era composta de 2.000 homens. Os que se debruçaram sobre o assunto apontam um número mais modesto, entre 450 a 1.000”. Qualquer que tenha sido o contingente dos invasores, a diferença era considerável e apontava para a vitória dos revoltosos.
            Com a perspectiva de uma invasão iminente, pronta a acontecer, e temendo o que poderia ocorrer, inclusive o risco de morte, grande pare da população da cidade se refugiou em sítios, em cidades vizinhas ou simplesmente procurou se esconder na zona rural. 
            No dia quatro de fevereiro São Miguel caiu em poder das lideranças da Coluna Prestes. Dezoito estabelecimentos comerciais foram saqueados. Repartições públicas, o grupo escolar, a agência dos correios e o cartório foram incendiados. Além disso, houve “apreensão de animais, armas, roupa e objetos diversos em diversos sítios”. Calcula-se que o saque aos estabelecimentos comerciais tenha provocado um prejuízo de mais de trezentos e sete contos de reis (SOUZA, 1989), uma fortuna na época.
A passagem da Coluna Prestes pela cidade de São Miguel deixou um verdadeiro rastro de brutalidade, medo, destruição, descalabro e miséria; tudo igual às passagens das hordas de cangaceiros que aconteciam nas primeiras décadas do século passado nos sertões nordestinos. Nenhum idealismo justifica atos de execuções sumárias, saques indiscriminados (inclusive contra sitiantes pobres e carentes de tudo) e a guerra de terror. Somente a inconsequência e a leviandade explicam tais atitudes. Explicam, mas não justificam.

O Jornal de Hoje. Natal, 14 jan. 1914

14/01/2014

Pirangi do Norte, início de 2014


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG

No verão, para fugir da rotina e ver novas paisagens, renovando nossas energias, saímos de Natal para Pirangi do Norte, 22 quilômetros de um lugar para outro. Fugimos do trânsito fatigante da capital, onde os sinais estão constantemente sem sincronia, e não funcionam a onda verde e as vias livres, para os engarrafamentos das praias da costa sul do Rio Grande do Norte.

Na chegada, notícia de um assalto, no dia anterior, praticado por cinco indivíduos contra a casa de um agente da Polícia Rodoviária Federal. As autoridades policiais continuam repetindo a mesma ladainha de sempre e tudo continua como antes. Falta inteligência no setor de segurança deste país.

Os sinais de comunicação já não funcionam bem na capital, e nas praias, mesmo as mais próximas, a coisa desanda. Telefones e internet se tornam um martírio para quem quer se comunicar. Mais ainda, os paredões fazem a festa das novas tribos e o inferno dos veranistas e moradores. Músicas da pior qualidade drogam as mentes jovens e atanazam o sono dos mais velhos.  As únicas coisas que se interiorizam, neste país, são o crime organizado, as aulas online de maldades (novelas), as drogas, com predomínio do crack, e as aulas online de mediocridade (os big brother da vida). É a coisa ruim chegando a todos os lugares.

Pirangi, e as praias vizinhas, mesmo com seus moradores habituais, os veranistas e milhares de turistas transitando por ela, não tem todos os serviços necessários para atender as demandas dos usuários. Nenhuma agência bancária, nem as oficiais estão por aqui. É o retrato do atraso, da falta de visão dos governantes.

O Rio Grande do Norte possui uma grande costa em relação ao seu tamanho. Praias de riquezas naturais e históricas não são aproveitadas pelos seus prefeitos e governador. O discurso do turismo continua pobre e sem ação concreta. As praias beneficiadas pelos royalties de petróleo só atraem políticos aventureiros que não levam benefícios para as mesmas. Carnavais são suas grandes realizações. As roubalheiras são as maiores. Mas os ladrões continuam flanando por aí. O que restou dos PRODETUR I e do PRODETUR II?

Na natureza, temos a noite para descansar nosso corpo físico e reiniciar novos programas instalados na nossa mente. As semanas, os meses e as estações do ano quebram as rotinas do dia a dia e são necessárias para que estejamos sempre recomeçando nossas vidas e nossas visões do mundo. Mas não é isso que acontece. Os condicionamentos são mais fortes que a nossa vontade de mudar. Estamos sempre usando a memória psicológica e as imagens do passado para começar o dia, a semana ou o mês. E por isso, nada muda de verdade.


E assim não avançamos como seres humanos. Tudo se repete, monotonamente. As pessoas contam seu tempo a partir dos eventos. Em 2014, por exemplo, vai ser assim: Veraneio, carnaval, semana santa, copa e eleições. Quando terminar o sonho da copa no Brasil, voltamos para realidade do dia a dia. Vamos ter os infames programas eleitorais, onde tudo vai ser prometido com a maior cara de pau. Os candidatos, que serão os de sempre, vão falar, inicialmente, em saúde, educação, segurança, planejamento estratégico, sustentabilidade, governança solidária, choque de gestão e outros termos novos que seus marqueteiros vão inventar. Depois, vão infernizar a vida dos adversários, dando início a sessão escândalos. Vai ser o sujo falando do mal lavado.

Quando tomarem posse, no início de 2015, os novos mandatários vão reclamar dos seus antecessores, se não foram os reeleitos. Segue o papo furado da governabilidade para justificar as composições partidárias e o preenchimento dos cargos comissionados. Contratam consultorias desnecessárias, pois, tudo que elas propõe, já foi proposto anteriormente, pela prata da casa. E, aí, já começa a próxima eleição. Os que saíram do governo, mas não fizeram o prometido, querem retornar. E o gigante pela própria natureza vai continuar deitado eternamente em berço esplêndido. 

A natureza quebra a monotonia da terra com suas catástrofes. Sensibilizamos-nos temporariamente. Os governos prometem tudo, mas em 6 meses tudo é esquecido. E no ano seguinte as mesmas catástrofes se repetem nos mesmos lugares, causando dores, principalmente, para os menos favorecidos, as principais vítimas.

A genealogia nos mostra que somos frutos de centenas de milhares de pessoas. Os indivíduos não se repetem, mas os condicionamentos de milhares de anos não nos deixam seguir um caminho diferente. Nem as religiões, nem os educadores, nem os filósofos e nem os psicólogos têm ajudado muito a humanidade.

Vez por outra aparece um messias na terra. Mas quando ele se vai, os seguidores esquecem os ensinamentos e o transformam num ídolo, deturpando tudo que foi proclamado. Buda disse que não precisávamos percorrer o mesmo caminho que ele. Seus ensinamentos iluminavam o caminho que tínhamos que seguir; Jesus ensinou que quando quiséssemos conversar com Deus, entrássemos em um quatro, fechássemos a porta e orássemos, dando como o exemplo o pai nosso, mas fazemos o contrário; Krishnamurti ensinou que prestássemos atenção na nossa mente, pois é ela quem tem o comando de tudo, mesmo dos que se dizem livres.  Mas, infelizmente não compreendemos o que eles disseram e a humanidade caminha sem muita evolução, comandada pelos expertos e enganadores.
 
Assim, 2014 vai ser, em essência, a repetição do que tem acontecido até agora. A única novidade é o próprio ano.

13/01/2014

Antigos armazéns de tecidos

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br


Nos antigos armazéns varejistas do Brasil Colonial vendia-se de tudo: gêneros alimentícios; pólvora; ferragens; instrumentos agrícolas; artigos de couro; calçados; fazendas; roupas; pedras de fogo; sabão em pedra; bacias; urinóis; estojos de navalha; canivetes; tesouras e facas; louças chinesas, inglesas ou francesas; caixas para rapé; chapéus; etc.
Nesse artigo iremos abordar apenas os tecidos que eram vendidos nesses estabelecimentos, a grande maioria de procedência europeia ou asiática, vendidos a retalho nos armazéns/ armarinhos:
Azulão: tecido grosso de algodão, na cor azul, fabricação inglesa.
Pano de algodão: tecido grosso de algodão, usado para confecção de roupas brancas, lençóis...
Baeta: variedade grossa de tecido felpudo de lã, artigo bom e caro.
Bretanha: variedade de tecido de linho e de algodão de boa qualidade.
Canequim: fino tecido de algodão, manufaturado na Índia.
Cobertor de Papa: tecido de lã felpuda e de qualidade inferior.
Durante: variedade de tecido de lã grossa, lustroso como o cetim.
Ganga: tecido de algodão, forte e durável, de procedência chinesa.
Ganguineta: certo tipo de tecido de ganga, em tom escuro.
Pano de linho de freira: tecido de linho muito fino, utilizado pelas freiras e monjas para confecção de certas peças do hábito.
Pano patente: tecido de algodão, de boa qualidade, fabricação inglesa.
Parche: pedaço de tecido fino como o tafetá.
Pano riscado: certa variedade de tecido de algodão – existia também o pano riscado de linho.
Pano de linho: tecido de linho, branco ou de cor.
Pano da Holanda: tecido de linho de trama muito fechada. Havia vários tipos.
Morim: uma variedade de tecido de algodão, normalmente na cor branca.
Chita: uma variedade tecido de algodão de qualidade inferior. Muito usada era a chita estampada em cores vivas, berrantes.
Cassa: tecido de algodão ou linho, fino, leve e transparente, de procedência asiática.
Cambrainha: variedade de cambraia – tecido fino e transparente, de boa qualidade, possivelmente fabricado de linho.
Estopa: tecido forte de grossos fios de linho.
Pano amarelo fino: um tecido que poderia ser de linho, lã ou algodão, na cor amarela.
Pano largo: outra variedade de tecido de algodão, linho ou lã, mais largo que os demais.
Fustão: tipo de tecido de algodão, seda, lã ou linho, que apresentava em sua textura cordões justapostos.
Surrete: tecido de algodão provavelmente originário de antiga feitoria portuguesa de Surrete, na Índia.
Droguete: tecido de lã que, quanto mais encorpado, melhor.
Canequim: fino tecido de algodão, fabricado na Índia.

Essas eram as fazendas da moda entre as últimas décadas do século XVIII e as primeiras do século XIX. Muitas dessas denominações persistem para alguns desses tipos de tecidos, enquanto que outras caíram em desuso e são totalmente desconhecidas nos dias de hoje.
Além desses tecidos de algodão, linho, seda e lã, os varejistas negociavam outros artigos relacionados ao vestir - rodaques, rabonas, jalecos, calções, véstias, fraques, vestidos, camisas, capas, ceroulas, meias, calças, chapéus, chinelas, botas, sapatos, lenços, mantas, cobertores, bengalas, dragonas, cabeleiras, guarda-sóis...
Roupas de cama e mesa também eram vendidas nesses locais, como: lençóis e fronhas, toalhas de mesa e guardanapos de tecidos.

E, claro que não poderiam faltar, artigos e aviamentos para costura: agulhas, linhas, botões, fitas, colchetes, alfinetes e retroses, etc.

12/01/2014

O tamanho do Estado e o bem-estar social
Tomislav R. Femenick – Mestre em economia e contador

            As relações do Estado com a economia têm sido um dos assuntos mais polêmico nos compêndios de economia política. É possível sintetizar as várias teorias em três ou quatro “escolas” de pensamento. O que há de comum entre elas é que todas fazem formulações sobre o espaço que o Estado deve ocupar no âmbito econômico. O que há de divergência é o quanto de beneficio a sociedade pode receber, dependendo do tamanho desse espaço. Entretanto esse assunto não se limita a um problema de escala de extensão do governo. Ele é o principal divisou de fronteira entre as ideologias capitalistas e socialistas; dele derivam as divergências entre a democracia capitalistas e as ditaduras socialistas.
            Muitos foram os economistas formuladores da teoria do “Estado mínimo”, que defenderam a interferência mínima do governo nos assuntos econômicos da coletividade, com completa ausência de regulação estatal. Entretanto esse conceito foi mais bem expresso por León Walras (1983), que tomou por base a ação racional das pessoas como produtoras e consumidoras, o mercado funcionando em regime de concorrência perfeita e o livre rendimento dos fatores de produção. Nessas condições, a economia atingiria o máximo das possibilidades produtivas e caminharia para uma situação de equilíbrio de preços, de pleno emprego e de máximo bem-estar social. Essa situação ideal exigiria que o Estado reduzisse suas funções somente àquelas voltadas à manutenção da ordem e justiça, deixando o provimento de serviços aos indivíduos e empresas por eles contratadas.
Os defensores do estado mínimo alicerçavam suas ideias, também, com base no conceito de estado de direito, que atribui aos cidadãos o normativo da opção própria, sem interferência do governo. Assim, a opção econômica seria um derivado da opção da cidadania.
Essa política – cuja base é intimamente associada com os conceitos e a doutrina do laissez-faire, que se desenvolveu na França entre as décadas de 1750-1770 – teve o seu apogeu na Grã-Bretanha durante quase todo o século XIX. No entanto, já nas últimas décadas desse século as grandes mudanças provocadas pela revolução industrial evidenciaram as contradições do modelo, quando ensejou o aparecimento de oligopólios e monopólios, que engessaram o livre desenvolvimento.  
            A primeira teoria econômica mais bem elaborada sobre o papel do Estado na economia foi desenvolvida por Adam Smith, em sua obra A Riqueza das Nações. Sua crença básica era de que a mão invisível (a oferta e a demanda) resultaria em um equilíbrio dos valores do mercado. Todavia, as análises mais apressadas que seus defensores e críticos fazem de sua obra atribuem ao economista inglês posições nem sempre condizentes com as suas opiniões reais. Como disse o professor Winston Fritsch (1983): “a defesa qualificada que Smith faz ao laissez-faire não o classifica nem como apóstolo do interesse burguês e pregador da harmonia de interesses entre as classes sociais como querem os primeiros, nem como defensor empedernido da iniciativa privada e inimigo à ‘outrance’ da interferência do Estado, como querem os últimos”. Isso porque sua concepção teórica não incluía a ausência de Estado ou a ideia de um Estado mínimo. Desconstruir essa falácia tem sido uma árdua tarefa, na qual se destacam os professores Winch (1978; 1983; 1992) e Brown (1994).
            Desde meados do século passado alguns economistas voltaram a defender a tese do Estado mínimo, entre eles Buchanan (1975), Milton Friedman (1984) e Hayek (1960), todos eles ligados à chamada “escola de Chicago”.
Tribuna do Norte. Natal, 12 jan 2014.

O Mossoroense. Mossoró, 09 jan 2014.
Verdades cruzadas - IX

CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, Professor aposentado do Curso de Direito da UFRN e Presidente da Comissão da Verdade. Sócio do IHGRN.

Artigo X - Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco.

Thiago de Mello: Estatuto do homem
Já podeis da Pátria filhos,
Ver contente a mãe gentil;
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil
Já raiou a liberdade,
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil.
Evaristo Ferreira da Veiga
(trecho do Hino da Independência do Brasil)
              
A dinâmica da vida oferece surpresas, boas e más. Não foi diferente na trajetória política do Brasil, que após 21 anos de trevas começou a enxergar a luz da liberdade.
O Brasil realizou eleições diretas em 1989 para a Presidência da República – gestão 1990-1994, com ferrenha disputa entre vinte e dois, candidatos, sendo os mais votados Fernando Affonso Collor de Mello (PRN), Luís Ignácio Lula da Silva (PT), mas participaram Leonel Brizola, Mário Covas,  Paulo Maluf, Guilherme Afif, Ulisses Guimarães, Roberto Freire, Aureliano Chaves, Ronaldo Caiado, Affonso Camargo, Enéas Carneiro, e outros pouco conhecidos, saindo triunfante o Governador alagoano Fernando Collor, com um discurso de moralidade – acabar com a praga dos “Marajás” e mudanças profundas na República brasileira o que, por medidas contraditórias e demagógicas, inclusive um desastroso Plano Collor, lhe valeu o impeachment após crise que ganhou as ruas, onde jovens com os rostos pintados exigiram a sua saída, o que aconteceu em 29 de dezembro de 1992.
O Vice-Presidente Itamar Franco já assumira interinamente no período de outubro a dezembro de 1992 e a partir do impedimento assume em caráter definitivo até 1994.
O seu mandato, apesar do curto espaço de tempo realizou o saneamento político do País, restaurando a credibilidade na democracia com o bem sucedido Plano Real, preparando caminho pacífico para a sua substituição através de pleito muito disputado.
  Em 1994, precisamente em 3 de outubro, novas eleições são realizadas para a gestão 1995 a 1998, agora com os candidatos Fernando Henrique Cardoso (PSDB), prestigiado com a execução do Plano Real quando Ministro do Governo Itamar, Luís Ignácio Lula da Silva (PT) vindo da classe proletária e outra vez Leonel Brizola, Orestes Quércia, líder municipalista, Enéas Carneiro, Esperidião Amin, Carlos :Antonio Gomes e Hernani Fontoura.. Vence FHC no segundo turno, disputando com Lula.
Sua gestão atendeu às expectativas com um trabalho organizado no sentido da retomada do crescimento econômico sustentável, o que lhe proporcionou disputar em 1998 uma reeleição para o período 1999-2002, disputando com os candidatos Luís Ignácio Lula da Silva, Ciro Gomes, Enéas Carneiro, que se tornou figura folclórica em razão da forma de sua campanha na TV e mais oito disputantes desconhecidos da mídia nacional.
No caminhar democrático, novo pleito é realizado em 2002, turnos em 6 e 27 de outubro, para o período de 2003 a 2006, saindo vitorioso, afinal, o grande batalhador Luís Ignácio. Começava a Era Lula, cujo governo trouxe indiscutível mudança na concepção da democracia brasileira, tornando-se uma figura notória internacionalmente, após uma disputa com os candidatos José Serra (PSDB), Anthony Garotinho e Ciro Gomes.
Mercê de uma gestão responsável e a recuperação gradativa do valor da moeda, ganha a credibilidade do povo brasileiro e em 2006, pleito realizado em dois turnos: 1º e 29 de outubro, logra retumbante reeleição para o período de 2007 a 2010, suplantando os candidatos Geraldo Alckmin (PSDB-PFL), Heloisa Helena,Cristovam Buarque, Ana Maria Rangel, José Maria Eymael, Luciano Bivar e Rui Costa Pimenta..
Seu desempenho e prestígio logrou fazer seu sucessor no governo, na pessoa da candidata do PT Dilma Rousseff, disputando com os candidatos José Serra (PSDB), Ivan Pinheiro, Zé Maria, José Maria Eymael, Levy Fidelix, Marina Silva e Plínio Sampaio, saindo Dilma vencedora no segundo turno realizado no dia 31 de outubro de 2010 para um mandato até 2014. Foi a primeira mulher a assumir a Presidência da República em nossa história republicana.