________ PERFIS DE NOSSA TERRA ______
ROMÃO, DISTINTO E PEDRO PIXILINGA
Valério Mesquita
mesquita.valerio@gmail.com
A Câmara Municipal de Macaíba concedeu tempos passados, o
título de cidadania a três figuras representantes de uma época ida e vivida que
os anos não trazem mais. Os três integram uma mesma geração, chegados cada um
de suas respectivas origens, mas logo se harmonizaram e se entrelaçaram com
Macaíba ao ponto de muita gente ainda pensar que aqui haviam nascido. Fincaram
no chão de Severo, de Auta, Freire e Mesquita as raízes familiares, de geração
a geração, desde o início do século passado.
ROMÃO BEZERRA:
Filho de Pedro Bezerra de Azevedo e Ana Bezerra de Azevedo,
Romão Bezerra nasceu no dia 15 de novembro de 1914, na Fazena Rosário, em
Santana do Matos e chegou a Macaiba pelos idos de 1928, para trabalhar numa
sapataria do seu cunhado, Manoel Rodrigues de Oliveira. Em 04 de fevereiro de
1940, casou-se com a professora Enedina Augusta de Albuquerque. Da união
amorosa, nasceram os filhos: Dilma, Dilson, Edilson e Romeu. Seu Romão foi uma
tradição de retidão, honestidade e respeito conquistados, através dos anos, com
muito trabalho na lide comercial, desde o velho mercado até o último ponto de
sua atividade, na garagem de sua própria casa, já aposentado. Homem do
interior, do campo, da vida rural, jamais deixou de possuir e cuidar de um
pequeno rebanho, criado no sítio no fundo de sua residência. Desportista
cruzeirense que admirava a arte futebolística do seu saudoso filho Edílson, meu
amigo e compadre. Vibrava na emoção de pai com suas jogadas e o gol. Homem
integrado a vida social da cidade, foi diretor de várias entidades, inclusive o
Pax Club dos bons tempos dos anos 50. Romão Bezerra foi uma reserva moral de
Macaíba, cujos cabelos brancos guardavam os dias e as noites da vida da cidade,
como um relicário testemunhal da sua construção repetida através dos anos.
JOSÉ DISTINTO:
Zé Distinto ou Zé Fradinha, como queiram chamar, era um
homem dócil, educado, sem nunca haver frequentado os bancos escolares.
Formou-se pela universidade da vida e colou grau em Macaíba, nos anos vinte,
quando aqui chegou e foi acolhido pela família de José Maria Magalhães e de
Alberto Silva. O seu estilo de tratamento para com as pessoas, a sua
obsequiosidade, a sua prestimosidade, fizeram-no um ser disponível, um
samaritano, um próximo. Por trás do balcão do seu bar, na praça Augusto Severo,
ele comandava um exército de fregueses, com atenção redobrada, onisciente e
onipresente, como se adivinhasse, por antecipação e psicologia, o que cada
freguês ia pedir. Conheceu muita gente no exercício da profissão. Tanto que fez
um álbum de fotos de centenas de personalidades, ricas e pobres, mas todos
amigos de Zé Fradinha e admiradores do seu ofício. Distinto conheceu Câmara
Cascudo que lhe estimulou a prosseguir nas pesquisas fotográficas. Zé Distinto
foi uma chama viva de um passado rico de humanidade, principalmente quando fez
desfilar o seu álbum de relembranças.
PEDRO PIXILINGA:
Pedro Pixilinga foi o campeão dos carnavais de todos os
tempos. Ele surge e ressurge nas avenidas de hoje como um fogo olímpico e
emblemático da cultura carnavalesca. Fazia carnaval na base da resistência, do
sacrifício, comandando “os Lampiões na Folia”. Pedro foi um poço de
recordações. A vida lhe marcou muito, desde as alegrias até as tristezas. Mas
nada lhe abalou, porque soube com coragem enfrentar os desafios de homem pobre
e leal. Será lembrado sempre como o folião número 01 da cidade, o Lampião dos
carnavais macaibenses.
Pedro Pixilinga, ao longo de mais de 50 anos, animou o
carnaval da cidade comandando blocos, maxixeiras e bagunças. O seu último foi
“Os Cangaceiros na Folia”, sempre fiel ao estilo antigo de desfilar ao som de
marchinhas e frevos. Pedro era o Lampião do carnaval de Macaíba, que enfrentava
na avenida as famosas escolas de samba “Aí Vem Os Malandros”, “Bafo da Onça”,
“Ferro e Aço” e “Os Calouros do Samba”. O valente Pedro Pixilinga, com seus
indomáveis cangaceiros e bonitas Marias, fazia um verdadeiro furor, com Ronaldo
e Bodete no trombone, Pereira no pistom, Geraldo Paixão no contra-baixo, Banga
no tarol, Bastinho no surdo e, de quebra, Belchior, naquela barulheira toda,
tocava um banjo inaudível. Era o toque "felliniano" da folia. Na vida
doméstica, Pedro era pobre e vivia do jogo do bicho e da roda da sorte de uma
“roleta 36”, nos bons tempos. Todos os anos, alguém apostava e perdia: “Esse
ano ele não sai!”. No domingo de carnaval, às três da tarde, "Os
Cangaceiros da Folia" despontavam nas Cinco Bocas com Pedro à frente,
efetuando as primeiras evoluções "lampiônicas". Hoje, tudo é só
nostalgia.
Os três títulos concedidos, honrou e enobreceu a Câmara
Municipal.
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