POMPÍLIA:
UM DEPOIMENTO
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Faleceu terça-feira passada, dia 21, Marlindo Pompeu. Ex-vereador, político em
disponibilidade, agitador social, era o meu intérprete, ungido e jungido das
causas populares. Conheci-o em Macaíba, lá pelos idos de 1950, quando estudava
no bravo Colégio Agrícola de Jundiaí. Pompília já se revelava inquieto,
mobilizador e encantador de serpentes. Era amigo do sábio e matemático Damião
Pita, também estudante e professor das escolas de primeiro e segundo graus da
rede municipal. Na campanha popular para governador em 1960, o velho Pompa
ocupou a linha de frente do exército de Dejinha (Djalma Marinho) e
transformou-se no próprio tumulto tanto para os adversários como para as suas
próprias hostes.
Encontrava-o aqui e acolá sempre com pressa, passando com ruído, soltando
frases soltas e estribilhos guerreiros sobre lutas e batalhas iminentes. Jamais
foi achado em silêncio. Ninguém era melhor que ele para bastante procurador de
causas possíveis e impossíveis. Daí, nomeava-o, com toda pompa e circunstância,
o meu, o nosso advogado. Sem mandato popular, sabia melhor que os outros, os
caminhos das pedras, das residências oficiais, porque era sombra e luz, voz e
ouvido do clamor das ruas.
A sua marca registrada sempre foi a fidelidade irrepreensível ao líder e ao
ideal. Sobre esse ângulo poderia registrar dezenas de atitudes do seu quilate.
Continuou sendo o homem de um partido só, sem esmorecer, sem tergiversar, sem
recuar. Em Natal, viveu sua fase de líder popular nas comunidades, defendendo-a
na Câmara Municipal e fora dela. Para ele não importava ter o mandato para
socorrer o povo e requerer a solução dos problemas. Ele sempre o fez porque se
tornou conhecido e festejado por todos como um homem simples, pobre, honesto e
prestativo.
Conviveu com governadores, senadores, deputados, mas nunca amealhou vantagens
pessoais, pois somente lhe interessa servir. Carregava uma pasta cheia de
papeis. Nela nada tinha de si e sobre si. Apenas, papeladas de pedidos dos
outros, reivindicações comunitárias, receitas, recibos inadimplentes de IPTU,
água e luz. Foi o carteiro do povo; o jornaleiro do líder que defende; o
pastorador de auroras das ruas e avenidas de Natal só para anunciar as
alvíssaras, as boas novas do partido e do próximo.
Sempre foi o estafeta legítimo de pleitos, porta-voz dos esquecidos e condutor
dos novos rumos e prumos de Natal. Daí sempre confiei nele para pugnar,
reivindicar, exigir, porque possuía o senso comum das coisas simples e
honestas.
Mas, o velho Pompeu estava cansado. E chegou a hora dele. O momento de todos
assumirem o mandato que ele exerceu por nós: o exercício da solidariedade
humana por Natal e pelos seus habitantes. Ao prestar-lhe este tributo, eu o
faço com emoção pelo muito que ele fez e pelo tão pouco que recebeu. Soou a
hora de reparar esse esquecimento.
(*) Escritor.
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