OCTACÍLIO ALECRIM
Valério Mesquita*
Octacílio Alecrim nasceu em Macaíba (RN), em 17 de novembro
de 1906. Seus pais eram o Coronel Prudente Gabriel da Costa Alecrim e Ana
Pulchéria de Melo Alecrim, comerciantes bem situados da região. Aprendeu as
primeiras letras na sua cidade, vindo depois para Natal continuar os estudos no
Colégio Santo Antônio e no Atheneu Norte-Riograndense. Formou-se em Direito no
Recife no ano de 1934, tendo sido um dos líderes acadêmicos mais atuantes do
seu tempo. Nessa época, fundou a Revista Cultura Agitação com Álvaro
Lins, Aderbal Jurema e outros contemporâneos.
Depois de formado, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se
aproximou do Grupo Brasileiro de Estudos Proustianos, formado por intelectuais
como Otto Maria Carpeaux, Sérgio Buarque de Holanda, Lúcia Miguel Pereira, e
outros. Assim que foi possível, viajou para a França, onde passou uma temporada
aprofundando seus estudos sobre Proust.
Octacílio Alecrim escreveu e publicou vários artigos em
jornais e revistas, como Diário de Pernambuco, Correio da
Manhã, Jornal de Letras (RJ), Revista de
Antropofagia (SP), Revista Nordeste (PE), e Revista
Branca (RJ), sendo a maior parte deles sobre o tema da escrita proustiana.
Na Revista de Antropofagia (2ª edição, 1929), ele publicou um texto — “Miss
Macunaíma” — que trata com extrema ironia da viagem de uma pseudo-escritora,
do Sul ao Nordeste. Logo nas primeiras linhas, o leitor mais atento percebe
que, na realidade, ele está referindo-se a Mário de Andrade e à sua viagem às
terras potiguares, de 1928 e 1929. A ironia, o preconceito e o tom bem
agressivo que perpassam pelo texto evidenciam o posicionamento do autor junto a
Oswald de Andrade, no embate literário que este desencadeou contra o autor
de Macunaíma.
Em 1957, Octacílio Alecrim publicou um livro de memórias
intitulado Província Submersa (Reeditado pelo Senado Federal juntamente
com o Instituto Pró-Memória de Macaíba). Esse livro pode ser considerado uma
autobiografia. Nele, o autor realiza um verdadeiro retomo, à moda de Proust às
suas origens e ao tempo da infância, resgatando com sensibilidade
inúmeros tipos e costumes da sua terra. O livro está organizado em cinco
partes, assim respectivamente denominadas: Zumbido de Berimbau, Parafuso de
Redemoinho e Almanaque de Lembranças; segunda parte: Brevetes do Fabulário;
terceira parte: Fogueira de Guia, Evocações de estrelas cadentes e Nostalgia do
infinito; quarta parte: Signo de escorpião; e quinta parte: Sobrevivência de
Anteu. Ao final do volume, há ainda uma série de depoimentos sobre o autor,
assinados por escritores e historiadores da literatura, tais como Mauro Mota,
Nilo Pereira, Celso Kelly, Afrânio Coutinho, Veríssimo de Meio, Américo de
Oliveira Costa e Peregrino Júnior.
Afrânio Coutinho, por exemplo, afirma que Octacílio Alecrim
é o ensaísta delicado e penetrante que tem o prazer das sensações intelectuais
refinadas. Daí sua atração por Proust, a quem são dedicadas algumas de suas
melhores páginas.
Octacílio Alecrim faleceu no Rio de Janeiro, cidade em que
residiu parte da vida, em 02 de setembro de 1968 e foi enterrado no Cemitério
São João Batista.
Em Macaíba, uma escola estadual, em homenagem tem, o seu
nome.
(*) Membro da Academia Macaibense de Letras, da Academia
Norte-Riograndense de letras e do Conselho Estadual de Cultura.
(**) Foto do acervo do Instituto Tavares de Lyra
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