CINQUENTENÁRIO
DE FALECIMENTO
Valério
Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Dia 12 de abril passado fez cinquenta anos do
desaparecimento do maior líder político municipal da terra de Auta de Souza. Uma
vida pública exercida ao longo de mais de quarenta anos impossível ser
memorizada de uma ou duas vezes. Quase sempre fatos isolados ou esquecidos emergem
e são lembrados, aqui e acolá, por mentes privilegiadas que ajudam a moldar o
perfil de quem já se foi, mas que deixou inesquecíveis lições de vida. Assim foi
Alfredo Mesquita Filho, ex-prefeito de Macaíba (três vezes) e ex-deputado
Estadual, também por três legislaturas, que nasceu em 23 de maio de 1901.
O traço predominante de sua personalidade era o
despreendimento, o despojamento de bens materiais ou vantagens que lhes fossem,
porventura, oferecidas. Esse legado grandiloquente de sua vida tive poucas chances
de narrá-lo em várias notas biográficas que produzi, principalmente por ocasião
do seu centenário de nascimento.
01) Integrava uma prole de seis irmãos herdeiros de um
rico patrimônio em fazendas, rebanhos, lojas de tecidos e dinheiro quando
sobreveio a morte do seu pai. Como não poderia deixar de ser, ocorreram
inúmeras discussões e disputas entre os irmãos pelo espólio. Ao receber o seu
quinhão percebeu que dois dos seus irmãos litigavam pessoalmente e na justiça,
insatisfeitos pelo que lhes coubera. Numa atitude inusitada, ofereceu “de mão
beijada” a sua parte na Loja Natal Modelo aos dois contendores e com isso
sepultou a dissensão dos manos José e Vicente Mesquita.
02) De outra feita, lá pelo final dos anos quarenta, presenciou
a firma Santos e Cia Ltda, pertencente ao seu grande amigo José dos Santos,
atravessar seriíssimas dificuldades de crédito, além de outros problemas que inviabilizavam
a organização. Desfrutando de excepcional prestígio político e pessoal nos
governos pessedistas de José Varela, no Rio Grande do Norte, e de Eurico Gaspar
Dutra, Presidente, através de Georgino Avelino e João Câmara, conseguiu no Rio
de Janeiro, capital da República, a recuperação econômica da empresa, tornando-se
credor da gratidão e do profundo reconhecimento da família Santos. Seu José,
português, homem honrado e líder do grupo, convidou Mesquita para ser sócio da
firma. “Não posso ser sócio se não tenho capital nem ações para tal objetivo”,
foi a sua resposta. “O que você fez é
bem mais do que todos esses papéis”, retrucou o velho José dos Santos. “Mas não
posso aceitar”, concluiu Alfredo Mesquita e encerrou o assunto. Creio que
Geraldo Ramos dos Santos e José dos Santos Filho conhecem o episódio.
03) No plano político, menores não foram os exemplos do
seu desapego às ofertas ou benesses que pudessem lhe trazer vantagens ou
significar se curvar aos poderosos. Lembro-me que no governo de Aluízio Alves, em
1965, recebeu uma missão chefiada pelo economista Roosevelt Garcia com o fito
de oferecer-me um cargo de fiscal de rendas, em troca do abrandamento de sua atuação
política no município para beneficiar a candidatura do Monsenhor Walfredo
Gurgel. A resposta só não foi truculenta em respeito ao emissário, que era um
dos seus sobrinhos prediletos. E assim perdi a missão de arrecadar tributos.
Testemunhei todos os percalços do seu itinerário
político. Presenciei traições, acompanhei revoltas mas nunca vi seus olhos marejados
indicando sofrimento. Vi uma vez, duas lágrimas escorregando no seu rosto. Foi
em 1964. Quando criminosamente ousaram derrubar a casa onde havia nascido Auta
de Souza. Era como se visse um pedaço do seu passado jogado no lamaçal da
história.
Neste dia comecei a ver nos olhos de “seu” Mesquita,
um mundo novo que invadiu o meu destino. E que ensinava Jesus Cristo: “os olhos
são as janelas da alma”.
Naquele dia meu pai abriu uma nova janela que hoje
possui o nome de gratidão e o sobrenome de saudades.
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