03/02/2015

 Manoel José Martins, o tutor

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG

Alguns construtores da História do Rio Grande do Norte, muitas vezes, não têm seus nomes escritos nos livros do presente. Não são lembrados nem pelos seus parentes que sobrevivem hoje. Se não foram militares, escritores, políticos e não exerceram atividade mais significativa ficam esquecidos para sempre. 

Manoel José Martins nasceu em Macau, como podemos ver do registro a seguir: Manoel, branco, filho natural de José Martins Ferreira e Delfina Maria dos Prazeres, moradores nesta Freguesia, nasceu aos dezenove de abril de mil oitocentos e trinta, e foi solenemente batizado, com os Santos Óleos, aos vinte e um de maio do mesmo ano, em Macau, pelo Reverendo José Beraldo de Carvalho, de minha licença, o qual (José Martins) disse em minha presença reconhecia o dito párvulo por seu filho, e me pediu fizesse essa declaração para todo tempo constar, foram padrinhos o capitão Silvério Martins de Oliveira e sua mulher Joanna Nepomucena; do que para constar mandei fazer este assento, e por verdade assino. O Vigário João Theotônio de Souza e Silva.

Esse registro acima é o primeiro de quatro, dispostos continuamente, onde José Martins Ferreira faz o reconhecimento dos filhos: Manoel, José, Josefa e Joaquim.

Encontramos Manoel com vários sobrenomes: Manoel José Martins, Manoel José Martins Ferreira, Manoel Martins Ferreira. Em 1847, já em Cacimbas de Viana, ainda solteiro, ele foi padrinho, junto com Josepha Clara Martins, de Justino, filho legítimo de Bartholomeu P. da Silva e Izabel Maria da Conceição. Em 1857, ambos casados, Manoel José Martins Ferreira e Josepha Clara Martins foram padrinhos de Manoel, filho legítimo de João Alves Martins e Anna Maria de Jesus. Esse João Alves Martins, que quando casou tinha o nome de João Martins Ferreira, era irmão de Manoel José Martins, embora não aparecesse na lista dos reconhecidos pelo pai José Martins Ferreira.

Vejamos seu casamento: Aos vinte e oito de novembro de mil oitocentos e cinquenta, pelas 4 horas da tarde, na fazenda das Cacimbas de Vianna, na Freguesia do Assú, foram unidos e abençoados em matrimônio, de minha licença, pelo Reverendo Silvério Bezerra de Menezes, os contraentes, meus fregueses, Manoel Martins Ferreira, e Prudência Maria Teixeira, brancos, servatis ex more servandis: foram testemunhas José Martins Ferreira e João Gomes Carneiro: do que faço este assento em que assino. Felis Alves de Souza, Vigário Colado de Angicos.

Nesse registro não aparecem os nomes dos pais dos nubentes. Acredito que essa Prudência era filha de Francisco Antonio Teixeira de Sousa e Marianna Lopes Viegas, pois no inventario desta última, do ano de 1839, aparece uma filha do casal, com a idade de seis anos, com esse nome. Os Teixeira de Sousa tinham fazendas em Cacimbas de Vianna. No ano de 1853, Manoel José Martins e João Lins Teixeira de Souza (irmão de Prudência), foram testemunhas do casamento de escravos de João Teixeira de Souza e de João Gomes Carneiro (casado com Anna Joaquina Teixeira de Souza).
Não encontrei um registro sequer de filhos do casal Manoel José e Prudência. Acho que eles não tiveram filhos e, talvez, isso foi  determinante para Manoel José assumir a tutoria dos filhos de seu irmão José Alves Martins, assassinado em 1871. Eram nove, tendo o mais velho a idade de 18 anos e o mais moço, 4 anos. 

No inventário acima podemos observar o zelo que Manoel José Martins teve, prestando contas periodicamente do mesmo. À medida que os herdeiros ganhavam o direito da herança ela era repassada aos mesmos, sem nenhuma contestação, sendo o último a receber o caçula Manoel Alves Martins.

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