25/04/2015

GILENO GUANABARA, sócio efetivo do IHGRN


A COLUNA PRESTES E AS CERCAS DO SERTÃO

            Nos feriados da Semana Santa que passou visitei a cidade de Portalegre, os lados da “tromba do Elefante”, na região Oeste do Estado. Amigos meus tinham-me cobrado uma lembrança da passagem de Luís Carlos Prestes, durante os meados de 1926, no comando da Coluna que tomou o seu nome e que marchou por entre aqueles serros e caatingas, no entorno das pelejas desde o Piauí, passando pelo Ceará. Segundo Daniel Aarão Reis (Luís Carlos Prestes - Um Revolucionário Entre Dois Mundos; C. das Letras, 2014), durante a passagem pelas comunidades sertanejas, a Comuna teria sofrido duros ataques das populações, das tropas mobilizadas por fazendeiros e por líderes políticos locais, inclusive com arregimentação de jagunços e das polícias estaduais.

            Na sequência das aldeias assentadas por toda a Chapada do Apodi, anteriormente distanciadas uma das outras, hoje mais aproximadas pelas estradas pavimentadas, se descortina o progresso desvairado que atenta às tradições de gente e vínculos tão sedimentados com a terra. Se a agricultura não mais encanta seus beiradeiros e moradores, a Internet reforça o surto da juventude em busca de vida melhor, nas grandes cidades do litoral.

Às indagações feitas ninguém mais se lembra da Coluna Prestes que passou pela região. Nenhuma marca ficou guardada na memória dos mais velhos. Nem mesmo a lembrança da histeria disseminada, segundo a qual os revoltosos se apossariam da riqueza encontrada nas cidades por onde passasse. Ou de que destruiriam as igrejas e capelas, em se tratando de agentes do demônio, como se difundiu à época.

De lado a lado, entretanto, o desconhecimento das intenções da luta tornava os homens indomáveis, tal a aspereza da vida vivida no sertão. A Coluna teve de enfrentar as armas do “Exército patriótico do padre Cícero”, a que se juntavam os batalhões civis, os jagunços municiados pelo governo federal, sob o comando dos proprietários rurais, a quem se agraciava com patentes da Guarda Nacional. A isso tudo se juntava a população obstinada na perseguição da Coluna.

No dia 3 de fevereiro de 1926, a Coluna Prestes subiu a serra de São Miguel e chegou na freguesia de Luís Gomes. Em que pese a resistência da população, houve o saque daquelas cidades, com prejuízos dos habitantes. Dois dias depois, a Coluna adentrou na Paraíba, onde foi lançado o manifesto “Ao Povo paraibano”, subscrito por Miguel Costa, Prestes e dois chefes que conspiravam na Paraíba. Saudava os tenentes Aristóteles de Souza Dantas e Lourival Seroa da Mota. Por último, dava vivas ao povo paraibano, ao marechal Isidoro Dias Lopes e a revolução brasileira.

A esse tempo, o nome de Prestes tornara-se um mito, despertando em seus comandados a afeição pela retidão de justiça, a capacidade de sacrifício, enquanto lendas corriam a seu respeito. É que uma feiticeira – Tia Maria, que dançava nua perante o fogo das metralhadoras, ao som de uma flauta - teria “fechado o corpo dos rebeldes”.

Ainda hoje, passados tantos anos, ao alcance do atual registro histórico, é fácil perceber na junção da saliência íngreme dos serrotes e nos pedregulhos incólumes os traços pastoris de que se serviu a ocupação humana, ainda hoje conservados nas cercas e currais, na alimentação e no largo uso do couro, forma de domínio e liderança: o rebenque usado como instrumento de submissão do próprio homem ou dos animais.

Naquele sertão, ainda são vistas as casas de fazenda, cujos currais são a extensão do oitão através de cercas espichadas no rumo infinito da paisagem. São edificadas em vários estilos, de pedra, de pau-a-pique, cerca viva de gravetos, de aveloz, de cardeiro, em maravalha, em arame farpado, de tamanho nunca superior ao de um homem, que dê a visão de quem está do lado de fora. Cercas só faccionadas por mata-burros. Cercas horizontais que se projetam para além da casa grande, a fim de confinar a convivência do homem com vegetais e animais íntimos de toda a vida: o milho, o feijão, o boi, os porcos, cavalos, cabras e aves.

A necessidade da cerca teve razão no criatório solto, cujo apartamento anual teria êxito no cuidado diário dispensado e mais aproximado das reses. De outra, a proteção que dava nas áreas de agricultura mais intensa, nos baixios e vazantes, para evitar a invasão dos bovinos e seu pisoteio destruidor.

A configuração das cercas no sertão, dado o declínio da dominação patriarcal, bem assim com a nova configuração econômica das regiões em urbanização crescente e pela presença das estradas, está em decadência. Dão-se outras formas de ocupação e itinerário, estabelecendo novos espaços econômicos através de vias que tornam factíveis a mobilidade de grandes negócios e de contingentes humanos.

As comunidades que há quase um século viram um bando de “comunards”, liderados por visionários tenentistas, que projetavam a esperança utópica da Revolução na figura de um líder, atravessando as serras do alto Oeste, sofreram alterações inevitáveis, ao gosto da modernidade e a perda de costumes seculares. É possível encontrar-se ainda relíquias de velhas cercas de pedras empilhadas, lembranças amenas de um tempo, marcas guardadas da ocupação por judeus errantes, ou de cangaceiros fora da lei, em passagem, no rumo das charqueadas do Piauí, segundo o relato de Calazans Fernandes (O Guerreiro do Yaco - Serra das Almas. FJA.2002). Foram e continuam sendo cercas poéticas, cercas vivas, estilosas que insistem em guardar suas nuances e limites, apesar da passagem do tempo.

Dia 27 a 30 de abril


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24/04/2015

José Gomes Camello e Elena da Paixão


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Matemático, sócio do IHGRN e do INRG.
Nem todos os registros do passado são confiáveis. Vários deles contêm erros de transcrição. Alguns assentos da Igreja eram baseados em termos que vinham dos padres que celebravam as cerimônias. Estes já continham erros e aqueles transcritos, mais equívocos ainda. Em cada registro de um filho de determinado casal, encontramos informações diferentes. Nos registros referentes ao nosso personagem de hoje, José Gomes Camello, encontramos informações diferentes sobre sua naturalidade ou sobre a legitimidade de sua filiação. Vamos começar, inicialmente, com o casamento de José e Elena.

Aos nove de junho de 1766 anos, na capela de Nossa Senhora da Conceição de Jundiahi, filial desta Matriz, corridos os banhos nesta Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, naturalidade da nubente, e na Capela do dito Jundiahy, (ilegível) da naturalidade por parte do nubente, de licença minha, se casaram, pelas três horas da tarde, Joseph Gomes Camello, natural da Cidade de Olinda, filho ilegítimo de João Gomes Camello, e de Cosma de Olanda, já defuntos, naturais da mesma Freguesia, com Elena da Paixão, e Souza, natural desta Freguesia, filha legítima de Theodósio de Mendonça Luna, e de sua mulher Joanna Gomes de Oliveira, todos naturais desta Freguesia, na presença de Reverendo Padre Joseph Rodrigues Ferreira, e logo lhes deu as bênçãos nupciais, conforme os Ritos da Sagrada Igreja, sendo presentes por testemunhas que na certidão vieram assinadas, e que fica em meu poder, o tenente Bartholomeu Peres de Gusmão, e Manoel Carvalho de Paiva, do que mandei fazer este termo pelo Reverendo Padre Coadjutor João Tavares da Fonseca, por me achar enfermo, pelo teor do dito assento, em que por verdade me assino. Pantaleão da Costa de Araújo, Vigário do Rio Grande.

O primeiro filho do casal acima foi Manoel, que nasceu em 1 de novembro de 1767 e foi batizado aos 21 de dezembro do mesmo ano, na Capela de São Gonçalo do Potigi, tendo como padrinhos José Gomes de Mendonça e Maria José da Conceição, mulher de João da Silva. Nesse documento, José Gomes aparece como exposto e natural da Freguesia de  Nossa Senhora do Rosário da Várzea, e os avós paternos não são citados. Em um assentamento de praça, encontro que: Manoel dos Santos Camello, pardo, solteiro, morador no Ferreiro Torto, de idade de vinte e oito anos, filho legítimo de José Gomes Camello, senta praça, por ordem do governador interino, e intervenção do Doutor Vedor Geral, em 27 de dezembro de 1788. Mais adiante, encontro registros de filhos de Manoel dos Santos Camelo, com sua mulher Francisca da Conceição, moradores da Mangabeira, já nos anos de 1800.

Em 5 de julho de 1769, era batizado Floriano, na Capela de Jundiahy, tendo como padrinhos o capitão Francisco Costa Teixeira e sua filha Josefa, não disseram o dia do nascimento, nem os nomes dos avós paternos.

Em 20 de dezembro de 1771 nascia Domiciano, mesmo nome do avô. Seu batizado foi no dia 17 de janeiro de 1772, na Capela de Jundiahy, e teve com padrinhos o capitão Francisco da Costa Teixeira e sua filha Dona Francisca Bezerra.

Francisco nasceu aos 14 de janeiro de 1774, e foi batizado aos 5 de fevereiro do mesmo ano, na Matriz, tendo como padrinhos Theodósio de Mendonça e a filha Leocádia. Sua naturalidade é dada como sendo a Cidade de Olinda.

Miguel nasceu aos 11 de outubro de 1874, e foi batizado, não diz em qual Igreja,  aos 13 de novembro do mesmo ano, sendo padrinhos o alferes Domingos João Campos, e dona Maria Joanna, filha de Bartholomeu Peres. Nesse batismo José e seus pais são dados como naturais de Apipucos, em Pernambuco.

Bonifácia nasceu aos 4 de janeiro de 1781 e foi batizada, em São Gonçalo,  aos 11 de fevereiro do mesmo ano, tendo como padrinhos o capitão Francisco da Costa Jr., solteiro, e Anna Rosa, filha de Thomé de Sousa.

Elias nasceu aos 26 de novembro de 1784, na Capela da Senhora de Santa Anna do Ferreiro Torto, tendo como padrinhos o tenente-general José da Costa, filho do coronel Francisco da Costa de Vasconcellos, e Josefa Maria. Não é citado o dia do batismo.

José foi batizado aos 20 de junho de 1886, na Capela da Senhora de Santa Anna do Ferreiro Torto, tendo como padrinhos José Fernandes, filho de Nicácio Sousa, e Anna Antonia, mulher do dito Nicácio. Nesse batismo José Gomes Camello é dado como natural do Recife, filho de João Gomes Camello e Luisa Cavalgante.

Maria Angélica da Conceição, filha de José Gomes Camello e Elena da Paixão, casou com Luiz Gonzaga de Freitas, natural da Freguesia de São Pedro Gonçalves do Recife, filho legítimo de José Gomes Pinheiro e sua mulher Josefa da Paz de Freitas, aos 18 de maio de 1803, na Matriz, na presença do Padre Simão Judas Tadeu, e tendo como testemunhas, o  sacristão Gonçalo José Dornelles e o tenente Alexandre de Mello Pinto.

Agora, o registro de um neto do casal, José e Elena: Pedro, branco, filho de João Gomes de Oliveira e de Rita Francisca Tavares, nascido em 31 de março de 1798, foi batizado na Capela de Santa Anna do Engenho Ferreiro do Torto, em 22 de abril do mesmo ano, neto paterno de José Gomes Camello e de Elena da Paixão, e pela materna de João Cardoso e Anna Tavares. Foram padrinhos Balthazar de Souza e sua esposa Joanna Batista. Sua naturalidade é dada como da Freguesia da Sé.

Theodósio de Mendonça Luna, pai de Elena, era filho natural de Domiciano da Gama Luna e de Francisca da Costa, e casou, em 1 de setembro de 1739, na Matriz, com Joanna Gomes de Oliveira, que era filha de David Rodrigues de Oliveira e Narcisa Gomes da Costa. Domiciano era filho de Francisco da Gama Luna e de Paula Barbosa. José Barbosa de Sousa, irmão de Domiciano, foi casado com Maria de Oliveira e Mello, filha de Francisco de Oliveira e Mello e de Leonor de Mello e Albuquerque. Em 1710, Francisco da Gama foi padrinho de um filho de Manoel da Costa Bandeira. Suspeito que Francisco da Gama Luna era filho de Antonio da Gama Luna e Maria Borges.

David Rodrigues de Oliveira e sua mulher Narcisa Gomes faleceram no mesmo ano de 1771, ele com cerca de 80 anos, e ela com mais de 70 anos. Entre os irmãos de Joana Gomes de Oliveira, encontramos, através de assentamentos de praça, Antonio Rodrigues Sepúlvida, Eugenio Gomes Sepúlvida e Agostinho Rodrigues Gomes. Antonio Rodrigues Sepúlvida foi casado com Thereza Antonia de Jesus, filha de Maria José de Mello, segundo o batismo de David, filho do casal. Uma irmã de Joana, de nome Thereza Maria, foi casada com João da Cruz, filho de João Lins da Silva e Leonor Lins da Silva, todos de Olinda. No registro do filho Felis, consta que David Rodrigues de Oliveira (também Sepúlvida), era natural de Igarassú.

Não encontrei irmãos de José Gomes, mas de Elena da Paixão, sim: Francisco Gomes de Mendonça que era casado dom Ignácia Gomes da Anunciação, filha de Nicácio Gonçalves e Joanna Francisca Gomes (Tracunhaém); Maria Gomes, casada com Bernardo Gonçalves, também filho de Nicácio e Joanna; José Rodrigues Gomes, que casou com Joanna Francisca, filha de Nicácio Gonçalves e Joana Francisca; Manoel da Costa de Mendonça, que casou com Maria Felipa, filha de Agostinho Cardoso Batalha e de Thereza de Jesus. Ainda, em 29 de junho de 1754, nascia Joana, filha Theodósio e Joanna Gomes.
Domiciano Gama Luna

23/04/2015

22 de abril - DESCOBRIMENTO DO BRASIL

Resumo sobre o Descobrimento do Brasil, primeiros contatos com os índios, contexto histórico, curiosidades


Descobrimento do Brasil (tela de Oscar Pereira da Silva)
Descobrimento do Brasil (tela de Oscar Pereira da Silva)
FONTE: 



Contexto histórico



O Descobrimento do Brasil deve ser entendido dentro do contexto das Grandes Navegações e Descobrimentos Marítimos (séculos XV e XVI). Portugal e Espanha eram as nações mais poderosas do mundo e se lançaram ao mar em busca de novas terras para explorar. Usavam também o mar como rota para chegar as Índias, grande centro comercial da época, onde compravam especiarias (temperos, tecidos, joias) para revender na Europa com alta lucratividade.

A chegada dos portugueses ao Brasil 

O Descobrimento do Brasil ocorreu no dia 22 de abril de 1500. Nesta data as caravelas da esquadra portuguesa, comandada por Pedro Álvares Cabral, chegou ao litoral sul do atual estado da Bahia. Era um local que havia um monte, que foi batizado de Monte Pascoal.
No dia 24 de abril, dois dias após a chegada, ocorreu o primeiro contato entre os indígenas brasileiros que habitavam a região e os portugueses. De acordo com os relatos da Carta de Pero Vaz de Caminha foi um encontro pacífico e de estranhamento, em função da grande diferença cultural entre estes dois povos.

Primeiros contatos com os indígenas 

Cabral recebeu alguns índios em sua caravela. Logo de cara, os índios apontaram para objetos de prata e ouro. Este fato fez com que os portugueses pesassem que houvesse estes metais preciosos no Brasil. Neste contato os portugueses ofereceram água aos índios que tomaram e cuspiram, pois era água velha com gosto muito diferente da água pura e fresca que os índios tomaram. Os índios também não quiseram vinho e comida oferecidos pelos portugueses. 

Neste contato, que foi um verdadeiro “choque de culturas”, houve estranhamento de ambos os lados. Os portugueses estranharam muito o fato dos índios andarem nus, enquanto os indígenas também estranharam as vestimentas, barbas e as caravelas dos portugueses.

No dia 26 de abril, foi celebrada a primeira missa no Brasil, rezada pelo Frei Henrique de Coimbra. Após a missa, a esquadra rumou em direção as Índias, em busca das especiarias. Como acreditavam que a terra descoberta se tratava de uma ilha, a nomearam de Ilha de Vera Cruz (primeiro nome do Brasil).

Polêmica: Descobrimento ou chegada?

Quando usamos o termo “Descobrimento do Brasil” parece que nossa terra não era habitada e os portugueses foram os primeiros a encontra-la. Desta forma, desconsideramos a presença de mais de cinco milhões de indígenas, divididos em várias nações, que já habitavam o Brasil muito tempo antes da chegada dos portugueses. 

Portanto, muitos historiadores preferem falar em “Chegada dos Portugueses ao Brasil”. Desta forma é valorizada a presença dos nativos brasileiros no território. Diante deste contexto, podemos afirmar que os portugueses descobriram o Brasil para os europeus. 

Principal fonte histórica 

A principal fonte histórica sobre o Descobrimento do Brasil é um documento redigido por Pero Vaz de Caminha, o escrivão da esquadra de Cabral. A "Carta de Pero Vaz de Caminha" a D. Manuel I, rei de Portugal, conta com detalhes aspectos da viagem, a chegada ao litoral brasileiro, os índios que habitavam na região e os primeiros contatos entre os portugueses e os nativos. 

Curiosidade:

- A esquadra de Cabral contou com aproximadamente 1400 homens. Eram marinheiros (maioria), técnicos em navegação, escrivão, cozinheiros, padre, ajudantes entre outros.

21/04/2015

21 de Abril — Dia de Tiradentes

O dia de Tiradentes é celebrado, sob regime de feriado nacional, em 21 de abril desde 1965 como forma de construção da imagem heroica do Patrono da Nação.

 
                            
O alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi um dos principais articuladores da Inconfidência Mineira
Desde 1965, aos 21 dias do mês de abril, celebra-se no Brasil o Dia de Tiradentes e, junto à pessoa deste, rememoram-se também os acontecimentos que configuraram a Inconfidência Mineira. Neste texto, procuraremos explicitar os motivos pelos quais Tiradentes passou a ser considerado um herói nacional e Patrono da Nação Brasileira.
Sabe-se que “Tiradentes” era o apelido de Joaquim José da Silva Xavier, um alferes (cargo militar da época colonial) que também exerceu a profissão de dentista. Tiradentes participou ativamente de um dos principais movimentos de contestação do poder que a coroa portuguesa exercia sobre o Brasil Colônia: a Inconfidência Mineira. Sabemos que esse movimento articulou-se entre os anos de 1788 e 1789 e foi permeado por ideias provindas do Iluminismo que se alastrou pela Europa, na segunda metade do século XVIII.
Os inconfidentes de Minas Gerais geralmente integravam, com exceção de poucos, a elite cultural e social daquela região (como era o caso do poeta Tomás Antônio Gonzaga) ou então ocupavam postos militares ou exerciam profissões liberais, como era o caso do referido Tiradentes. O que dava unidade ao grupo eram ideias como a de liberdade e igualdade (ideias essas que também fomentaram a Revolução Francesa, em 1789), além do anseio pela emancipação e independência com relação à Coroa Portuguesa, à época governada pela rainha D. Maria, “A louca”.
Os planos de insurgência contra o governo local em Minas, representado pelo Visconde de Barbacena, foram articulados em 1788 e tiveram como estopim a política de cobrança de impostos sobre a produção aurífera e sobre os rendimentos que ganhava cada pessoa que compunha a população de Minas Gerais. Esse último imposto era conhecido sob o nome de “derrama”. Apesar de terem uma organização bem elaborada, os inconfidentes acabaram por ser delatados por Silvério dos Reis, um devedor de tributos que, com a denúncia, acreditava poder sanar suas dívidas com a coroa.
Todos os inconfidentes foram presos. Tiradentes foi apanhado no Rio de Janeiro. O processo estabelecido contra eles e os subsequentes julgamentos e sentenças só terminaram em 1792, no dia 18 de abril. Os principais líderes receberam a pena do banimento, isto é, foram expulsos do país. Tiradentes, ao contrário, foi enforcado no dia 21 de abril ao som de discursos que louvavam a rainha de Portugal. Seu corpo foi esquartejado e sua cabeça exibida na praça principal da cidade de Ouro Preto.
Evidentemente, o dia da morte de Tiradentes por muito tempo foi compreendido como o dia em que um rebelde foi morto, como típico exemplo de retaliação absolutista. Entretanto, após a Independência do Brasil e, principalmente, após a Proclamação da República (época em que o Brasil, já desvinculado de Portugal, procurava construir sua identidade nacional), a imagem de Tiradentes começou a ser recuperada e louvada como um dos heróis da nação ou como um dos que primeiramente lutaram (até a morte) pela liberdade.
Um exemplo dessa imagem foi a instalação, em 1867, do primeiro monumento a Tiradentes na cidade de Ouro Preto. Outro exemplo, o mais notório, foi a confecção, por parte do pintor Pedro Américo, do quadro “Tiradentes Esquartejado” (ver imagem no topo do texto) em 1893, época em que a República, recém-instituída, procurava os mártires e os patronos da “Nação Brasileira”. O Tiradentes de Pedro Américo traduz a imagem idealizada do martírio, que se aproxima do martírio de Cristo.
Essa visão republicana de Tiradentes permaneceu (e, de certo modo, ainda permanece) no imaginário popular dos brasileiros. Em 1965, durante a primeira fase do regime militar no Brasil, o marechal Castelo Branco, então presidente da República, contribuiu para o reforço dessa imagem de Tiradentes, sancionando a Lei Nº 4. 897, de 9 de dezembro, que instituía o dia 21 de abril como feriado nacional e Tiradentes como, oficialmente, Patrono da Nação Brasileira.

Por Me. Cláudio Fernandes


O SENTIDO DO HUMANO E DO DIVINO

 

Valério Mesquita*


 

Quem leva o ser humano ao sofrimento é o mundo. Essa reflexão me vem à propósito, quando assisto o abandono dos enfermos nos hospitais da rede pública do país. Deus criou todas as maravilhas do mundo: a natureza, o crepúsculo, a aurora, o mar, a vida, o oxigênio e mandou o seu Filho Unigênito morrer por nós para remissão dos nossos pecados. Mas, Ele não exercita o seu sobrenatural e formidável poder sobre o profano, sobre o mundano, como se quisesse repetir o que Jesus falou: “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Daí os erros, os equívocos, os abusos, as omissões dos próprios homens pelos seus semelhantes oprimidos, por não saberem governá-los, protegê-los, curá-los, assisti-los e educá-los.

Deus se permite a está presente mesmo quando não o vemos. E quantas vezes Ele não age, mesmo quando não vislumbramos os seus atos, corrigindo e nos dando livramentos. Alguns imaginam que o Senhor não se importa com os perigos e os traumas malignos da potestade satânica na terra. Os que confiam no Senhor são vitoriosos, mesmo diante de circunstancias desfavoráveis. Deus continua convocando servos fiéis, dispostos a serem poderosamente usados em suas mãos para a própria salvação deles. Na leitura e pesquisa das Antigas Escrituras, observamos o quanto Deus condenou reis e puniu governantes inescrupulosos por conduzirem o povo ao descaminho e a iniqüidade. Com o advento de Jesus Cristo, o Pai legou a humanidade o caráter e o exemplo do Filho como modelo ideal a ser seguido para todos que Nele crer. Jesus passou a ser a luz do mundo deixando-nos o Espírito Santo.

Quero dizer que o padecimento dos humanos decorrem das obras criadas pelo próprio homem, tanto pela desobediência aos postulados da Bíblia quanto pelas suas inversões, consumismos, perversões, modismos, tudo isso, protegido por leis amorais e decadentes. O homem deve sempre olhar para trás e ver que as pegadas que contempla não são suas, mas do Senhor que o carrega em seus braços. Desastres aéreos, quedas de edifícios e de pontes, terremotos, tsunamis, violências urbanas, doenças, concupiscências, guerras, são descaracterizações diabólicas da gerencia espiritual dos humanos que nunca conseguiram vencer o mundo mas por ele foram vencidos. O único que venceu o mundo foi o Cristo que deixou o ensinamento para muitos mas poucos atendem o chamado. Sim, porque somente Jesus Cristo tem o poder do Pai para transformar o caráter e a conduta daqueles que se entregam a sua santidade pelo amor.

E que valores triunfantes do Cristo nós herdamos e deles nos afastamos? Somente através dos frutos do Espírito Santo é que o homem pode ser transformado. Tais frutos são opostos às obras da carne que influenciam muitos administradores a se distanciarem de Deus. E quais os frutos do Espírito Santo que podem corrigir o mundo? O amor, a paz, a caridade, a longanimidade, a benignidade, a mansidão, o perdão, a fidelidade, a temperança, a humildade e a justiça. Gálatas 5.23: “Contra essas coisas não há lei”. Por fim, o cristão deve revestir-se das qualidades santas e justas de seu Mestre. Deus faz tudo perfeito. O diabo põe os defeitos. O homem vil e servil aceita.

 

(*) Escritor.

19/04/2015

UMA OPINIÃO

   
Luciano Ramos
19 de abril às 06:41
 
Poderes Potiguares! Luciano Ramos 
Procurador-Geral do Ministério Público de Contas do RN 

“Será que nunca faremos, senão confirmar, a incompetência da América católica, que sempre precisará de ridículos tiranos. 

Será que esta minha estúpida retórica terá que soar, terá que se ouvir, por mais zil anos. 

Ou então, cada paisano e cada capataz, com sua burrice, fará jorrar sangue demais, nos pantanais, nas cidades, Caatingas e nos gerais. 

Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede são tantas vezes gestos naturais!” (Podres Poderes, Caetano Veloso). 

É inerente à democracia respeitar a diversidade de opiniões, vedado o choque com valores fundamentais, social e juridicamente protegidos que são de manifestações a eles contrapostas – não se pode sair por aí defendo impunemente o Holocausto. 

Excluídas estas situações-limite, o desenvolvimento da sociedade dependerá do equilíbrio entre pontos de vista diversos, até se extrair qual seja o interesse público vigente em determinado momento. 

Contudo, não há uma fita métrica a aferir com exatidão a justa medida a ser adotada, competindo às autoridades legitimadas na nossa democracia representativa decidir muitos dos rumos concretos a serem tomados. 

Estas reflexões conceituais surgem em meio à ebulição atual do Estado do Rio Grande do Norte, premido pelo pandemônio da segurança pública e o dever de decidir onde serão erguidos presídios para suprir déficit de aproximadamente 4.000 vagas no sistema prisional – supostamente, em um modelo com 600 vagas, seriam necessários 6 a 7 presídios; a opção por cadeias públicas requereria um número diversas vezes maior. 

Felizmente, até aqui, não se ouviu insana voz negadora da necessidade de erguer estruturas imprescindíveis para o Estado encarcerar pessoas, sem com isso eliminar outros elementos indispensáveis à sobrevivência humana, como o espaço vital – nem gado é capaz de sobreviver confinado com outros 30 de sua espécie em um cubículo projetado para caber apenas 4 seres vivos.

Mas, se obviamente temos que construir locais adequados para encarceramento, no entanto, o embate surge quando se há de definir onde eles serão erguidos. Eles são vistos como um mal necessário a ser posto o mais longe possível - como os leprosos da antiguidade. 

Entretanto, é impossível construir um presídio distante de todos, muito menos seis deles – nossa tecnologia ainda não evoluiu para erguermos estruturas na lua! 

Com tudo isso, espanta ver quantas barreiras são colocadas aleatoriamente para impedir a construção do primeiro deles, em um festival de bater de cabeça entre vontades políticas. 

Superou-se o que deveria ser o mais difícil em tempos de crise financeira, mas os donos do poder não conseguem chegar a um consenso nem fazer em tempo hábil aquilo que não pode ser adiado – pelas vidas em risco e pelos R$ 14,7 milhões dissolvíveis no ar. 

Em situações como tais, não se pode aguardar jorrar ainda mais sangue. Trata-se de uma decisão de Estado e cada cidade não pode cerrar-se em copas como se fosse uma ilha de soberania. Não há fronteiras internas a serem fechadas – admissível juridicamente até mesmo desapropriação de um bem público municipal pelo Estado. 

Para tanto, não é necessário um tirano. Ao revés, precisa-se de um democrata capaz de tomar decisões amargas, pois, imprescindíveis a toda sociedade. 

De outro modo, não há como compreender porque estamos todos em estado de sítio com o caos na segurança pública do Rio Grande do Norte, enquanto o dinheiro para começar a resolver o problema dorme esquecido em uma conta. 

Em breve, mal tratado desse jeito, ele voará para outros ninhos mais eficientes, se nada for feito com a pressa típica daqueles que tem fome!