01/01/2015


A economia no segundo governo Dilma

Tomislav R. Femenick – Contador, Mestre em Economia e da diretoria do IHGRN

 

Quando eu cursava o ginasial no Colégio Diocesano Santa Luzia de Mossoró, um dos nossos professores era o padre Cornelio Dankers – um holandês de rosto avermelhado, que não sei como nem porque foi parar nas frondes da caatinga nordestina. Com ele aprendi a diferença entre o conhecimento comum (o “senso comum”, ideias que prevalecem mesmo sem serem comprovadas) e o “senso científico” (o conhecimento baseado na comprovação de experiências repetidas). Citava como sendo sensos científicos perfeitos as teorias de Isaac Newton e as de René Descartes. Newton por suas leis da natureza (inércia, dinâmica e ação e reação), com as quais explicou o movimento harmônico de todo o universo; perfeito, sincronizado. Descartes, por rejeitar a certeza absoluta e só aceitar o que podia ser provado.
Depois me deparei com as teorias de Einstein (tudo é relativo, até o tempo e o espaço), as teorias da física quântica e as novas descobertas dos movimentos dos corpos celestes, estes sempre não sincrônicos. Isso literalmente bagunçou o que eu tinha aprendido antes. Anos depois é que compreendi que até os movimentos não perfeitos podem ser previsíveis, como explica a teoria da probabilidade da mecânica quântica. O que me trouxe de volta à estabilidade da compreensão das coisas foi o meu campo de ação profissional; a economia, a contabilidade, a administração, a história e a sociologia, ciências que se baseiam em verdades comprovadas por testes epistemológicos.
Essa longa introdução tem por finalidade analisar o que pode ser o futuro da economia do país no “novo” governo Dilma. A economia tem suas próprias leis que derivam da natureza humana. São leis que explicam a relação entre causa e efeito, e evidenciam a tendências de certos fenômenos se reproduzirem, mantidas as mesmas condições. Entre elas estão a lei da oferta e da procura, a que justifica porque as pessoas preferem os produtos mais baratos, a que explica porque as pessoas priorizam suas necessidades mais urgentes, a que afirma que os bens só se tornam econômicos quando são excessos, a que diz que a livre concorrência resulta em preços menores etc.
O primeiro governo Dilma raramente seguiu essa cartilha e se caracterizou mais por um comportamento heterodoxo. Por exemplo: incentivou o consumo e não a produção. E quando isso acontece quebra a harmonia entre a oferta e a procura – procura maior que a produção exacerba a escassez dos bens e o resultado é o crescimento da inflação.
O convite a Joaquim Levy para o cargo de Ministro da Fazendo parece ser uma guinada de 180 graus. Seu passado como economista do Fundo Monetário Internacional e do Banco Interamericano de Desenvolvimento e como secretário adjunto do Ministério da Fazenda no governo de Fernando Henrique Cardoso, indicam que a presidente vai dar novos rumos à economia brasileira. As ações de Levy, antes mesmo de assumir a nova incumbência, já denotam isso: contenção dos gastos públicos e superávit fiscal, estudos para revisão de procedimentos das políticas de incentivos, defesa da contenção da inflação, superávit na balança comercial etc.
Para conseguir realizar suas intenções, Joaquim Levy tem que vencer duas aguerridas guerras. Primeiro vencer a ala mais radicar do petismo. Lula conseguiu isso e a atuação do Antonio Palocci foi exitosa enquanto seguiu a mesma política econômica de FHC. Depois Dilma não tem a mesma liderança no PT que tem Lula e de quem é dependente para conter as ânsias populistas do partido. Soma-se a isso a ganância da base aliada. Segundo, vencer a própria Dilma que, com seus rasgos autoritários, se faz presente no Ministério da Fazenda como se acumulasse os cargos de Presidente da República e de Ministra da Economia, ao mesmo tempo. 

31/12/2014


F E L I Z    A N O    N O V O

VIVA 2015

TRABALHO
ESPERANÇA
REALIZAÇÕES

30/12/2014

Cândida da Natividade e Maria Christina


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG

Recebi, por e-mail, um pedido do Dr. Geraldo Pereira, nos seguintes termos: meu caro João Felipe da Trindade, encontrei a sua bem organizada página na Internet, tratando de história e genealogia.  

Eu estou procurando um detalhe de meu bisavô, Vicente Ignácio Pereira, que foi médico no Ceará-Mirim; detalhe que francamente não tenho obtido sucesso em minhas buscas, navegando por blogs e ligando para amigos no RN. Sou filho de Nilo Pereira, historiador e escritor, nascido no verde vale do Ceará-Mirim. Vejo que você é meu colega duplo, porque professor como eu - aposentado da UFPE - e membro do Instituto Histórico. Eu encontrei por aqui no Recife, um trabalho de meu bisavô sobre cólera e sendo eu médico, como ele, achei por bem escrever sobre a publicação, aliás, com algumas antecipações dele. 

O claro em meu ensaio, que deve ser apresentado na Academia Pernambucana de Medicina e publicado na Revista do IAHGP, é o da doença de uma das filhas de Vicente, falecida aos 15 anos de idade e que fez o pai jurar, diante do esquife, que deixaria a medicina, como aconteceu. Não sei de que doença essa moça morreu e quando foi isso. Na sua página não existe nada sobre isso, mas pode ser que me ajude. Eu tinha por aqui o livro de Cascudo sobre o RN, mas não há jeito de encontrar. Pode ser que exista alguma referência sobre isso, pois o meu bisavô foi Vice-Presidente da Província e assumiu a Presidência por pouco tempo.

Com as informações passadas pelo Dr. Geraldo, fui vasculhar livros de óbitos de Ceará-Mirim, mas não encontrei nada. Mas, pela importância que teve na nossa Província, Dr. Vicente Ignácio, fui procurar nos velhos jornais, digitalizados pela Hemeroteca Nacional, alguma indicação sobre a filha falecida. No Correio do Natal, de 16 de novembro de 1878, cujo redator era João Carlos Wanderley, encontrei uma informação que transcrevo, em parte, para este artigo, a seguir.
Ela foi receber no céu a recompensa que o Altíssimo lhe tinha destinado, como galardão de suas reconhecidas virtudes.

Ao gélido sopro da morte, crestou-se para sempre uma das mais belas e esperançosas flores de Ceará-Mirim!

Como uma rosa que emurchece, ou como uma estrela que de súbito se oculta no ocaso, assim finou sua precoce existência, no infausto dia 8 corrente, pelas 5 horas da manhã, no Engenho Guaporé, do município de Ceará-Mirim, a Exma. Sra. D. Maria Christina Varella Pereira, muito digna e virtuosa filha do nosso prestimoso amigo o Sr. Dr. Vicente Ignácio Pereira.

Tais eram os predicados da ilustre finada, e tais os dotes que a recomendavam, que vacilamos em descrevê-los!

Na idade de 13 para 14 anos, quando se sentia estremecida e cercada dos afetos e carícias de seus pais, irmãos e parentes, uma hemorragia nasal veio roubar-lhe prematuramente a preciosa existência, e separá-la do mundo terreno para ir  na pátria celestial receber das mãos do Altíssimo a recompensa destinada à suas preclaras e reconhecidas virtudes.

Sim, a negra mão da morte não quis que aquela que tinha tantos e tão invejáveis predicados naturais, herança de seus dignos progenitores, permanecesse por mais tempo na terra!

Conhecendo de perto a mágoa que eflige neste momento o coração de seus pais, irmãos e parentes, causada por aquele infausto passamento, o qual veio sem dúvida abrir no seio da família da ilustre donzela uma lacuna impreenchível, e como prova de amizade e estima que lhe consagramos, viemos também por este meio na gélida porta do seu túmulo, no cemitério do Engenho  São Francisco, onde foi dado seu corpo à sepultura pelas 5 horas da tarde do mesmo dia, um ramo de roxas saudades, suplicando ao Altíssimo coloque sua alma na mansão dos anjos.

Foi o link dessa página do Correio do Natal, que passei para Dr. Geraldo, acreditando ser essa informação o detalhe que ele tanto procurava para completar o claro no seu trabalho.

Feita a apresentação, descobri, posteriormente, um registro de óbito na Freguesia de São José de Angicos, que me surpreendeu, pois a mesma doença levou a óbito, outra filha do Dr. Vicente Ignácio Pereira e de sua esposa, filha do barão de Ceará-Mirim.

Aos 13 de maio de 1885, faleceu Cândida da Natividade Varella Pereira, filha legítima do Dr. Vicente Ignácio Pereira e Izabel Augusta Varella Pereira, da Freguesia de Ceará-Mirim, livre, solteira, e brasileira, com 15 anos de idade, sem profissão, sendo a causa morte hemorragia nasal, e o lugar do óbito, no domicilio; o seu cadáver, por mim encomendado, foi sepultado no Cemitério Público desta Vila, em catacumba, no dia 14 do dito mês, e ano; do que mandei fazer este termo em que assino. O Vigário Felis Alves de Souza.

O Barão de Ceará-Mirim tinha uma fazenda em Angicos, denominada Santa Luzia. É possível que Cândida tenha ido para lá a fim de se tratar da sua doença, pois, para Angicos foram várias pessoas cuidar da saúde. Talvez, essa segunda morte na família é que tenha levado Dr. Vicente a decidir por abandonar a medicina.

Continuo conversando, via e-mail, com Dr. Geraldo Pereira, que ultimamente me passou mais a seguinte informação: Um fato, porém, importante é a frequente alusão em casa, por parte dele (Nilo Pereira), ao fato de ser descendente de uma família na qual havia uma doença hematológica, que ele, meu pai, dizia que era hemofilia, mas não era. Talvez isso justificasse os dois óbitos! É que falei com uma hematologista lá do Recife, por duas vezes, obtendo dela a informação de que pode ter sido uma discrasia sanguínea, seja de cunho celular propriamente, isto é, em termos de doença das plaquetas ou da coagulação mesmo.
Cândida da Natividade


29/12/2014

RIO POTENGI





HOJE, DIA 29, A ACADEMIA MACAIBENSE DE LETRAS REALIZARÁ SESSÃO ESPECIAL E SOLENE PARA OS ELOGIOS DOS PATRONOS DOS ACADÊMICOS IVONCISIO MEIRA MEDEIROS, SHEYLA RAMALHO E WELLINGTON LEIROS.
LOCAL: ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS - RUA MIPIBU - NATAL - RN
HORÁRIO: 19 HORAS.

28/12/2014

APOLOGIA DA RIBEIRA


ADÁGIO PARA A RIBEIRA 

Ciro José Tavares


Alba atlântica no estuário renascida,

vieste nos fios de prata de nuvens marchetadas de vermelho

e serás, no fim da tarde, alba menstruada

espraiada pelo corpo sagrado do Rio Potengi.

Essa cor que assisto escorrer na indumentária

é o resto do sangue  aspirado da Ribeira,

de ruas assombradas na arquitetura arruinada,

de fantasmas emigrantes com receio da última visão.

Alba atlântica vieste tardinha para morrer crepuscular

sepultada no silêncio das margens e dos mangues,

sob o noturno adeus do sino da Igreja do Bom Jesus,

que nas dores a Ribeira enternece e abençoa

por seus anjos na hora das Ave Marias.  


            UMA FAMÍLIA CHAMADA RIBEIRA IV

                                   Ciro José Tavares




                        Os acontecimentos e histórias da Ribeira são muitos e um único livro não poderia contá-los. Por ter nascido na Rua do Comercio, atual Rua Chile, meu pai foi, ao mesmo tempo, personagem e testemunha de inúmeros fatos ocorridos. Formado em Medicina, no Rio de Janeiro, em 1926,recusou e resistiu a excelentes convites para permanecer na então Capital do país. Voltou à Natal e menino que conhecera a poesia das ruas estreitas e quietas, a solidariedade da gente habitando casas geminadas parecendo uma só família,não abandonou sua origem canguleira.Veio para morar na Rua Frei Miguelinho ,na mesma casa humilde de pouquíssimas alegrias e muitas tristezas, para estoicamente conviver com as lembranças do irmão, Cyro, devorado pela tuberculose aos 21 anos,  da irmã,Josefa,  vítima de brutal insuficiência respiratória em decorrência da asma alérgica. O consultório montou com a ajuda dos amigos. Dona Maria Farache, mãe dos amigos inseparáveis, Carlos, Antônio, Ernani e Adalberto, cedeu-lhe a sala principal de sua residência e o médico Otávio Gouveia Varela, que estava se afastando da clínica, os móveis e materiais da profissão que já não lhe seriam úteis. Algum tempo depois, quando fixou sua residência numa casa de dois pavimentos, alugada ao Dr. Januário Cicco, na Avenida Rio Branco, esquina com Juvino Barreto, passou a atender seus clientes na casa da Rua Frei Miguelinho e daí só saiu quando teve que assumir outros desafios profissionais.

            É necessário contar tudo isso para mostrar o espírito que perdurava na Ribeira e a valentia dos homens que nasceram, viveram e ali trabalharam.. Meu pai é apenas um exemplo, entre outros que destacaremos ao longo dessas. Linhas. O médico Onofre Lopes, fundador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, vindo do interior para a Capital, num pronunciamento feito na Academia de Letras, da qual foi membro e Presidente revelou que ,também  mourejou no bairro, empregado no comércio, primeiro na Casa de Ferragem de Francisco R. Viana, na Rua Dr. Barata, e, depois, no armazém de estivas de M. Rocha, na Rua Chile.São poucos os que sabem disso. A Ribeira gerou homens de aço que a deixaram para fazer história. A Ribeira jamais irá esquecê-los, ainda que seja esquecida e abandonada.


                        UMA FAMÍLIA HAMADA RIBEIRA V
Ciro José Tavares

                        Escrevendo sobre sua pessoa na Ribeira, o Dr. Onofre Lopes deixa que suas palavras sejam permeadas por lembranças emocionantes.

“Eu procurava caminho na nebulosa, e, aos tropeços, meio ambição, meio confiança, todo esperança, vagueava pelas salas de aula noturna do Dr. João batista, do Mestre Ivo Filho, do professor João Tibúrcio depois, bem mais tarde, também nas bancas de exame do Ateneu. Ouvia falar das vitórias dos que estudavam, dos anéis vistosos de quem se formava, da importância social, da elegância no vestir daqueles que vinham das Faculdades. Era, também, o tempo em que outros estímulos me excitavam: pessoas humildes, puras e boas, habituais das “vendas” dos meus irmãos João e Pedro Lopes, onde eu vivia e sonhava, contavam com exagero os milagres da inteligência de Rui Barbosa, recitavam Fagundes Varela, Olavo Bilac, Álvares de Azevedo, Castro Alves. E, para maior motivação, via o Bacharel kerginaldo Cavalcanti, inteligente, bem trajado, de passos largos e resolutos, espargindo vitórias, fazendo discursos floridos de estrelas...”

Nas suas recordações aborda um episódio que se refere ao seu futuro colega e grande amigo: “Sei que, como adolescente ambicioso, fiquei cheio de inveja; Viram? Hoje houve um exame de Francês que assombrou! É só no que se fala!... Foi um estudante, José Tavares, que fez exame todo tempo falando em Francês! Cabra danado de inteligente!... Formidável, todo o exame em Francês!” Depois disso não mais ouviu falar do meu pai. Conheceram-se em 1933, quando formado em Medicina, também no Rio de Janeiro o Dr. Onofre regressou à Natal e tornaram-se amigos inseparáveis.

Lembra ainda os primeiros momentos e os nomes que pontificavam na Medicina do Rio Grande do norte, Varela Santiago, Otávio Varela, Ricardo Barreto, Ernesto Fonseca, e a figura central de Januário Cicco, que nascido em São José de Mipibu e formado na Bahia, adotou a Ribeira como sua segunda terra natal e se transformou num dos canguleiros mais ilustres. Juntos, Januário Cicco, Onofre Lopes, José Tavares, Luís Antonio Ernesto Fonseca, Otávio Varela e Aderbal de Figueiredo constituíam o corpo clínico do Hospital juvino Barreto depois chamado Miguel Couto e, finalmente, numa justíssima homenagem, Onofre Lopes.

A Ribeira precisa renascer para honrar a memória desses homens. A cidade e o Estado, por extensão, devem tudo à Ribeira, A Ribeira do tempo da cidade de pouco barulho, quase sem luz, ruas arenosas e noites encantadas Por doces serenatas.




           


           

27/12/2014

CRÔNICA DE EDUARDO GOSSON AO FILHO FAUSTO, FALECIDO HÁ TRÊS ANOS.



FAUSTO GOSSON: TRÊS NATAIS SEM VOCÊ
 Por Eduardo Gosson(*) 

 Meu querido: Já ouvi dizer que sou um pai chorão e inconformado. Repetindo JESUS, digo-lhes: -Vocês não sabem o que dizem! Só quem passa por essa experiência é que pode avaliar a extensão desta dor! o resto é miudeza de armarinho. Não sei porque DEUS autoriza alguém partir aos vinte e oito anos: quando a vida é bela e cheia de encantos.
 O grande escritor francês André Malrroux escreveu um livro - A CONDIÇÃO HUMANA - que nos fala da precariedade da vida. Não me venham com discursos de fariseus; é preciso expulsá-los do TEMPLO. São vendilhões que transformam tudo em mercadoria e não sabem a dor de um pai nesta Noite de Natal. Ó Jerusalém , os sinos dobram por ti!

 (*)Poeta.