O tempo é a dimensão da mudança. Esta instituição é o único bem que ficará após tudo o mais passar. Nela ingresso, eleito por aclamação dos confrades, numa atitude reverente àqueles que a criaram e aos dois últimos presidentes que me precederam: Enélio Lima Petrovich e Jurandyr Navarro da Costa. Não posso olvidar deles o exemplo e a dedicação que tiveram em manter a guarda e a segurança de tão valioso patrimônio. Não chego tão tarde assim. Ainda trago um pouco de juventude no rosto e entusiasmo para o combate. Por isso, não desconheço a magnitude que o novo desafio exige de mim.
Sempre atuei em defesa de uma cultura comprometida com os princípios da preservação do patrimônio histórico e artístico do Rio Grande do Norte. A nova diretoria que hoje assumiu chega para renovar a identidade da mais antiga casa da memória potiguar. Todos desembarcam sem alarde, com a plena convicção de que farão o possível por merecê-la.
Aqui, estamos, nós confrades, reunidos com as autoridades e a sociedade norte-riograndense com o desiderato de modificar o rumo e o prumo do Instituto Histórico, com vibrações novas, renovadoras, nascidas do ideário dos luminares fundadores do ano de 1902.
Excelentíssimas autoridades, caríssimos confrades, minhas senhoras e meus senhores.
O prédio do Instituto foi construído por Augusto Tavares de Lyra, entre 1905 e 1906, na área nobre e histórica da cidade, vizinho a antiga catedral metropolitana e ao palácio do governo erguido por outro conterrâneo Alberto Maranhão. Tem frentes, tanto para a rua da Conceição como para a praça André de Albuquerque. É um chão sagrado de antepassados. Bem próximo, está a praça padre João Maria, hoje, transformada num lastimável camelódromo. Ainda, ali perto, o museu Café Filho, a primeira construção assobradada, ainda do período colonial e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, casarão restaurado onde residiu o prefalado e santo sacerdote. E um pouco mais adiante, o sobradão clássico onde funcionou o Tesouro Provincial, hoje Memorial Câmara Cascudo e o Convento Santo Antonio, todos monumentos tombados pelo Patrimônio Histórico. E com importância político-administrativo estão cravados também nesse quadrilátero de ocorrências históricas as sedes atuais dos Poderes Legislativo e Judiciário.
Todavia, minhas senhoras e meus senhores, encareço a atenção das excelentíssimas autoridades para os cuidados que essa contextura patrimonial, histórica, turística, representa para Natal nos dias de hoje, quando a capital será palco de assinalados eventos de envergadura nacional e internacional em 2014. Os prédios, as praças, a iluminação pública ao derredor, necessitam de paisagismo compatível como berço da cidade dos Reis Magos. Nesse território emocional e dominó de reminiscências inapagáveis imperam o lixo, a predação, a escuridão, o abandono e a insegurança. Urge, para essa área, um tratamento diferencial e seletivo de ressurreição de ambiente.
E o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, pobre mas altivo, capataz dos mistérios circundantes, há cento e onze anos – a completar no dia 29 de março – ele é o guardião do mais importante acervo histórico do estado, cuja sede abrigou inclusive, o Tribunal de Justiça, o Tribunal Eleitoral, a Academia Norte-Riograndense de Letras, além de outras entidades culturais. Agora, eu indago, deve continuar abandonado? Ele detém a guarda de todas as leis e decretos de governo de 1835 a 1952, documentos de demarcação de terras de 1615 a 1807, sesmarias de 1702 a 1716 e de 1748 a 1754. O livro de Barleus, no qual Gaspar Van Barle descreve os oito anos do governo holandês de Maurício de Nassau, de 1647, bíblias antigas, bibliotecas, mapas geográficos, objetos de museus, versos, manuscritos e registros eclesiásticos, fotografias de personagens da história política, social, cultural, jurídica e religiosa do Rio Grande do Norte de cem a trezentos anos passados desde os períodos: colonial, imperial e republicano. Todo acervo mencionado continua sendo fonte de pesquisa e de estudo de nossos universitários e de visitantes de outros estados.
A advertência que dirigimos, esta noite, às autoridades públicas do estado, às empresas privadas, a sociedade potiguar é que a entidade carece de atenção especial a fim de preservar a história do Rio Grande do Norte. É urgente fazermos a digitalização documental, a climatização da sua sede, com a restauração da rede elétrica interna e a inadiável recuperação física do imóvel.
Não existe outra maneira de salvar esse enorme patrimônio sem o apoio resoluto, dos órgãos governamentais, das instituições privadas e da sociedade de modo geral. Com os companheiros Ormuz Simonetti, Carlos Gomes, Odúlio Botelho, Lucia Helena, João Felipe da Trindade, George Veras, Eduardo Gosson, Adalberto Targino, Edgar Dantas, Tomislav Femenick, Paulo Pereira e Eider Furtado, vamos bater em cada porta em nome da preservação da memória do Rio Grande do Norte. Este patrimônio que estamos guardando é público, é da história, é do povo.
Meus agradecimentos, nesta hora se estende as autoridades e aos amigos, pelo prestígio das presenças que representam pata todos nós o prévio apoio ao que propomos fazer.
Concluo as minhas palavras e permitam, mais uma vez, repeti-las, com o esplendor do pensamento do escritor Mário de Andrade que constitui para mim um ideário extraído do seu “Valioso Tempo dos Maduros”:
“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro.”
“Já não tenho tempo para lidar com o supérfluo.”
“Já não tenho tempo para conversas intermináveis.”
“Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…”
“Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!”
Por último, agradeço ao confrade presidente da co-irmã Academia Norte-Riograndense de Letras, Diógenes da Cunha Lima, por haver nos acolhido aqui nessa noite especial de abertura de novas esperanças para o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e de forma extensiva aos colegas do Conselho Estadual de Cultura.
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