28/02/2022
24/02/2022
JOSÉ VASCONCELOS DA ROCHA
José Vasconcelos da Rocha foi uma criatura com uma história singular. Natural de Guarabira-PB, nascido a 23 de dezembro de 1935, filho de Adauto Ferreira da Rocha e de Marluce de Vasconcelos da Rocha, buscou vencer na vida por vários caminhos, a política onde foi Deputado Estadual (PTN), eleito no período de 1959 a 1967, onde alcançou a condição de Presidente da Assembleia e 2º Vice Presidente. Fez parte do grupo de deputados que criou a “Assembleia do Museu”, quando da dissidência dos correligionários de Dinarte Mariz contra o Governo Aluízio Alves. Foi vice-prefeito de Goianinha, de 1958/1959.
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Alagoas, tendo colado grau em 2 de dezembro de 1963, tornou-se advogado militante e depois Ingressou no cargo de Juiz do trabalho de 2ª Instância, ocupante de vaga destinada a representante da OAB/RNN, nomeado através do decreto Presidencial de 14 de novembro de 1991, tomando posse em 15 de junho de 1992, sendo eleito o 1º Presidente do Tribunal Regional do Trabalho – TRT da 21ª Região.
Em sua vida encontrou algumas pedras no caminho, a teor da época do movimento militar que derrubou o Presidente João Goulart em 1964, quando, por força de um discurso em defesa da manutenção do governante constitucional logrou a indignação de alguns militares e foi procurado para prestar justificativas, quando então foi obrigado a fugir de um cerco à sua casa, fugindo para sua terra natal, acompanhado do advogado Hélio Vasconcelos e dos acadêmicos de direito Danilo Bessa e Berenice Freitas.
Retorna a Natal, mas antes fez contatos importantes com figuras proeminentes do Estado, como Dinarte Mariz, Odilon Ribeiro Coutinho e com militares conhecidos - general Omar Emir Chaves, o coronel Mendonça Lima, foi até ao IV Exército, em Recife. Lá, conhecia o coronel Valmir Alves da Nóbrega, que o informou “aqui não há nada contra você”. Com Odilon contatou com o general Terra Ururahí, e tudo terminou bem.
Aposentado como desembargador federal, retornou à advocacia e passou a atuar com grande fervor ao esporte, mais exatamente ao seu América Futebol Clube, de onde foi Presidente e Presidente do Conselho Deliberativo até os dias presentes. Ergueu o a Arena América, que recebeu o seu nome, repetindo sua ação de construção, como o fez com a sede da Justiça Trabalhista em Natal, quando integrante daquela Corte.
Com ele, eu tive convivência no América e retornei aos quadros de sócio, apagando uma grande deselegância contra mim praticada e que me levou a abandonar o clube. Na nova fase fui convidado para minutar um projeto de novo Estatuto do Clube, aprovado por uma Comissão e depois aprovado pelo Conselho Deliberativo, com emendas oferecidas por outros associados.
Soube do seu problema de saúde e falecimento hoje, pelo meu filho Rocco José, em seguida confirmado pelo Conselheiro do América Odúlio Botelho, posto que ando um tanto desligado do noticiário, uma vez que estou dividindo a minha residência entre Natal e Cotovelo.
Fiquei muito abalado e, de imediato, no calor da emoção, resolvi fazer esta homenagem ao companheiro americano e amigo Zé Rocha. Deus o receba em sua Casa Celestial.
Olhe, lá estará lhe esperando outro americano, meu pai José Gomes da Costa (Zé Gomes), que foi quem adquiriu o terreno onde hoje está plantada a sede do América.
23/02/2022
ORIANO: ÚLTIMA ESTROFE
Valério Mesquita(**)
Direi pouco sobre
Oriano de Almeida. Outros falarão melhor porque conviveram de perto com o seu
talento e a sua vida. Cláudio Galvão, Diógenes da Cunha Lima, por exemplo,
Maria Luiza Dantas, Sanderson Negreiros, Enélio Lima Petrovich (que inaugurou o
Memorial Oriano Almeida no anexo do IHGRN em 2001), se já não dissertaram, o
farão, com certeza, com brilho e propriedade. Resolvi pronunciar-me porque
gosto de pontuar atitudes e assumir gestos quando vejo algo que me desagrada.
Fui à Academia de Letras me despedir do seu corpo, na sua tarde derradeira e
melancólica. Não apenas movido pelo dever de colega acadêmico ou por solidariedade
cristã, mas porque efetivamente ele foi um compositor e intérprete maravilhoso
para a honra e orgulho do Rio Grande do Norte, cujo povo não “está nem aí”. No
recinto, durante os discursos de despedida, pouquíssimos presentes.
Aí começou a nascer
em mim a necessidade de protestar, de me indignar, de não me calar. Comentei
com Genibaldo Barros, Armando Negreiros e Ernani Rosado que ali estavam: é o
menor público da vida de Oriano, quando deveria ser o maior. Ele que havia
conquistado as plateias milionárias, exigentes e refinadas do mundo inteiro não
conseguia reunir para o último adeus a intelectualidade de sua terra. Quanta
ironia, quanto paradoxo a vida nos ensina. O maior intérprete do mundo da obra
de Chopin, que encantou os palcos da arte musical, gênio da música, compositor,
ocupante da cadeira nº 13 que pertenceu a Câmara Cascudo, estava finalmente
esquecido. Havia atingido a “verdadeira imortalidade”. Já escrevi que Natal
sofre de ataraxia, indiferença. É pobre de sentimentos.
Chegou um momento,
no velório, que Diógenes preocupou-se com os circunstantes para conduzir o
esquife do salão ao veículo funerário. A maioria era mulheres entre reduzido
grupo de sexagenários em débito com o teste ergométrico. Afirmo, sem qualquer
preconceito, que talvez tenha faltado a Oriano a passagem por uma banda de
forró. Resta a esperança de que o nome, a importância do que fez como
musicista, intérprete, compositor e escritor não desapareça. Não tenho dúvidas
de que Oriano Almeida é maior do que os ausentes. A sua obra tem abrangência
nacional e internacional. Simples, não buscava os refletores da fama. Ela vinha
até ele. Nem o elogio fácil.
Já disse que na
vida quando se passa dos 60 ou 70 anos, torna-se estatística. Diferente dos
países mais civilizados. E Oriano se foi com 83. Fica para os pesquisadores,
memorialistas e estudiosos da música e da obra que ele nos lega, a tarefa
permanente de afirmar que Oriano Almeida vive. Na frase, que não é minha e nem
sei de quem, mas que eu gosto de lembrar: “Não se acaba o homem. Constrói-se a
cada dia sua performance”.
(*) Artigo publicado no livro “Inquietudes”
(**) Escritor
13/02/2022
Novas Cartas de Cotovelo – verão de
2022-06
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
UM DOMINGO DE PAZ E SOL
Depois
de uma sexta-feira diferenciada, que trovejou e alagou o primeiro andar da
minha casa, com uma chuva diferente, o que nunca havia acontecido desde que a
construí, Cotovelo (há mais de 30 anos), tudo volta à sua normalidade,
permitindo retomada das atividades quase 100%, embora registrando alguns
pequenos danos em ruas sem calçamento, um início de incêndio numa mercearia em
frente ao Posto de Gasolina que, segundo comentam, teria sido o resultado de um
raio.
No
sábado fui ao vale do Pium (já no território de Nísia Floresta), com Carlinhos
para abastecimento da casa com frutas e legumes – tudo legal.
Eis
que chega o domingo e com ele a Paz e a claridade do Deus Sol, em toda a sua
exuberância. Levantei-me cedo e deixei Carlos Neto hibernando no ar condicionado.
Na
varanda da casa tive a oportunidade de assistir a Missa na Igreja de Santa
Luzia, celebrada pelo Padre Sidney, transmitida pela rádio web Mar e Campo, do
nosso estimado amigo Octávio Lamartine. Em seguida, ainda emocionado com as
mensagens recebidas fiz minhas comunicações, por celular, com o filho e filhas
que momentaneamente não estão nesta querida praia, e o fiz com muita emoção,
porque a religião nos oferece milagres espirituais.
Um
café farto feito por Carlinhos e Valéria, sem faltarem as costumeiras vitaminas
de mamão com abacate, leite vegetal e fibras, depois um cafezinho feito na hora
com fruta-pão e com o olhar pidão de Luma (nossa bulldog francês).
Dando
continuidade às minhas meditações, vislumbrei a minha mesa santuário, com os Santos
da devoção da minha sempre saudosa Therezinha, cujo retrato ornamenta esse
recanto sagrado, que tem em destaque uma pintura de Jesus orando e outra do
Padre Pio e, em minha cadeira de balanço herdada da saudosa companheira, dei
uma vista ao pequeno jardim e logo me deparo com o fiel beija-flor, cuja
descendência há mais de 30 anos faz parte da geografia emocional do lugar e as
cadeiras desarrumadamente dispostas, juntamente com as redes enroladas nos
armadores, algumas bolas dispersas pelo chão e o sentir da brisa que nos premia
neste recanto da casa. Em seguida fui beijar o mar, que estava com sargaço –
coisas da fase da lua.
Lembrei-me,
então, daquela conhecida música – “Minha casa é tão bonita, que dá gosto a gente
ver, tem varanda, tem jardim... minha casa que tem tudo, tanta coisa de valor,
minha casa não tem nada [vivo só sem meu amor]”. Fiz adaptações à letra
original de Minha Casa, de Joubert de Carvalho.
Mas,
domingo é dia de alegria – VIVA A VIDA.
-
08/02/2022
Novas Cartas de Cotovelo – verão de 2022-05
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
REVISITANDO A CASA DE PEDRA DE PIUM
Neste último sábado resolvi revisitar a Casa de Pedra de Pium, equipamento histórico que tantas vezes mereceu crônicas e entrevistas minhas ao longo dos últimos anos.
Minha primeira decepção foi constatar que, apesar dos apelos e até da celebração de uma missa no final do ano passado diretamente daquelas ruínas históricas, com a presença do arcebispo Don Jaime, o acesso piorou muito, agora mais do que nunca o pequeno trecho não passa de um caminho de animais, com a pior qualidade que se possa pensar, sem nenhuma possibilidade de manobra quando alguém se arrisca a ter acesso por veículo com alguma calibragem, pois será dificílimo algum dos veículos recuar.
Essa agora “aventura” que fiz, com familiares, permitiu que reexaminasse o sítio histórico e agora fizesse algumas retificações: primeiro, houve plantação de árvores frondosas que retiraram a visão que existia para o mar, como anteriormente anunciei, qual seja, a visão da costa desde o contorno de Pirangi para Cotovelo quanto desta praia para o contorno de Ponta Negra, tirando o sentimento de que aquela construção secular daria uma visão da enseada capaz de avistar qualquer possível inimigo; segundo, em meu sentir, houve o agravamento da movimentação de algumas pedras que fazem parte daquele complexo; houve o aterramento, na marra, da passagem de fios de nascentes de água de um lado para o outro da estrada de acesso – essa que considero própria para animais.
O lado positivo é que o vale está preservado com criação de gado, coqueirais, plantações de verduras, frutas e hortaliças, ainda longe do agrotóxico.
Existem resquícios de algumas construções não concluídas de possíveis espigões ou condomínios fechados, ou mesmo mansões inadequadas para a paisagem bucólica a ser preservada, estes/estas depredados, já sem telhados, portas e janelas, enfim abandonados.
Desconheço qualquer intervenção da Prefeitura de Nísia Floresta no sentido de regulamentação do uso do solo naquela localidade.
Assim, convoco os interessados para resolvermos essa pendenga, entrando em contato com os possíveis proprietários (família Galvão) e depois com a Fundação José Augusto e com a Prefeitura de Nísia Floresta, aproveitando o momento político de breves eleições, sempre no intuito único de preservação da história.
REFLEXÕES AO ENTARDECER
Valério Mesquita*
mesquita.valerio@gmail.com
Tarde tediosa aquela do domingo que antecedeu o meu aniversário. O silêncio vespertino de Lagoa Nova me envolvia de surda espera. O quadro das ruas desabitadas se acostumou ao olhar vergado de tantas rotinas. O que mais devo repartir além da fadiga? Quantas pedras deverei ainda remover do caminho, como no verso de Carlos Drummond de Andrade? Cansaço físico e mental é muito comum. Diante de tudo que passei confesso que sobrevivi. Nordestino de Macaíba sobrevive – só Pablo Neruda confessou que viveu. Quem faz a travessia política durante mais de três décadas pode dizer que combateu e não perdeu a lâmina da alma.
Estou consciente que completo mais um périplo em torno do tempo. Silente, penetro no labirinto sem recomeço. Já ingresso na fila do caixa dos supermercados reservado aos idosos. Quase octagenário não é um velho. Mas a lei generosa permite. Recuso-me. A idade é vulnerável mas navegável quando soprada pelo vento leste porque ainda tenho a memória do fogo e da rosa. Explicar a minha vida? Não há porquê. Tenho um amigo que já escreve a sua autobiografia precoce aos sessenta. Se o fizer tal coisa somente irá ocorrer quando sentir o medo de viver. Ainda acredito na aurora, no porto, no barco, nas estrelas, no pássaro, na paz, no perfume de mulher. Aliás, o dossiê biográfico pesará pouco diante da Providência. Terão mais valor as ações que deixaram de ser feitas. O pecado da omissão é assombroso. Conforta-me haver atravessado as noites escuras do tempo sem desamar os frutos. O quinhão usual de tristezas e equívocos fica por conta da difícil condição humana de ser.
Na vida pública aprendi uma amarga lição que serve para os atuais protagonistas: na política não há só amigos e inimigos, mas conspiradores que se unem.
Certa vez, o saudoso poeta Sanderson Negreiros disse que “é difícil ser testemunho de crepúsculo. Ele não é apenas cores se movimentando ao sol-posto. Mas a certeza de que não são caminhos somente para a morte, mas que, de nós, muita coisa ainda restará para a vida”. Fecho com o poeta maior as reflexões do meu entardecer.
(*) Escritor