Homo
natalensis
Roberto Cardoso
IHGRN/INRG
Introdução
Este seria um texto para ser escrito por Luis
da Câmara Cascudo (1898-1986). Nascido em Natal em dezembro de 1898;
encantou-se também em Natal, em julho de 1986. O Luis de Natal, o Cascudo ou o Cascudinho.
Também chamado de Ludovico em seu batismo, por um membro da igreja, quem sabe
uma visão futurista. A vida, a obra e a história de Cascudo lembra o professor
Ludovico das histórias em quadrinhos, de Walt Disney (1901-1966 - EUA), no
estilo professor que entende de todos os assuntos. Os personagens são
inspirados em pessoas existentes, com certeza Disney conheceu um professor cascudo.
E ele, o Cascudo não escreveu este texto. Cascudo
não escreveu porque tinha outros textos e outras ideias para escrever.
Precisava escrever e descrever o homem natalense de sua época; ou o homem
construído até aquela época. Para em um futuro, alguém pesquisar o homem
natalense dos dias atuais, sua construção e sua formação.
O homem natalense vai continuamente se
construindo, se destruindo e se reconstruindo. Resurgindo e renascendo, na
cidade do renascimento. Natal de natalício e de nascimento. Vai se modificando,
com invasões, com ocupações e com miscigenações que acontecem. E aconteceram em
seu território ao longo de sua história. A partir do homem nativo, aquele que
deixou registros históricos e arqueológicos, que foi sendo influenciado por
participações nacionais e estrangeiras.
Estrangeiros que desembarcaram diretamente no
território, do Rio Grande do Norte. E estrangeiros que chegaram influenciados
ou modificados por terem primeiro desembarcado em outros países, antes de
atravessar o Atlântico. Estrangeiros que desembarcaram em outros estados da
federação, para então chegar ao território norte-rio-grandense. O Brasil com um extenso litoral, sempre
esteve aberto a novas ideias que chegaram embarcadas em barcos, caravelas e
navios. Um transporte marítimo pode levar conhecimentos embarcados, seja por
publicações impressas e mentes pensantes.
Hoje as informações em mentes, viajam em
aviões com seus equipamentos periféricos: computadores, notebooks, netboks e
outros mais, funcionando como uma extensão da mente pensante. Natal ficou como resultado
de misturas de ventos e correntes marítimas; de povos com suas migrações e
imigrações. Uma mistura de alimentos e alimentações; de ideias e inovações.
Parte I
Ainda que o homem tenha o poder de
transformar o meio ambiente, o ser humano é o resultado do ambiente em que
vive. Se derrubar uma arvore vai ter que aprender a conviver sem uma sombra, ou
sem um abrigo para a chuva. Tudo depende da utilidade inicial da arvore e da
utilidade que poderá ter em ser derrubada. A transformação do meio. O homem é
um resultado dos seus atos, precisa se adaptar aos erros e acertos, de seus
atos positivos ou negativos. O negativo pode não ser eterno, e o positivo pode
ser temporário. O que é positivo para um pode ser negativo para outro e
vice-versa.
Os atos e resultados são holísticos,
interagem entre si. O homem é o resultado dos seus relacionamentos, das suas
vivencias e convivências. Resultado daquilo que vive, com quem vive e convive;
daquilo que come e consome; resultado do que não come e do que descarta. Resultado
de seus alimentos e relacionamentos, que podem gerar boas e más relações, e com
boas ou más digestões.
Consumir não é apenas um ato fisiológico e
anatômico de ingestão, com mastigação e deglutição de produtos denominados e
classificados de alimentos. Segundo a biologia, a anatomia e a fisiologia, os
alimentos são ingeridos e processados. A visão do corpo como uma maquina. E
deles, os alimentos, são extraídos as substancias necessárias para a
sobrevivência do corpo físico e biológico. O que não é necessário a uma
sobrevivência é descartado pelos sistemas de eliminação.
Mas consumimos muito mais que simples
alimentos, sejam eles sólidos ou líquidos, necessários a uma sobrevivência
celular. Consumimos de tudo que esta ao nosso redor. Desde o ar que respiramos
a tudo que nos relacionamos. Consomem-se produtos orgânicos e inorgânicos,
naturais e artificiais; vegetais, animais e minerais; elétricos e eletrônicos;
produtos artesanais e industriais, produtos duráveis e não duráveis; perecíveis
e não perecíveis. Gestos e indigestos. O ato de consumir denominado consumismo
consome até bens móveis, imóveis e automóveis. Consomem-se técnicas,
tecnologias e biologias, ideias e ideais. Consomem-se máquinas e ferramentas.
Um vasto ferramental, com ferramentas de uso residencial, comercial e
industrial; automobilístico, agrícola e administrativo. Ferramentas de controle
e ferramentas de gestão. Consumir é absorver ideias. Uma autogestão de gerir e
gerar comportamentos, para produzir conhecimentos.
E por fim consome-se o corpo, que se desgasta
e se deteriora ao longo do tempo, com as intempéries dos tempos e dos
relacionamentos. Deterioram-se as células ao longo dos tempos: com
relacionamentos, alimentos e comportamentos. Ainda que o homem modifique o meio
em que vive, o ser individualmente analisado pode sofrer mais e más
influencias, do que ter um poder de modificação do espaço ao seu redor.
A geografia determina o momento de hoje e o
que acontece hoje. A história é a descrição da geografia ao longo de uma linha
de tempo. O ser humano é compreendido pela sua psicologia e pela sua
sociologia. Analises ao longo de uma existência ou ao longo de uma história. À
medida que o conhecimento evolui, podem ser geradas novas definições, com
objetivos mais específicos de analisar um espaço e um momento. De uma
tecnologia a uma nanotecnologia, de uma biologia a uma microbiologia. De uma
botica doméstica com usos de produtos naturais a uma farmacologia industrial.
A cidade como uma organização geográfica do
ser humano também é influenciada pelas ocupações, e desocupações; imigrações e
emigrações ao longo de sua história. Uma cidade ainda pode alterar sua história
por epidemias e infestações. Uma ocupação de um espaço por micro-organismos. A
história construída por uma cidade sofre influencias do visível e do invisível,
do concreto e do abstrato, do perceptível e do imperceptível. Influencias de
histórias contadas e não contadas, escritas ao longo do tempo e esquecidas ao
longo do tempo. Uma história contada e registrada, reconhecida e divulgada,
admitida e ensinada provoca mais influencias em uma cidade, nos seres que
ocupam o espaço de uma cidade.
A linha do tempo pode definir uma ocupação de
um espaço, por descobridores, por colonizadores e por invasores; imigrantes,
investidores ou turistas. Cada momento de um tempo um grupo ocupa o espaço
geográfico e social da cidade de Natal. Grupos e pessoas constroem, destroem e
reconstroem a história de Natal. Ao longo do tempo vão modificando a evolução e
a construção do Homo natalensis.
Parte II
E se o ser é o resultado dos seus
relacionamentos e comportamentos. A cidade como uma organização social,
política e arquitetônica, do ser humano, construída pelos homens com objetivos
de abrigar e servir aos homens, também é o resultado de seus relacionamentos e
seus comportamentos, gerados no espaço ocupado. E influenciados pelo que
acontece a sua volta. Os espaços urbanos são ocupados, e permanentemente são
reocupados com obras de modificações e transformações.
A arquitetura é o resultado de conhecimentos
e influencias culturais. Uma cidade é constituída por pessoas, com os
resultados de seus comportamentos e conhecimentos. Das relações que seus
habitantes praticam e participam. Habitantes e viajantes deixam as marcas de
suas histórias por onde vivem e passam.
Em um momento da história o homem deixava seu
abrigo para sair em busca de caçar, e colher frutos, raízes e sementes, para
alimentações e indisposições. Continua saindo em busca de alimentos e
suplementos. Encontra o que é necessário em comércios especializados da selva
de pedra. Sai em busca de alimentos: carnes frescas e congeladas; polpas e
frutas, frescas, secas ou industrializadas; raízes descascadas, cortadas e
congeladas. Sai em busca de ervas sintetizadas apresentadas em capsulas e comprimidos.
Ao longo de sua história o homem adquiriu
novas necessidades para suprir anseios e desejos. Necessita de alimentos para a
alma, o corpo e a mente. Hoje ainda pode sair para buscar o conhecimento. Quem
parte levando ideias volta trazendo novas ideias. Templos religiosos e templos
de culto ao corpo dividem os espaços urbanos, com templos voltados a saúde e
templos de conhecimentos. Templos religiosos orientavam não cultuar santos e
imagens. As imagens deixaram de ser santas para serem corpos esculturais e
sarados, filmes e fotografias. Pessoas em perfis de redes sociais projetam suas
imagens, para quem quiser adorar: curtir, compartilhar ou seguir.
Uma cidade se relaciona com outras cidades.
Cidades próximas, cidades visinhas e cidades distantes. Ao longo da história de
uma cidade, conceitos, hábitos e costumes, vão se adicionando, mesclando com os
existentes e herdados anteriormente. Pessoas, animais e carroças um dia ali
passaram em um espaço geográfico. Abriram caminhos que se tornaram estradas.
Caminhantes e viajantes apearam, de carroças, jegues e cavalos. Sentaram em
volta de uma fogueira, contaram estórias que se tornaram lendas.
Agora pessoas, carros e cargas entram e saem
diariamente das cidades. Barcos e navios, helicópteros e aviões cruzam os mares
e os ares. Comboios, trens e ônibus cruzam atravessando as terras. Pessoas que
levam na mente histórias contadas por seus avós. Influenciadas em suas vidas
por contos e histórias ouvidas em casas e nas escolas.
Ao longo da história pode haver descobrimentos,
fundações, invasões, expulsões; ocupações e reocupações. As passagens e
instalações de outros povos com outras línguas e outras culturas; de forma
pacifica ou belicosa. A cidade de Natal sofreu influencias ao longo da
história, que estão gravados em sua memória. A história no inconsciente
coletivo. História e histórias construídas com a sua própria geografia,
construída ao longo de sua história. A geografia de hoje, torna-se história no
amanhã. Influencias consumistas desembarcadas por estrangeiros, ao longo do
tempo em função da sua posição geográfica e estratégica.
Chegamos a uma sociedade com conhecimentos
separados uns dos outros. Uma separação que nos impede de religar
conhecimentos, para conceber os problemas fundamentais e globais, tanto os das
nossas vidas pessoais, como os dos nossos destinos coletivos: "La
Voie" (A Via), do pensador francês Edgar Morin, por Roseli Gonçalves, em
transito para Frankfurt.
Parte III
É comum dizer que o RN é a esquina do
território brasileiro, ou a esquina do continente sul-americano. E por vezes,
em falas e conversas de populares; em discursos políticos, comerciais e
empresariais, até se prevalecer e enaltecer de estar localizado em uma esquina
logística e territorial. A capital norte-rio-grandense esta localizada á margem
do oceano, com uma responsabilidade política, administrativa e comercial com o
estado, do qual sedia uma governadoria.
Mas o fato ou o ato de estar em uma esquina,
gera algumas interpretações, visões e observações. A visão de quem está em uma
esquina e vê quem passa. Como alguém parado em uma esquina obervando os carros
e as pessoas que passam. Alguém que possa estar parado aguardando o momento de
atravessar. A visão de quem passa e vê alguém parado na esquina. O RN pode ser
uma esquina do continente em relação ao mar, e as rotas de navios que passam
por esta esquina marítima. Enquanto quem está em terra pode ver navios passar,
e a partir dos navios, alguém pode ver quem está em terra, na esquina, parado e
observando navios passarem.
Uma esquina para navios e aviões tomarem um
fôlego antes de atravessar o oceano, tal como alguém esperar o momento de
atravessar. E nesta mesma esquina podem na volta atracar e pousar, para ali
descansar de uma travessia sobre o mar. Um lugar de arribação, tal como as aves
migratórias se alocam em um ninhal, para reproduzir e reprocriar. Depois
continuam suas rotas migratórias para outros lugares, até que estações e
situações sazonais e anuais retornem, quando novas e antigas gerações poderão
ali retornar. Assim como os pássaros, o homem é um animal nômade, e precisa
voar, para buscar novas paragens e paisagens, novas ideias e adquirir novos
conhecimentos.
Esquinas podem ter a visão de quem dobra uma
rua ao trafegar, ou de quem para na esquina para olhar. A visão de quem esta na
calçada e a visão dos que vão com seus veículos pelas vias de rolamento. No
caso do RN os veículos que passam pela esquina podem ser os navios. Veículos de
transportes náuticos e marítimos. Olhando para o alto, verá pássaros e aviões.
O natalense é um ser que se encontra ocupando
a terra. O espaço da capital de um estado na esquina do continente. Tanto o
espaço geográfico natalense quanto o espaço territorial norte-rio-grandense,
são espaços estáticos. Espaços estáticos diante do mar ao ver navios navegarem.
Aquele ser que para em uma esquina
continental, diante do mar só tem a observar os navios que passam em direções
diferentes. Navegam de Norte para Sul ou de Leste para o Oeste; do Sul para o
Norte ou do Leste para o Oeste; e outras combinações entre origens e destinos.
Quem para em uma esquina de uma rua, pode parar esperando um momento para
atravessar. Na esquina do continente esta Natal, que não poderia atravessar o
mar, ficou esperando os momentos que alguém poderia chegar e desembarcar.
Ainda hoje a navegação de cabotagem faz linha
entre o lado leste do território brasileiro para ligar o lado norte brasileiro.
Navios atracam e desatracam nos portos de Recife e João Pessoa para depois
seguir para os portos de São Luis e Belém, deixando Natal a ver navios. Os
custos de atracação e desatracação de navios são altos, demandam um grande
tempo despendido em manobras náuticas e precisam compensar movimentos de carga
e descarga para um navio ter a intenção de abicar.
Ao longo da historia Natal não tem
demonstrado ser um porto de interesse comercial. Mas um ponto estratégico de
interesse internacional.
Parte IV
Ventos e correntes marítimas influenciaram
momentos históricos, no período conhecido como das grandes navegações ou dos
grandes descobrimentos. Os pontos de vista dos que navegaram, e dos que
descobriram e ocuparam as novas terras. Um ponto de vista para os que foram
descobertos, porque foi assim que se aprendeu nos livros e na escola, a
história que foi escrita, lida e contada. Aprendida por professores e repassada
aos alunos, que um dia se tornaram novos professores. Com aprendizado e
repetição acabamos por incorporar uma educação. Matérias explanadas em sala de
aula e cobradas nas provas de avaliação. Com aprendizado e repetição aprendemos
uma lição, e incorporamos culturas e comportamentos. Natal como esquina do
continente esta apta e aberta a incorporar novos conhecimentos, novas culturas
e novos comportamentos. Natal está de frente para o mar, estabelecendo um ponto
no extremo do continente. A menor distancia entre dois pontos é uma reta, sendo
Natal umas das menores distancias entre a Europa e Brasil, como também uma
menor distancia para o continente africano. Daí ser um ponto estratégico,
depois da Primeira Guerra e durante a Segunda Guerra. E continua sendo um ponto
logístico e estratégico.
Logo após a Primeira Grande Guerra, Natal viu
os primeiros aviões chegarem ao continente. Pierre Latécoère teve a ideia de
utilizar os aviões militares utilizados na guerra, no período pós-guerra.
Implantou um serviço de correio aéreo (Aeropostale), entre a Europa e América
do Sul (Zé Perry – JH em 19/05/14). Natal serviu com ponto de primeira escala
continental, depois da travessia entre a África e a América do Sul.
Natal foi a primeira cidade brasileira a
mascar chiclete e tomar refrigerante do tipo cola. Uma clássica influencia da
presença americana no período da Segunda Guerra. O natalense colocou em pratica
o exercer do sabor, experimentou mastigar e beber, com saberes e sabores.
Seu comportamento social também foi
influenciado nas noites de festa, o que era para ser uma festa aberta e para
todos (for all) se tornou um forró. Durante o dia com iluminação intensa
aprendeu a utilizar óculos escuros por influencia dos óculos modelo Ray-ban utilizados
pelos pilotos que pousavam em Parnamirim Feeld. O campo de pouso que um dia deu
nome a um filho da terra, nascido em Macaíba, cidade vizinha. E Parnamirim,
também vizinha a Natal abriu sua sala de embarque para que natalenses pudessem
embarcar em um avião comercial e conhecer outras paragens. Augusto Severo
(1864-1902), que um dia foi homenageado no antigo aeroporto e na Praça em Natal
que leva seu nome, pela passagem de um dirigível (1930 e 1933 – Graf Zeppelin).
Hoje o aeroporto esta localizado em São Gonçalo do Amarante por necessidades
políticas e históricas, estratégicas e logísticas. O aeroporto esqueceu o nome
de seu filho da terra que foi um pioneiro na aviação, um dos primeiros cidadãos
no mundo a voar, para dar nome a um político. Por interesses políticos arcaicos
de um coronelismo que ainda tenta imperar. Assim vai se perdendo uma historia e
uma memória. Um Alzheimer urbano vai se instalando. Novos comportamentos que
mudam os rumos da história.
Uma lembrança dos tempos de montaria ainda existe
nas ruas, motoristas e motociclistas insistem em estacionar junto a portas,
passagens, muros e paredes como se estivessem amarrando burros, jegues e
jumentos, próximos aos locais onde vai fazer compras ou resolver problemas que
classificam como urgentes. Justificando ser uma breve parada, incomodando o
transito de pedestres e os acessos ao comércio e as calçadas. Todo ato tem uma
justificativa sociológica ou psicológica nas entranhas da mente ou da
sociedade.
Pouco se sabe sobre a história dos primeiros
ocupantes da terra. É preciso se embrenhar em arquivos e estudos arqueológicos,
para descobrir o seu conhecimento, seus hábitos e costumes que formaram um
conhecimento. Descobrir seus hábitos e costumes que estão inclusos no nosso
comportamento atual, símbolos de formação da cultura brasileira.
Parte V
O natalense tem alguns comportamentos e
hábitos dos indígenas. Hábitos e comportamentos que vão se perdendo na história
e na memória: como o habito ou ato de comer ginga com tapioca na beira da
praia, tomando uma água de coco. Poucas pessoas fora da área urbana da Grande
Natal conhecem o peixe chamado de ginga. Ginga é um pequeno peixe de água
salgada que pode lembrar uma pequena sardinha ou uma manjubinha. O Homo
natalensis pode até se ofender com a comparação, e dizer que não existe peixe
igual a suas gingas. Em uma breve pesquisa na internet podemos descobrir que é
um peixe sem valor comercial, descartado daqueles que tem mais valor para
chegar ao mercado. A clássica disputa entre e Canguleiros e Xarias.
O hábito de comer ginga na beira da praia,
ainda vem sendo preservado na praia da Redinha, onde ainda existem muitos
barcos e pescadores. Em um mercado publico com boxes, ainda e possível obter e
apreciar a iguaria. E a praia da Redinha fica em oposição ao aldeamento das
Rocas. Tal como a oposição entre a Zona Norte, separada pelo rio Potengi, e por
uma ponte, onde do outro lado, a cidade comporta: Centro, Zona Sul, Zona Leste
e Zona Oeste. O lado entendido como a cidade de Natal. A cidade de Natal no linguajar
popular divide-se em dois lados; a cidade e a Zona Norte.
Hábitos de comer ginga com tapioca à beira da
praia que podiam acontecer depois de uma pescaria, ou mesmo antes de uma
pescaria. Forrando o bucho antes da lida. Hábito e costume que vai se
transformado em comer tapioca em uma tapiocaria de shopping, depois das
compras, depois de caçar e pescar mercadorias e ofertas. Enquanto índios e
antigos pescadores podiam voltar com puçás e samburás cheios de pescado, o
homem urbano volta com sacos e sacolas de compras. Uma boa compra ou boa
pescaria; deve ser comemorada na praia próximo a arrebentação ou na praça de
alimentação.
Um estudo arqueológico poderia descobrir que
um dia os indígenas ocuparam as praias onde ainda hoje são protegidas por formações
rochosas, permitindo um banho de mar e a coleta de pequenos peixes que podiam,
e ainda podem ficar aprisionados a partir da baixa mar. Como as praias junto ao
Forte e a praia de Camurupim (Nísia Floresta), que segundo alguns escritos, na
linguagem indígena, a água fechada. Os sambaquis devem ter sido destruídos
pelas construções de ferro e cimento. Enquanto os índios produziam sambaquis, o
homem urbano produz metralhas.
Uma tapiocaria oferece tapioca com uma
infinidade de ingredientes a serem acrescentados ou adicionados. De tapiocas
lambuzadas com manteiga de garrafa à outras recheadas com nobres queijos e
frios defumados; da tapioca simples à tapiocas recheadas com pastas e cremes,
doces ou salgados. Quiche de ginga com jiló (JH em 06/12/12).
Com as gingas dos barcos balançando para lá e
para cá; e com as gingas do povo criando alternativas e inovações, os cardápios
vão variando com as influencias locais e as influências internacionais. Um dia
o barco que ginga, pode adernar demais e entrar água. Um dia o natalense que
ginga, pode se influenciar demais e tender a uma variedade econômica ou
gastronômica. O bolso e o estomago vão gingando de acordo com a maré.
E raras tapiocarias hoje poderão oferecer
ginga. Oferecem tapiocas podendo ser incrementadas com catchup Heins e mostarda
Dijon em saches; molhos e maioneses com sabores, acompanhado de refrigerante de
cola, ou um suco em caixinha. Trocar a tapioca pelo crepe, panqueca, ou pela
pizza; pelo pão de hambúrguer, árabe ou sírio, mantendo alguns ingredientes do
recheio ou cobertura torna-se um ato simples.
Parte VI
A cultura é plantada e implantada na terra
pelo povo, que cultiva hábitos e costumes, individuais e coletivos. Um povo que
nasce e cresce, vivendo e vivenciando falas e cantos, fatos e atos, gestos e
danças, sobre uma mesma região. Povos de nações e continentes diferentes
chegaram ao território brasileiro, trouxeram sua cultura e deixaram filhos como
herdeiros de suas antigas e novas culturas.
Em solo natalense o dia da consciência negra
vem despertando outras consciências, de Zumbi a Poty. A consciência da formação
cultural brasileira. A consciência das nações que formaram a cultura
brasileira: portugueses, palmares e potiguares.
Com pés e pês, pisando e dançando descalços
no chão, um tripé embasado pelas culturas vindas da África e da Europa, e pelo
índio nativo que já habitava o território antes do descobrimento. E ainda por
outros povos que aqui desembarcaram, mais tarde ou mais cedo, historiados ou
não. A força da influencia dos descobridores foi tanta que até o habitante
primitivo recebeu nomes estrangeiros, foram chamados de indígenas. Por os
portugueses acharem que haviam chegado na região das Índias, onde pretendiam
chegar.
Características históricas ficaram na
memória. Os políticos locais, legítimos e legitimados representantes do povo,
exercem seus mandatos em modelos holandeses, os Mauricinhos de Natal tentando
serem as Águias de Haia. Representando o povo em modelo burguês: com gabinetes
computadorizados, bem aparentados, bem afeiçoados, e bem motorizados, e muito
bem assessorados, se batem e debatem. Gritam e rebatem em câmaras e tribunas da
casa do povo. Enquanto discutem em assembleias ordinárias e extraordinárias, um
impasse, se o dia da consciência negra deve ser decretado feriado ou não, o
povo exerce seu papel de cidadão. O povo manifesta nas ruas sua memória
cultural, representando os povos menos favorecidos, negros e índios diante aos
prestigiados eleitos para cargos públicos de representação do povo.
Brigas e intrigas são teatralizadas, com
fantasias e fantasmas, pelas ruas e praças, e até na universidade (UFRN). O
povo não questiona ou discute a propriedade do dia da consciência negra ser ou
não ser feriado. Mas entende que deve ser comemorado, para ser sempre lembrado.
O dia é apenas mais uma razão para expor uma cultura, resgatada ou perpetuada
por gerações. Uma cultura inserida em suas mentes que provoca comportamentos em
seu dia a dia.
Diversas manifestações culturais preservadas,
ainda podem ser encontradas pelas redondezas de Natal/RN. E vem cabendo a
poucos professores e pesquisadores da chamada academia do conhecimento, reunir
e resgatar o conhecimento cultural que está nas ruas, O que não está escrito
nos livros, está inscrito nas mentes que preservam a cultura e o conhecimento
que surge do povo. A oportunidade de filmar e preservar, eternizar um
conhecimento com tecnologia, fazer o uso das TICs.
A capoeira que possivelmente seria uma luta
disfarçada em danças e acrobacias. Sem armas, os negros escravos precisavam de uma
luta de defesa pessoal e corporal em fugas e capturas. Em meio a cantos e
danças puderam disfarçar um treino quando senhores e feitores entravam nas
instalações escravas.
O maracatu deu mais criatividade aos cantos e
danças evocando e invocando, misturando culturas. Deuses africanos disfarçados
de santos da igreja. Reis e rainhas da corte portuguesa ou dos reinos
africanos. Provocou um ritmo e surgiu de uma miscigenação entre as culturas:
africana, indígena e portuguesa. Um ritmo forte que contagia que estão
presentes nas apresentações. Um ritmo nato surgido em terras brasileiras com as
misturas raciais e culturais, de etnias e cidadanias.
Parte VII
Movimentos atmosféricos e marítimos
Influenciaram o rumo das caravelas, proporcionando um descobrimento, uma
ocupação da terra ainda não ocupada pelos europeus, uma descoberta legitimada
pela Igreja. Na tentativa de descobrir um caminho marítimo para as Índias
acabaram por chegar a outras terras. Ventos e correntes marítimas levaram os
índios a encontrar a esquadra portuguesa à deriva, próximo á praia. Uma questão
de ponto de vista, que índios não puderam comprovar, já que não relataram em
seus diários de vigília e segurança nas praias. O habitante nativo não dominava
uma escrita, apenas um idioma restrito. Ao contrario da frota que produziu
documentos escritos, que se tornaram oficiais.
E um momento histórico foi denominado de
descobrimento do Brasil (22/04/1500). A história é contada a partir de pontos
de vista; ou Cabral descobriu o Brasil ou os índios encontraram caravelas à
deriva. Prevaleceu na historia a Carta de Pero Vaz de Caminha, como documento
escrito e oficialmente reconhecido do acontecimento. Os europeus dominavam a
escrita e a ciência, enquanto os índios dominavam uma linguagem e um
sincretismo. O ponto de vista dos nativos não ficou registrado.
Baleias que encalham no litoral
norte-rio-grandense são claros exemplos que caravelas podem ter chegado à praia
em momentos de calmaria e de deriva; correntes marítimas ou excesso de ventos.
Ainda que biólogos apresentem teses de suicídios coletivos ou falhas
fisiológicas que afetam seus sensos de direção em meio a um trajeto de
imigração. Uma hipótese para este fato poderia ser o grande numero de
embarcações com sonar, que poderiam influenciar o sonar fisiológico e orgânico
dos cetáceos. Do contrário elas podem entrar em correntes marítimas, perder o
senso de direção e encalhar.
Sem um GPS, apenas com astrolábios e
navegação por observação pelas estrelas seria muito difícil chegar a um lugar
exato, pré-definido. As chegadas e os desembarques foram aleatórios, variaram
de acordo com ventos e correntes marítimas, buscou-se chegar a locais
aproximados dos desejados, se é que estavam pré-determinados. Fica aqui outra
hipótese: de lembranças gravadas nas suas células (DNA) quando seus
antepassados longínquos pudessem ter desembarcado em terras brasileiras. A
biologia reconhece os registros de DNA, enquanto a psicologia reconhece os
arquétipos, cada ramo da ciência pode admitir heranças genéticas ou
comportamentais, inscrita no cérebro ou nas células.
Em 1500 Cabral desembarcou Porto Seguro na
atual Bahia, implantou uma cruz e realizou uma missa. Em 1501 André Gonçalves
desembarcou próximo a Touros no atual RN e implantou um marco. Em 1928 Carlo
Del Prete, aviador e militar italiano realizou o primeiro voo direto, sem
escalas, para o Brasil, chegando a Touros no RN. Há registros da presença
fenícia, e registros pré-históricos no território brasileiro, inclusive em
território norte-rio-grandense.
Momentos e objetivos diferentes, ações
diferenciadas. Portugueses implantaram uma cruz como marco de ocupação e
religiosidade. Portugueses construíram um forte com objetivos de defesa na foz
do Rio Potengi. Com atos de ocupação e destruição, os holandeses ocuparam o
forte e promoveram um massacre em Cunhaú.
Os hábitos e os atos se repetem. Uma
instituição educacional vinda de Recife gira a cidade de Natal em busca de
outras instituições, com certa dificuldade em se manter no mercado, para tentar
finalizar sua presença mercadológica e ocupar suas instalações, arrebanhando
seus alunos. O mesmo comportamento dos antigos holandeses, que procuravam
locais desguarnecidos de segurança para invadir e ocupar. Enquanto o produto de
maior valor era a cana de açúcar, na época da invasão holandesa, hoje o produto
de valor é o conhecimento, e uma nova invasão holandesa vem acontecendo.
Portugueses e holandeses continuam uma batalha na Avenida Roberto Freire.
Lembranças de arquétipos gravados em DNA.
Parte VIII (com uma visão de gaslighting)
Na história consta que o Brasil foi
descoberto, a visão dos que se consideraram descobridores, praticando um
encobrimento daqueles que aqui foram encontrados, dos seus hábitos e de sua
cultura. E seus habitantes nativos, verdadeiros donos da terra, foram catequizados.
Pois não reconheciam como religião o catolicismo. Tinham seus próprios deuses,
e adoravam deuses ligados e relacionados a fenômenos naturais e astros
celestes, já explicados pela ciência: estes não eram deuses, e não influenciava
o novo conhecimento, a ciência.
Para ofertar o reino dos céus, missões
jesuíticas chegaram ao novo território, para catequizar os nativos. Passado o
processo de catequização veio o processo de colonização, primeiro por Portugal
e Espanha, depois por Inglaterra, França e Holanda. O Brasil foi alvo de
exploradores, já que havia algo interessante para explorar.
O Brasil foi colonizado e explorado de seus
recursos naturais em prol de Coroas europeias, que em seu entendimento, sabiam
melhor usar e explorar os recursos minerais e vegetais, em seus
empreendimentos. Necessitavam de ouro e prata para confeccionar suas coroas,
moedas, e talheres; com pedras preciosas as suas joias. Com madeiras podiam
construir embarcações. “O traje majestático de D. Pedro II, com murça confeccionada
com penas de papo de tucano, e o manto bordado a ouro...” (fonte: Museu
Imperial de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro).
De bons fornecedores e produtores, passamos a
bons consumidores, quando matérias primas são exportadas voltando importados, como
produtos beneficiados (produtos secundários). Fatos que aconteceram com
produtos agrícolas e minerais, os produtos primários.
Outros países e outros povos foram originados
dos reinos da Europa, criando novos interesses e novos interessados no Brasil. E
o Brasil continua sendo explorado, agora como alvo de empresas, não mais com
seus recursos primários ou secundários. Mas com recursos chamados terciários,
onde estão incluídos os serviços, como serviços bancários e seguros; programas
e aplicativos para computadores e comunicações. Consomem-se ideias e negócios,
algo imaterial, que não se pode plantar e nem produzir em campos agrícolas ou
fabricas. É uma produção intelectual e imaterial, a partir daqueles antigos e
novos países. Mas campos agrícolas e fabricas, podem ser consumidores deste
novo produto, dos implementos agrícolas conectados à satélites, à fabricas
computadorizadas e robotizadas.
Das ultimais ideias internacionais surgem as
startups, com tecnologia e empreendedorismo. Ideias de que dão respostas
rápidas, resultados rápidos, podendo acompanhar seu crescimento e evolução, com
ajustes para que seus objetivos sejam alcançados, inovando e melhorando. E mais
um sistema de controle é implantado. E ideias enlouquecedoras vêm sendo
implantadas, algo que pode ser muito mais rápido de acontecer que a própria
imaginação.
O RN a esquina do continente vem ao longo da
história sendo um ponto estratégico para estrangeiros chegarem e usufruírem de
alguma maneira como um ponto geográfico de interesse. Natal serviu de escala
marítima importante quando não havia o canal do Panamá. Depois da Primeira
Guerra, Natal serviu de escala aérea quando os aviões ainda tinham pouca
autonomia. Serviu de trampolim para uma vitória na Segunda Guerra, A região
ainda hoje serve como ponto de lançamento de foguetes experimentais. Uma base
de lançamento de foguetes pode tornar-se facilmente uma base de mísseis. Basta
haver um interesse de algo, ou um alvo a proteger. E o Brasil vive em função de
hora ser algo e hora ser alvo.
O número de construções imobiliárias por
empreendimentos estrangeiros demonstra que ainda existe um grande interesse em
Natal/RN. Uma novela foi filmada na região, e Natal como cidade sede da Copa do
Mundo, colocou a cidade e a região em evidencia para países estrangeiros. Um
novo aeroporto e um novo estádio, agora chamado de arena, criam uma
acessibilidade ao modelo de exigência de imigrantes. VLTs e BRTs, modelos
importados, vão facilitar a mobilidade dos transportes de massa, com
acessibilidade urbana e climática. Trens e metros, BRTs e VLTs em outros
estados já utilizam linguagem internacional anunciando a próxima estação (next
stop). Uma komunikologia é utilizada em vagões e estações, terminais e linhas
alimentadoras.
A Grande Natal ou Região Metropolitana de Natal,
já sinaliza a implantação de VLTs e BRTs, e vem implantando estações de
transferência climatizadas. E um bullying de analises urbanas aponta brutais
diferenças, entre outras cidades e capitais. Coloca o estado e a cidade em
posições muito baixas no ranking da qualidade de vida.
O ponto geográfico é importante; a cidade é
interessante; o clima e as praias são agradáveis; mas a estrutura que a cidade
oferece não é satisfatória, uma visão de gaslighting. E a cidade vai
enlouquecendo na tentativa de criar modelos de atendimento aos novos
imigrantes. Metas utópicas, modelos de perfeição que nunca são alcançados;
haverá sempre algo mais a fazer. Nunca se chega a uma perfeição, para atender
aos principais clientes: os descobridores, os colonizadores, os imigrantes.
O navegadores que chegaram em caravelas,
agora chegam em aviões, da navegação marítima á navegação aérea com tripulação
no comando da travessia. E uma nova tripulação se prepara. Next stop Estação
Lunar.
Parte IX
(a visão antes de uma virada digital)
E o Brasil foi descoberto por navegadores
portugueses. No domínio da ciência; da engenharia, da medicina e do direito, é
tal como o jogo de bicho: “Vale o que está escrito”. Está escrito e descrito na
história, com cartas e documentos. O fato que aconteceu alguns anos depois de
Colombo e seus marinheiros, descobrirem a América. Por forças das
circunstancias ficamos na parte sul da América, a parte de baixo
(convencionalmente), prevalecendo nominalmente a descoberta de Colombo que
descobriu primeiro as terras. Quem chega primeiro domina o jogo. Como os
navegadores eram do sexo masculino, davam nomes femininos nas terras
descobertas. Da mesma forma acontece no texto bíblico, o homem é o desbravador
e o descobridor, quem está conectado com o Criador. E Adão chegou primeiro,
como Caim saiu primeiro, para chegar primeiro em algum lugar. Noé foi o
primeiro navegador.
Era assim que funcionava o mundo dividido
entre Portugal e Espanha. Uma disputa de descobertas, de caminhos e de terras,
em nome de reis católicos. Quem supostamente chegasse às índias ganharia o
suposto jogo. Mas chegaram a novos lugares, criando novos rumos na história.
Lugares para ocupar, povoar, explorar e defender. O Brasil foi descoberto antes
do marco da virada industrial, a virada econômica e mudanças no pensamento.
Pontos marcados pela Revolução Industrial e a Revolução Francesa que
aconteceriam na Europa, espalhando-se pelo mundo. E outros pontos podem ser
atribuídos ou diminuídos, das visões orientais e visões ocidentais.
Antes e depois. O mundo parece ter sido
sempre dividido em dois. Entre dias e noites, quentes e frias. Invernos e
verões, com Sol ou sem sol, dias de sol e dias de chuva. America do Norte e
America do Sul. No Brasil um rio grande no Norte e um rio grande no Sul, RN e RS.
Como dito anteriormente, Natal é dividido comumente em dois lados, o lado da
cidade e o lado da Zona Norte. E no lado da cidade, um dos lados é chamado de
zona Sul. Pontes de concreto dividem e separam uma situação abstrata. Enquanto
que o estado do RN é dividido popularmente entre Natal e interior.
Descobertos e descobridores. Funcionava
naquele momento do descobrimento um padrão admitido pelas duas partes
conquistadoras, como um acordo de cavalheiros: navegar e descobrir; desembarcar
e ocupar, escravizar e explorar. E talvez ainda funcione por um bom tempo,
entre aqueles que dominam e aqueles que são dominados. Norte e Sul, Leste e
Oeste. Desenvolvidos e subdesenvolvidos. Portugal e Espanha, EUA e URSS.
Partido de direita, e partido de esquerda, posição e oposição; inimigos e
aliados. Duvidas sobre os destinos acontecem entre o céu e a terra.
As incertezas de hoje não permitem uma
previsão, de novas divisões, e separações, as duas partes ainda não estão bem
definidas. Mas já foi definida anteriormente, em outros momentos históricos.
Definida na época dos descobrimentos, e nas épocas de Guerras Mundiais, quando
foram envolvidos países orientais e ocidentais, do hemisfério Norte e do
hemisfério Sul. Com tropas aliadas e tropas inimigas, disputando em uma linha
de tiro.
O crepúsculo e o amanhecer se confundem na
noite e no dia, ainda é preciso que as coisas tomem forma, e definam-se os
lados. No princípio era o caos, e Deus
criou o céu e a terra; a terra era sem forma e vazia; era preciso que houvesse
luz (Genesis), para separar as terras das águas e os dias das noites. Era
preciso dividir em duas partes no tempo (dia e noite) e no espaço (terras e
mares). Deus observou o antes e o depois, e viu que era bom. Ai foi possível
dar nomes as terras e aos oceanos.
Algo que é único, unitário, primeiro
divide-se em duas partes, divide-se em dois para depois chegarem outros que
almejaram uma das partes que coube a um dos lados, podendo brigar com atitudes
bélicas por novas participações e ocupações; ou pacificamente e amigavelmente
desfrutar de uma participação. No início era o caos. Deus separou as águas das
terras, definiu o dia e a noite; para depois o homem definir as horas, e os
hemisférios, latitudes e longitudes. Depois vieram os minutos e os segundos
referentes as horas e posicionamentos geográficos. Passo a passo as coisas se
repetem com o homem, repetindo tudo o que Deus fez. Separando e dividindo, como
uma visão cartesiana a partir de Descartes com uma cruz, definindo no gráfico,
lados positivos e negativos, acima e abaixo, a direita e a esquerda da origem.
E assim relata a história que foi escrita
pelos descobridores. Do ponto de vista de nascimento ou descobrimento. Brasil e
América foram descobertos ou nasceram em uma mesma época. As influencias da
dominação e da colonização é que tiveram maior importância para uma maturidade
de um novo país. Talvez tenha sido mais fácil fazer viagens entre Europa e
America, do que Entre Europa e Brasil. As viagens entre Europa e America
ocorriam (ocorrem) no mesmo hemisfério, ao passo que viagens entre Europa e
Brasil é necessário mudar de hemisfério, encontrando dificuldades de orientação
e navegação, com ventos e correntes marítima diferentes. Os hemisférios têm
circulação e predominâncias de ventos diferentes, tal como as correntes
marítimas. Navegadores devem ter avistado no céu uma cruz (Cruzeiro do Sul) e
seguiram um sinal no céu.
E do ponto de vista do que acontece hoje
ficamos como tal um filho caçula da Europa, um filho que merece cuidado e deve
obedecer a ordens. Ficamos classificados como o mundo subdesenvolvido diante o
mundo desenvolvido, o terceiro mundo diante do primeiro mundo. A eterna posição
do país em desenvolvimento.
A Europa que se considerava única tinha o mar
como algo medonho e perigoso, um caos indecifrável. Dividiram o mundo por uma
linha imaginaria e distante da Europa. Dividiram o mundo entre Portugal e
Espanha. E um Novo Mundo foi descoberto a partir de disputas oceânicas, com
navegações e ocupações. Inicialmente uma disputa não bélica entre duas partes,
Portugal e Espanha. Para depois chegar França, Holanda e Inglaterra, disputando
e participando do que foi descoberto. Influenciaram e incentivaram portugueses
e espanhóis para adentrar em mares nunca navegados. Os novos países criaram
novos navegadores: divididos entre piratas e corsários, com objetivos de
pilhagens e saques. Navegavam em nome de grupos constituídos e reconhecidos, em
nome de grupos não constituídos e não reconhecidos, com as mesmas atitudes
bélicas e de pirataria.
Final
A construção do Homo natalensis não
termina aqui. A cada manhã surge um novo homem em Natal, com novas ideias e
novas perspectivas de mudanças. A cada dia novas pessoas chegam e saem à cidade,
trazendo e levando, deixando e retirando ideias que provocam mudanças nos acontecimentos;
mudanças culturais e comportamentais. A cada instante chegam novas mensagens
pelos aparelhos de comunicação informando acontecimentos na casa do outro lado
da rua, ou do outro lado do mundo.
Natal é uma cidade de ventos e ideias
inconstantes, com iluminações variáveis no decorrer do dia, e no vai e vem das
nuvens. Assim como ventos e correntes marítimas mudaram os rumos das caravelas,
novos ventos e novas correntes vão mudando os rumos da informação e do
conhecimento, daqueles que estão assentados na esquina de um continente, na
cidade que lembra o renascimento, o resurgimento de pessoas e de ideias, a
cidade de natal.
Entre
Natal/RN e Parnamirim/RN 14-12-14
Roberto Cardoso
Desenvolvedor de Komunikologia
Sócio Efetivo do
IHGRN – Instituto Histórico e Geográfico do
Rio Grande do Norte e
INRG – Instituto Norte-Rio-Grandense de
Genealogia.