19/08/2021
Viva a insulina
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
“Uma noite eu tive a sede de um príncipe/depois a de um
rei/depois a de um império/a de um mundo/em fogo.” Eis os
primeiros versos do poema Diabetes, do poeta norte-americano
James Dickei (1920-1986), sobre essa doença de alta prevalência
no planeta, e que, no Brasil, afeta cerca de 17 milhões de seres
humanos. Deve-se ao médico da Grécia Antiga Arateu da
Capadócia uma das mais remotas referências à Diabetes mellitus: “Uma fusão de corpo e membros na urina”. Diabético, meu pai
contava para os filhos o começo da sua doença: “Quanto mais
água eu tomava, mais sede eu sentia, e quanto mais alimento eu
comia, mais magro ficava”. Suas palavras fazem lembrar as
descrições do médico Arateu e do poeta James Dickei. A Diabetes
é para mim doença bem conhecida, não como portador, mas como
envolvido espectador. É frustrante quando olhamos para a história da medicina e
vemos como era lenta a sua evolução. Durante séculos seguidos, os meios diagnósticos e as terapias avançavam muito devagar, com pouquíssimas exceções. Somente a partir do século 18, com o
florescer do método científico, a humanidade vislumbrou grandes
avanços na área médica e em outras áreas do conhecimento. Existem marcos desses avanços, a exemplo da adoção da
antissepsia, as descobertas da anestesia, das vacinas, dos
antibióticos e do raio x, além de vários outros. Porém, um dos
marcos dos avanços médicos de grande significação foi a
descoberta da insulina, evento que ocorreu 100 anos atrás, em
Toronto, no Canadá. Depois da terapia com esse hormônio, mormente de pessoas com Diabetes mellitus insulino dependentes, quantas vidas foram salvas, quantos enfermos ganharam outro
ânimo e quantos sorrisos voltaram às faces dos portadores dessa
disfunção metabólica, com ênfase para as crianças ou jovens e
seus familiares. Meu pai, Diogenes da Cunha Lima (1906-1972), passou a
receber insulina logo após esse medicamento ser comercializado. Morava em Nova Cruz-RN, e tomava três doses diárias de insulina
regular, conforme prescrição do seu médico, da cidade de João
Pessoa-PB. Aumentava ou diminuía a dosagem de acordo com o
nível da glicosúria, exame que ele mesmo fazia. Hoje, o paciente
dispõe de meios simples e mais precisos no controle da doença, essencial para evitar as complicações. Com seu médico, meu pai
aprendeu conceitos básicos da Diabetes, bem assim por leitura de
livros indicados pelo especialista. Contou com dois Anjos da
Guarda, o de nascença e minha mãe, sempre ao seu lado “na
saúde e na doença”. Nos 100 anos da descoberta da insulina, é hora de relembrar
quantos contribuíram para esse marco da medicina, especialmente
dos médicos Frederich Banting (1891-1941), John Macleod (1876- 1935) e Charles Best (1899-1978), além do bioquímico James
Collip (1892-1965). Banting e Macleod receberam o Nobel de
Medicina, em 1923, mas dividiram o Prêmio com os outros dois. Texto publicado na Tribuna do Norte, em 19/08/2021
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